O mês passado, fiz aqui um balanço muito pouco optimista do ano que agora terminou e dedicarei este meu último texto de uma longa colaboração com o Jornal de Leiria ao futuro de Portugal e dos portugueses, lamentando não poder ser mais optimista. Desde logo, porque enquanto os portugueses viverem na mentira e não souberem avaliar a realidade passada e as probabilidades futuras, não sairão da cepa torta.
A segunda razão para o pessimismo resulta de governo após governo, incluindo o actual, não se vislumbrar uma sombra de estratégia para o País e abundar a táctica política de circunstância, cujo fim essencial é iludir a realidade e enganar os portugueses com o objectivo da manutenção do poder e do enriquecimento das classes dirigentes e dos seus aliados no mundo dos negócios.
O último escândalo das leis feitas no maior secretismo para sacar mais dinheiro aos contribuintes para benefício dos partidos é a demonstração disso mesmo e se os portugueses deixam sem se revoltarem, depois dos fogos e de tudo o mais, que futuro poderemos esperar para Portugal?
O saudoso Henrique Medina Carreira ensinou-nos a olhar para as séries longas da economia e aconselhou-nos a não nos deixarmos enganar com as notícias e os dados de curto prazo.
Infelizmente, poucos aproveitaram a lição e aí andam todos contentes a festejar as temporárias circunstâncias da economia global como se a perda de tempo na definição estratégica e nas reformas necessárias não comprometesse a nossa posição relativa na competição com os outros países, aqueles que sabem o que andam a fazer.
[LER_MAIS] Finalmente, nenhum país pode progredir e desenvolver-se dirigido por um grupo de amigos e de familiares que não prezam a democracia e a transparência democrática e que tentam por todos os meios possíveis esconder os erros, as incompetências e a banalidade do seu pensamento.
De facto, Portugal, pouco a pouco, chegou ao ponto zero das potencialidades dos regimes democráticos, em que as oligarquias partidárias podem, à vez, escolher os deputados, os dirigentes das empresas públicas e algumas privadas, das autarquias e de muitas associações e controlam uma parte importante da informação que chega aos cidadãos.
Chegámos ao ponto de nem as decisões dos tribunais serem respeitadas, como aconteceu no caso exemplar da comissão de inquérito sobre os desmandos praticados na Caixa Geral de Depósitos. Que futuro para Portugal?
Digo-vos mais uma vez, um país governado de forma não democrática e transparente, sem estratégia, sem modelo económico e sem decência, para mais no mundo globalizado da competição, só pode empobrecer, que é exactamente o que aconteceu a Portugal nos últimos 20 anos.
Que os portugueses não se apercebam disso, nem com os estragos da governação do Partido Socialista de José Sócrates, é uma tragédia que não dá para aceitar. Só falta agora, depois da conversão do PCP e do Bloco de Esquerda, que o PSD escolha Pedro Santana Lopes para futuro primeiro ministro. Amém.
Empresário