PUBLICIDADE
Está a tornar-se maior, o fosso que separa os mais jovens da tradição que os precede. E o que o Rancho da Região de Leiria (RRL) preserva, desde há 60 anos, existe cada vez menos.
“Começamos a conviver com uma geração que não sentiu esses usos e costumes. Gerações jovens que nunca vão ter quem lhes conte, porque também já serão poucos os que viveram esse tempo antigo”, comenta a presidente do RRL, Sandra Vaz.
Em contagem decrescente para a gala do 60.º aniversário, que se realiza no próximo sábado, 18 de Março, no Teatro José Lúcio da Silva, o RRL continua a defender a missão de “devolver ao povo, aquilo que o povo ensinou”.
“Foi no meio do povo que foram registadas música, cantos, rezas, vivências. E há que tirar do papel os registos que foram feitos, e trazê-los para o palco, para as exposições, editar em livro, em CD… não guardar na gaveta”, refere a dirigente, com exemplos concretos.
“Este ano quisemos fazer uma aproximação às escolas, para deixar sementes, que esperamos colher no futuro”. Daí a colaboração com o Instituto Jovens Músicos ou com a classe de dança do Orfeão de Leiria. “Que, tendo a dança clássica como base, veio aprender a raiz”.
Património precisa de espaço
No espólio à guarda do Rancho da Região de Leiria, destaca-se a recolha de trajes originais, com mais de 100 anos. “Aberta a quem por bem deseje pesquisar, fazer cópia para perpetuar os usos de outrora”, sublinha Sandra Vaz. “Peças únicas, como uma incalculável colecção de lenços”. E também o cancioneiro: “Uma recolha das melhores e mais completas da Alta Estremadura”.
É um património que, segundo a presidente do RRL, “merece as melhores condições de conservação e preservação”, mas, as que existem, deixam por cumprir alguns requisitos. “Com a cedência do espaço que actualmente ocupamos, pela União de Freguesias Marrazes e Barosa (UFMB), conseguimos algumas condições físicas, mas não ainda as desejáveis”.
“Frequentemente nos vão sendo cedidas mais peças museológicas, e o espaço vai se tornando mais curto”, explica ao JORNAL DE LEIRIA.
“Estamos a fazer obras de manutenção ao edifício, e pensamos em avançar com a adaptação de um outro espaço anexo, para poder albergar todas essas dádivas. Nesse sentido, temos contado com o apoio da UFMB. Sendo uma associação sem fins lucrativos, e de utilidade pública, todo o trabalho que fazemos durante o ano reverte para essa conservação, e adaptação em novos trajes. Também recorremos às várias candidaturas existentes e apoios de outros parceiros culturais como a Câmara e o Inatel”.
Dois festivais por ano
O Rancho da Região de Leiria conta actualmente com 50 elementos, com idades dos 11 aos 80.
Alguns membros participaram, recentemente, nas gravações da série O Crime do Padre Amaro, realizada por Leonel Vieira, exibida pela RTP.
Além do Festival de Folclore da Cidade de Leiria, o RRL organiza ainda, todos os anos, o Festival de Folclore Manuel Artur Santos, que tem o nome do fundador, e integra a Mostra do Trajo da Alta Estremadura.
Também popular, tem sido a participação do RRL, com “uma grande taberna, sempre muito procurada”, nas recriações históricas Leiria Há 100 Anos.
Em 2023, está já confirmada a presença em mais de uma dezena de ventos, incluindo o festival de poesia Ronda, em Leiria.
Um fim-de-semana em festa
No próximo sábado, o Teatro José Lúcio da Silva recebe a Gala do 60.º Aniversário do Rancho da Região de Leiria, com a participação do Orfeão de Leiria, do Adesbachorus, do Instituto Jovens Músicos, da companhia de teatro Te-Ato, da escola de dança noRITMO, da Trovantina e do grupo de música tradicional Luzia.
“Será uma noite de interacção entre diferentes artes de palco, que nos vão presentear com a sua forma própria de interpretar o nosso cancioneiro”, adianta Sandra Vaz.
A celebração do 60.º aniversário acontece no domingo, 19 de Março. Pelas 10 horas, na Igreja de Pinheiros, Leiria, realiza-se uma missa por alma dos fundadores e elementos já falecidos, seguindo-se uma romagem ao cemitério. Às 13 horas, haverá um almoço convívio entre actuais membros, familiares e antigos elementos.
Formado em 1963, pela Comissão de Turismo Rota do Sol, o Rancho da Região de Leiria surge com o intuito de recolher, preservar e divulgar a cultura leiriense e mantém-se em actividade sem interrupções até hoje.
