Depois de ter recebido obras de recuperação, entre 2018 e 2021, a Igreja de São Gião vai reabrir ao público com visitas guiadas. A partir de 11 de Maio, o Município da Nazaré vai iniciar um programa de visitas regulares a São Gião, que acontecerão às segundas quartas-feiras de cada mês, no período compreendido entre as 14:30 e as 15:30 horas.
“As visitas guiadas à Igreja de São Gião pretendem dar a conhecer a história de uma das mais antigas igrejas de Portugal através da explicação da sua cronologia histórica que, de acordo com os vários trabalhos de investigação ali realizados, revelou vestígios de ocupação humana desde o período romano [LER_MAIS]até ao século XVIII”, salienta a autarquia.
Os interessados devem inscrever-se por email ou telefone, sendo que o número máximo de participantes está fixado em 20 pessoas por visita. Manuel Sequeira, vereador da Cultura, diz ao JORNAL DE LEIRIA que, depois de uma longa batalha com a Direcção-Geral do Património Cultural, foi possível avançar com um investimento de 200 mil euros, que valoriza o espaço e permite a sua apreciação por parte da comunidade.
“Antes da pandemia, o Santuário da Nossa Senhora da Nazaré registava cerca de três milhões de visitas anuais. É um monumento que concentra grande interesse por parte dos turistas”, reconhece o autarca. Mas existem outros locais relevantes no concelho, nem todos do município, sobre os quais a câmara tem vindo a pressionar, para que sejam dignificados pelos seus responsáveis. A Igreja de São Gião foi um deles e o Museu Dr. Joaquim Manso, pertencente à Direcção Regional de Cultura do Centro, é outro que precisa de obras, exemplifica o vereador.
São Gião na lupa dos investigadores
Os trabalhos de Eduíno Borges Garcia, iniciados em 1962, a que ulteriormente se associou Fernando de Almeida, visaram a análise da arquitectura da Igreja de São Gião e dos elementos escultóricos ali encontrados, a par da caracterização de diversos achados arqueológicos, conduzindo à conclusão que se tratava de um templo visigótico, expõe a autarquia.
“O importante trabalho de Helmut Schlunk, de 1971, baseado naqueles estudos e na observação in loco do templo, conduziu à contextualização daqueles resultados nas práticas litúrgicas da época, salientando algumas particularidades arquitectónicas observadas e com elas directamente relacionadas”, prossegue a câmara.
Já a intervenção de Octávio da Veiga Ferreira abordou “a caracterização das faunas mamalógica e malacológica recolhidas, não deixando de relevar a importância das sepulturas encontradas na envolvente próxima do templo”.
A última intervenção arqueológica efectuada em São Gião, sob a direcção de Luís Fontes, realizada entre os anos de 2000 a 2005, no âmbito dos trabalhos preparatórios e de salvaguarda para a colocação de uma estrutura de escoramento e de uma protecção metálica que envolvia os edifícios, “resultou na análise da evolução arquitectónica do edifício, tendo-se identificado novos elementos, especialmente um edifício romano pré-existente que terá sido utilizado até o século V-VI, antecedendo a construção do templo”.
Os trabalhos de arqueologia ali realizados “permitem prever uma ocupação do local de São Gião, após o período muçulmano, desde o século XII até ao século XVIII, época em que terá sido encerrada a igreja ao culto, mas não o local de São Gião à utilização social e económica”, aponta ainda a autarquia.