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Raquel Gaspar: “Quero reinventar a forma como cuidamos do mar”

admin por admin
Julho 14, 2022
em Entrevista
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Raquel Gaspar: “Quero reinventar a forma como cuidamos do mar”
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Na semana passada, Portugal acolheu a Conferência dos Oceanos, onde foi debatida a preservação do mar, mas também as oportunidades da sua exploração. Quais acredita terem sido as mais reveladoras lá faladas?
Revelador é olhar para as coisas como se fosse a primeira vez, sem dúvida que o que gostaria de partilhar é a nova visão da relação da economia com natureza que quebra o paradigma atual do mercado bolsista: criar valor a conservar e restaurar a natureza em vez de a explorar. Carlos Duarte, um dos mais conceituados investigadores na área marinha, está a desenvolver um trabalho com o economista Ralph Chami do Fundo Monetário Internacional para criar valor no mercado da bolsa para uma baleia, como já se faz com os elefantes, no Congo. Este economista estimou que uma baleia viva vale 2 milhões de dólares, todas as baleias do planeta valem mais de 1 trilião de dólares, pelos serviços que nos prestam, por exemplo, como dispersores de nutrientes para a cadeia alimentar marinha, pela enorme quantidade de carbono que capturam e por suportarem o turismo. Mais, cada cria de uma baleia é considerada como um dividendo. O aspecto mais inovador desta ideia é que as acções são algo meramente especulativo não são palpáveis. Mas uma baleia existe! A ideia é que o accionista passará a investir no mercado da conservação da vida marinha, em vez de na sua exploração, como os mercados da pesca, petró- leo ou minérios. Para mim, esta ideia terá um impacto muito mais fulminante para o restauro do oceano e poderá inclusive, ajudar a alavancar um dos principais obstáculos que hoje dificultam a implementação de metas percentuais para protecção do mar. Ao dar valor económico à natureza prístina, as mudanças comportamentais dos vários sectores serão mais fáceis, facilitando a implementação efectiva das áreas marinhas protegidas.

Fala-se muito no papel potencial que os oceanos poderão ter no futuro da Humanidade no planeta. De um ponto de vista prático, estamos a falar do quê?
O que estão as pessoas dispostas a fazer para que não lhes falte o oxigénio no ar que respiram? Mais de metade do oxigénio que respiramos é produzido no mar, produzido pelo fitoplâncton, que são algas microscópicas. É também produzido pelas pradarias marinhas e por outras plantas, como os mangais. Vivemos num improviso de estações, com fogos de dimensões gigantes e falta de água, mas o oceano foi quem captou mais de 90% do calor produzido nos 50 anos, devido ao excesso de dióxido de carbono libertado pelas nossas actividades. Por isso, hoje, a água do mar está quente e ácida. A água do mar é [LER_MAIS]como o nosso corpo, pequenas décimas de variação de temperatura podem criar “febre” e isso traduz-se em tempestades ou até em fogos, correntes quentes que queimam as florestas marinhas. As ostras, os búzios e os corais têm dificuldade em viver por o carbonato de cálcio das suas conchas dissolver-se com o pH mais ácido do mar de hoje. Setenta e dois por cento do nosso corpo é constituído por água. O grande reservatório da água que bebemos da torneira é o oceano. Mas a água do mar está suja.

Qual é a importância das pradarias marinhas, no sequestro do carbono, elemento potenciador das alterações climáticas?
Elas são um dos sistemas naturais que têm a maior custódia dos reservatórios de carbono na Terra e por isso essenciais no combate às alterações climáticas. Isto resulta do facto de serem um dos mais eficientes “sumidouros” naturais de carbono, facto que o investigador Carlos Duarte e a sua equipa têm vindo a demonstrar: a maior parte do carbono está armazenado no fundo do mar, as pradarias marinhas ocupam 0,2% do fundo marinho, mas todos os anos, são responsáveis por 10% do sequestro de carbono no oceano. As pradarias funcionam como o muro de uma barragem que sustém a água. Uma vez destruído, essa água provoca também ela destruição. Quando se remove uma coisa que funciona muito bem, todo o benefício transforma-se num grande malefício. Quando as pradarias são destruídas todo o carbono que elas guardam voltará à atmosfera e perdemos também todos os serviços que elas nos dão.

