“Olha, olha, olha.” O barulho dos motores chama a atenção. As memórias de outros tempos, as consequências da guerra e até as cusquices ficam, por instantes, em suspenso. “Este é da terra, é o Manel Alves e o Tó Luís”, alguém grita no meio da multidão. O piloto faz da curva apertada palco para um pião antes de voltar ao percurso. O público aplaude e assobia com a felicidade de quem vê amigos a dar espectáculo. “Para nós já ganhou”, atiram.
Os líderes já passaram há muito, os carros vão rompendo a curva a conta-gotas, mas o ânimo não esmorece. A rodear a barraquinha de cerveja, colados às fitas ou perdidos pelas dunas, há milhares de pessoas a viver o Rallye Vidreiro. Muitos não dispensam as míticas geleiras que guardam o ‘combustível’ da tarde, alguns aventuraram-se com mesas e há quem carregue cadeiras. É o cenário das primeiras horas que se replica um pouco por todo o percurso, ao longo de dois dias dedicados ao desporto automóvel.
“Anda aí o nosso campeão Armindo, o Ernesto, o Rafael, o Marco, a Ana, o Figueiroa, o Seiça”, vão contando, orgulhosos, aos forasteiros que se atrevem a perguntar quem são os pilotos da Marinha Grande. A lista vai crescendo e há outros tantos da região.
Falam das equipas, analisam os centímetros a que passaram dos ‘rails’ de segurança e até ripostam que “alguns carros quase param e estacionam” para fazer a curva. “Até o João Colaço fazia isto mais depressa”, dizem. E o ultramaratonista da terra ri-se: “não há nada que não se faça e nalguns pontos se calhar até é mais fácil a pé do que de carro”.
Fã (também) deste tipo de corridas, conta que “isto já é uma tradição porque qualquer pessoa da Marinha Grande está sempre ansiosa para que chegue o rali”. “Mais do que a competição, isto gera um convívio social e todos os amantes da velocidade e dos automóveis vão nessa onda”, afirma.
O nevoeiro começa a ‘cair’ e todos vestem os casacos, menos o Fred, “como se não soubesse ao que vinha”. “Isto é sempre assim, significa que está na hora de ir para a super-especial”, atira o José Ângelo que veio ver o irmão.
Passa o último carro, fecham a barraquinha e distribuem os croquetes e os pastéis de bacalhau que sobraram. De sorriso rasgado e barriga satisfeita, fazem-se à estrada.
“As pessoas vivem isto, nota-se que esta prova é muito importante para a economia da região e para a comunidade”, comenta o vereador João Brito, que também segue para a festa, na certeza de que “este evento é para manter”.
Organizado pelo Clube Automóvel da Marinha Grande com o apoio do município, o Rallye Vidreiro esteve em risco de não se realizar por falta de verbas, mas foi garantido com o apoio de privados.
A edição, que registou 82 equipas inscritas, arrancou e terminou em São Pedro de Moel, contou com uma super-especial com festa na cidade da Marinha Grande e acelerou pelas estradas da região com passagens em Alvaiázere, Maçãs de Dona Maria e Amor, no concelho de Leiria.
João Pedro Fontes e Inês Ponte são os vencedores
José Pedro Fontes e Inês Ponte repetiram a festa de outros anos ao vencerem o Rallye Vidreiro, garantindo o segundo lugar nacional.
A ‘acelerar em casa’ e ao volante de um Skoda, o piloto Armindo Araújo e o navegador Luís Ramalho fizeram a festa do título nacional e só não festejaram a conquista desta última prova do campeonato devido a uma penalização.
Na categoria duas rodas motrizes, a vitória foi celebrada por Ricardo Sousa e Luís Marques.
Rafael Cardeira, piloto da Marinha Grande, festejou o segundo lugar da prova e mais um pódio nacional.
No FPAK Júnior Team, a conquista foi assinada por Gonçalo Henriques e António Santos.