Estamos no mês de falar sobre como era dantes, sobre como foi que tudo aconteceu, sobre como deveria ter continuado, sobre o que ainda não se fez, sobre o que foi mal feito, e sobre o tanto que se caminhou e o tanto que conquistámos até aqui chegarmos; e também de falar, e de ouvir falar todos os que desde o início foram protagonistas mais ou menos destacados de tantos momentos e acontecimentos relevantes, sejam eles nacionais, regionais, ou de pequenos grupos.
É o mês de Abril, de águas mil, e também de mil discursos tão diferentes como só depois desse outro festejado mês podem agora acontecer. Seja qual for o conteúdo, e por muito que alguns conteúdos nos possam fazer pensar no que não se deseja que volte a acontecer, a simples possibilidade de existir tal diversidade garante-nos que há 50 anos algo transformador aconteceu e que, todos, de uma ponta à outra do espectro político, devemos ter disso uma plena e muito grata consciência, que nos obrigue a cuidar seriamente desse legado.
Podemos discutir sobre mil e uma coisas, divergir em relação a outras tantas, agitar bandeiras que uns adoram e outros detestam, podemos até, lamentavelmente, confundir liberdade com desrespeito, mas o que nunca se poderá fazer é menorizar, seja de que forma for, o que há 50 anos nos permitiu podermos fazer tudo isso, agora. Temos de lembrar que não foi sempre assim, saber que pode voltar a ser como já foi, e cuidar deste bem maior que nos tem servido de chão comum. Porque a Democracia pode não ser eterna, já que em si própria contém a possibilidade da sua destruição.
Ancorada na garantia de que todos os discursos são permitidos e de que cada cidadão pode e deve escolher em total liberdade, a democracia permite, portanto, a possibilidade das escolhas perigosas que a médio prazo poderão vir a resultar no que a esmagadora maioria não quer. Para que uma sociedade livre e democrática se informe e escolha são necessárias a divergência de ideias e a consequente discussão política, mas não podemos deixar que se transformem em guerra aberta onde os argumentos intelectualmente desonestos, a aldrabice, e a mentira possam servir como base para essa escolha. O respeito pelo direito a ideias contrárias e o desprezo pelo sensacionalismo deveria obrigar-nos a todos.
Depois de se terem passado mais de 40 anos desde que fomos deixando de nos ver, reuniram-se uma boa parte dos “filhos” dos 16 andares do nosso prédio, lugar de mil memórias de infância, adolescência e juventude. O recente reencontro, numa gloriosa tarde de abraços e beijos, fundou-se nessa história comum, nesse legado precioso, nessa memória fundadora e indestrutível. Falou-se das memórias e do percurso de vida de cada um; do que já fizemos, do que fazemos, e dos projectos que nos entusiasmam.
Queremos construir um futuro para este grupo porque sabemos que somos importantes uns para os outros, e que ganhamos em diversidade e amizade. E todos sabemos que, alinhados uns ao lado dos outros, cobriríamos absolutamente todo o espectro político. Esta é a minha história, mas poderia bem ser a de todos nós.