É uma área inferior à da totalidade das florestas à superfície?
Sim, os investigadores estimam que a área das pradarias marinhas no planeta seja apenas o equivalente 0,05% da biomassa das plantas terrestres, no entanto, são 30% mais eficientes a capturar carbono do que as florestas terrestres. Temos a ideia que são as florestas que capturam o carbono, o Roteiro para a Neutralidade Carbónica de Portugal não considera os sistemas marinhos (sapais e pradarias) de carbono azul. Um dos trabalhos que me orgulho de ter liderado na Ocean Alive foi o de promover o reconhecimento das pradarias marinhas como sumidouros naturais, envolver cientistas e Governo. Hoje as pradarias marinhas estão incluídas na Lei do Clima de Portugal, nas metas de sequestro e de stock de carbono, no nosso compromisso com as gerações futuras.

Como é o processo de captura de carbono pelas pradarias marinhas?
As plantas marinhas que têm uma altura de um palmo ou de uma criança, são mais eficientes do que um pinheiro. O segredo não está em acumular carbono da fotossíntese nas folhas e no tronco e raízes, como faz a árvore, mas sim em enterrar, no fundo marinho, o carbono, que está na forma de matéria orgânica – restos de animais e plantas. Nas plantas marinhas, só 20% do carbono capturado na fotossíntese é que fica no corpo da planta, 80% é enterrado no sedimento marinho. Numa árvore, quase todo o carbono fica no seu corpo.

Qual é, então, o estado de saúde destas pradarias a nível global? E como estão as que existem no estuário do Rio Sado?
Desde o arranque da Revolução Industrial que houve um enorme declínio das pradarias, a nível mundial. No Reino Unido, por exemplo, um estudo publicado recentemente mostrou uma perda de 92% das pradarias. Porém, um estudo liderado pela investigadora Carmen de Los Santos, mostrou que a partir da década de 80, houve uma inversão nesta tendência, o que resulta, sobretudo, da melhoria da qualidade da água, o que advém de directivas europeias. Este estudo espelha o que tenho visto desde a minha infância. Recordo-me como era o Rio Lis na minha juventude e como ele é hoje…perdemos muito, embora a qualidade da água esteja melhor hoje, este é um dos maiores desafios da nossa sociedade e é o factor que mais afecta as pradarias marinhas. A água suja tira a luz às plantas e o excesso de nitratos cria o fenómeno de eutrofização, que retira oxigénio às plantas. As boas notícias são que, com a melhoria da qualidade da água, através da utilização e melhoramentos nas ETAR, se tem assistido à recuperação das pradarias em muitos locais na Europa. Elas existem nos estuários, nas zonas abrigadas e nas lagoas, e esses são os sítios onde há mais pesca, mais pessoas, portos e indústria e para onde escoam também os efluentes da agricultura. Todos estes impactos destruíram grande parte das pradarias marinhas que havia no planeta. Até há pouco, dizia-se que, em todo o mundo, perdíamos o equivalente a dois campos de futebol por hora. Em Portugal, também se verificou um acentuado declínio. No estuário do Sado, onde trabalho, pelo que me foi contado pelas pescadoras, havia uma área muito extensa como se fosse uma só pradaria. Era uma área que se espalhava por todos os baixios. Hoje, existem menos de 30 pequenas pradarias, totalizando uma área de apenas 150/200 hectares. O que temos hoje é muito pouco e não podemos perder uma única pradaria, pois estas são essenciais para reflorestar o mar.

Como correu, no dia 2, a acção da ONGD Ocean Alive, de que é co-fundadora e responsável, para chamar a atenção para a importância de uma das pradarias do Sado?
Lançámos uma recomendação ao Governo, antes da Conferência dos Oceanos, para a salvaguarda de uma das mais importantes pradarias marinhas portuguesas, a pradaria de Zostera marina da Ponta do Adoxe, que fica numa das praias mais conhecidas de Tróia, junto à marina. A equipa da investigadora Ester Serrão mostrou como esta pradaria funciona como um enorme banco de sementes, e as nossas observações indicam que a pradaria está a crescer, hoje tem uma área de cerca de quatro campos de futebol. Pretendemos chamar a atenção para a sua protecção e que seja incluída na Rede Natura 2000, a rede de sítios com protecção prioritária, para garantir a sustentabilidade e restauro dos habitats e da biodiversidade na Europa. Essa recomendação foi suportada pelo conhecimento de cientistas portugueses que estudam esta pradaria e por investigadores estrangeiros, mas o nosso trabalho, na Ocean Alive, foi mais além. Quando entregámos a documentação ao Governo, não só reunimos o suporte científico dos investigadores, como trabalhámos com as entidades locais para as sensibilizar e apoiar a sua acção através da implementação de novas normas de navegação e de actividades, como a pesca ou mariscagem na pradaria. Estiveram presentes a Agência Portuguesa do Ambiente, empresas, comunidade e especialistas internacionais de conservação das pradarias marinhas, que vieram à Conferência dos Oceanos. Demos voz à nossa equipa de Guardiãs do Mar e de biólogos marinhos e às entidades locais que fazem a proteção da natureza e gerem o porto e a navegação. Foi um momento fabuloso! Para algumas pessoas que representavam entidades, foi a primeira vez que conheceram as pradarias.

