Acompanhada ao piano pela musicoterapeuta Helena Brites, Geuza Pirola esquece, por momentos, as dores nas articulações, provocadas pela doença de Lúpus, que a levaram, há cerca de um ano, à consulta da dor do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), encaminhada pelo médico de família. Foi aí que teve o primeiro contacto com a musicoterapia e foi também aí que, na passada quinta-feira, voltou a cantar em público, inserida num mini-concerto que juntou doentes e alguns familiares e profissionais da Unidade da Dor do CHL.
A iniciativa decorreu no âmbito do projecto Dói Menor, um programa de musicoterapia com pessoas com dor crónica dinamizado pela SAMP – Sociedade Artística e Musical dos Pousos.
“Costumo dizer que queria morar dentro do gabinete da musicoterapia. A música é tão gostosa, tão empolgante, que nos faz sentir melhor, a querer que ali fosse o nosso quarto”, confessa Geuza Pirola, natural do Brasil e a viver há 15 anos em Portugal, que se socorre de um provérbio português para resumir o impacto que a musicoterapia tem na luta que trava contra a dor. “Em Portugal dizem que quem canta seus males espanta. É mesmo isso. A cada sessão, saio aliviada.” Amélia Duarte sabe bem do que fala Geuza Pirola.
Encostada à parede do corredor do hospital, “cheia de dores – só os olhos não doem”–, conta que sofre de fibriomialgia e que encontrou na música uma forma de minimizar a dor. “Não cura, mas alivia”. É assim a cada sessão de musicoterapia proporcionada pelo projecto Dói Menor, mas também em cada ensaio e actuação do Grupo Cantar de Amigos, que integra doentes da Unidade de Tratamento de Dor e familiares.
Amélia, que chegou a cantar no Rancho Folclórico da Região de Leiria, empresta a voz ao projecto, enquanto o marido, antigo fadista, junta também a guitarra. Criado há quase dez anos, o grupo é constituído por cerca de 15 elementos. Ensaiam na SAMP e fazem algumas actuações “no hospital e em lares de idosos”, conta António Duarte, marido de Amélia, explicando que o seu envolvimento no projecto resultou de “uma brincadeira” numa das sessões de musicoterapia, onde estava a acompanhar a mulher e pediu a guitarra para “tocar um pouco”.
“Ela é a doente. Eu acompanho-a. E, como tenho a mania que sei cantar e tocar umas coisas, junto o útil ao agradável. A idade – que se lixe a idade – já vai tirando algumas faculdades, mas fazemos o que podemos. Como diz a música, enquanto a voz não me doer, vou cantando”, afiança António Duarte, que se emociona ao recordar os seus tempos de fadista.
Dinamizado pela SAMP, com apoio da Câmara de Leiria e do CHL, o projecto Dói Menor pretende melhorar a qualidade de vida e reduzir os níveis de dor dos utentes, mas também “aliviar o sofrimento” daqueles que convivem no dia a dia com estes doentes. As sessões são semanais e realizadas por uma dupla de musicoterapeuta e co-terapeuta.