A região de Leiria tem vindo a assistir, nos últimos anos, a uma quebra na produção de mel, mas esse problema, explicam os apicultores, está a mascarar a questão mais séria e basilar que, no extremo, poderá levar ao colapso da produção agrícola e dos ecossistemas.
“Pior do que a quebra na produção de mel é a enorme mortandade de abelhas. Sem elas, não há colheitas!”, afirma Anabela Mendes, membro da direcção da Associação dos Apicultores da Região de Leiria, Ribatejo e Oeste.
“A maior valia económica das abelhas é a acção de polinização e o impacto que têm na agricultura. Com a sua ausência, o prejuízo não é só para os apicultores, mas para os agricultores de toda a região”, resume a responsável.
A explicação para o desaparecimento dos enxames não se prende com apenas um, mas com diversos factores.
Doenças, como o parasita varroa, os ataques de vespa asiática, os fogos que têm assolado a região e destruído a floresta autóctone e a utilização de pesticidas na agricultura, são alguns, mas as alterações climáticas também têm impacto.
As variações extremas de temperatura, períodos de seca e chuvas irregulares afectam a floração das plantas e, consequentemente, a disponibilidade de néctar, que serve de alimento para as abelhas. “O coberto vegetal é muito menos abundante do que era há dez anos.
[LER_MAIS]Embora a região não tenha grandes apicultores, já que a maioria são amadores, em 1999, era reconhecida como um dos principais produtores de mel da floresta litoral. Agora, encontra-se muito pouco mel desse”, refere Anabela Mendes.
“Nos últimos sete anos, desapareceram dez mil colónias. Morreram e os apicultores encerraram. Deixar de ver abelhas nas culturas, é um alarme a soar muito alto”, alerta.
Embora se assista a um cenário onde o desânimo leva muitos a desistir da actividade, a associação continuar a formar novos apicultores, havendo jovens que se estão a iniciar na arte.
Contudo, se a apicultura, que é a responsável por uma boa ou má colheita no sector agrícola, se mantiver no fim da lista das actividades que recebem apoios comunitários, o futuro não augura nada de bom.
Preferir mel nacional
Alguns municípios da região estão a ser pioneiros nas ajudas à apicultura, respondendo aos apelos das associações de apicultores.
Ourém já abriu uma linha de apoio e Leiria está a fornecer armadilhas para a vespa velutina e a avançar com outras iniciativas.
Os apicultores tentam aumentar os efectivos, mas os consumidores podem ajudar optando por mel com selo português, em produtores locais, e podem incentivar os municípios e empresas a apoiar as associações de apicultores.