Como se incentiva e educa as populações costeiras, para a necessidade de ajudar a proteger o património marinho?
A palavra-chave é “envolver”. Acredito que as grandes transformações comportamentais têm por base a resiliência e o empenho de pessoas no terreno. Para que consigamos mudar as pessoas, é necessário envolvê-las, é necessário persistir, que a acção seja verdadeira e que o envolvimento tenha por base uma missão genuína, sem um interesse económico na raiz. Não há envolvimento se não dermos um papel activo quem pretendemos mudar. Vivo em missão. Isso significa não abandonar o barco.

Foi assim que nasceram as Guardiãs do Mar, mulheres da comunidade piscatória do estuário do Sado que colaboram com a Ocean Alive na protecção das “florestas marinhas”?
Precisamente. Cresci em Colmeias, uma aldeia do concelho de Leiria, numa terra longe do mar mas que me deu a visão de valorizar a sabedoria das pessoas do meio rural, cuja literacia é construída com a sua experiência. Foi assim que tive a ideia em criar as Guardiãs do Mar, criar novas profissões que dão um novo papel às pescadoras na protecção das pradarias, das quais elas dependem. Todo o pescado que vendem nasce, cresce, procura abrigo ou reproduz- -se nas pradarias. Mais pradarias significa mais abundância de pescado. As pescadoras trabalham como educadoras marinhas, divulgam as pradarias marinhas, como agentes de sensibilização, inspirando e mudando os comportamentos dos seus pares e como monitoras das pradarias, utilizam a sua sabedoria sobre a localização das pradarias para connosco, produzir conhecimento científico e mapeá-las. A forma como gostaria de continuar o meu percurso à frente da Ocean Alive é criar uma nova profissão em Portugal, a partir do exemplo das Guardiãs do Mar. Não podemos mais viver sem sapateiros nem quem nos arranja a torradeira. Da mesma forma que não podemos mais viver sem pessoas “que nos arranjam os habitats degradados.” A maior parte das profissões actuais, directa ou indirectamente explora a natureza. As novas profissões têm de catalisar o restauro dos habitats essenciais ao nosso bem-estar. Quero juntar-me àqueles que procuram soluções inovadoras, reinventar a forma como cuidamos do mar. Para mim, a mulher é a líder natural deste caminho.

Perfil
“Sou água do mar. Nos meus pulmões há uma floresta marinha”

Foi uma das personalidades que mais se destacaram em 2019 e 2020, na área do Ambiente em Portugal, ao ser uma das caras da luta contra as dragagens no estuário do rio Sado. Raquel Gaspar é natural de Colmeias, Leiria, bióloga marinha e co-fundadora da ONGD Ocean Alive, organização cujo trabalho no estuário do Sado, pela educação e envolvimento das comunidades costeiras.

“Vivi a minha juventude numa aldeia e, hoje, aos 52 anos, dou muito valor a poder olhas as coisas com consciência mas também com a liberdade da inocência da infância, de poder olhar para a natureza de uma forma ainda mais profunda, procurando saber quem sou. Neste processo de conhecimento, vejo que sou água do mar e nos meus pulmões vive uma floresta marinha! A maturidade que a vida nos dá, permite-nos, a cada dia, olhar para o mundo como se fora a primeira vez.”

Raquel estudou Biologia na Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa, e estagiou num estudo sobre os golfinhos do Sado, a que se seguiu um doutoramento sobre a dinâmica populacional destes mamíferos. Foi assim que nasceu o seu amor e compreensão dos mecanismos das pradarias marinhas.

“Para mim a beleza do mar eram as baleias e os golfinhos, aprendi que a beleza do mar são os habitats marinhos que dão vida àqueles animais tão emblemáticos”.

 
Etiquetas: ambientebióloga marinhaentrevistaocean aliveportugalRaquel Gasparsado
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