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Recuperar o passado para potenciar o futuro. Foi a partir desta premissa que o Município de Porto de Mós colocou ‘mãos-à-obra’ para ver renascer a antiga Casa dos Calados, agora renomeada Real Factory – Porto de Mós Creative HUB.
Propõe-se que seja um espaço de criatividade e inovação, dedicado a empresas e às artes, enquanto coloca em exposição o passado da vila do Juncal, ligado à olaria, azulejaria e agricultura.
A inauguração foi emotiva para aqueles que viram, durante quase 30 anos, a Casa dos Calados transformar- se em ruínas. Outrora um edificado com grande movimento, como Real Fábrica do Juncal, passando depois para uma grande casa agrícola, nos anos 90 a Casa dos Calados foi deixada ao abandono.
Presente na inauguração, Maria Henriqueta Esperança recorda os momentos passados naquela casa durante a juventude. “Lembro-me dos animais, das alfaias agrícolas, do caseiro, lembro-me dessa azáfama toda”, comentou com o JORNAL DE LEIRIA.
Foi com uma grande “dor de alma” que viu a antiga Casa dos Calados a degradar-se, sentimento que deu lugar à felicidade depois de inaugurado o espaço, tendo cedido uma das peças em exposição. “Para a nossa terra, isto é património. Estou muito contente, orgulhosa e feliz”.
À medida que os presentes conheceram o espaço novo, Filomena Martins descrevia cada peça de cerâmica na exposição ‘Maneira do Juncal’. Licenciada em História e pós-graduada em Museologia, já em 2004 a juncalense tinha elaborado um projecto de requalificação da Casa dos Calados, propondo a sua transformação, precisamente, num museu.
Filomena e o marido, Júlio Martins, não escondem a “paixão especial pela cerâmica do Juncal”. O casal doou algumas das peças que fazem parte do espólio da exposição ‘Maneira do Juncal’, à semelhança de outros habitantes que reconheceram a importância das peças que guardavam em casa.
O neto dos antigos proprietários do edifício, Rafael Calado, foi o arquitecto responsável pela requalificação do edifício. Recordou os momentos que passou naquele lugar e toda a história familiar transmitida pelo pai. “Houve muita coisa que, durante este tempo, desapareceu da casa. Tenho essa tristeza comigo”.
Contudo, ao ver a Real Factory aberta ao público, confessou que a mágoa é praticamente esquecida. “Vejo o Juncal muito calmo e já o vi muito mais movimentado. Penso que isto vai começar a trazer pessoas e a movimentar [a freguesia].”
De portas abertas
Mais de um ano após o arranque das obras e depois do investimento de mais de 2 milhões de euros, a Real Factory – Porto de Mós Creative HUB foi inaugurada na última quinta-feira, 13 de Junho, e já está de portas abertas para quem pretende aproximar a ciência, tecnologia e criatividade aos costumes locais.
Jorge Vala, presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós, mostrou-se orgulhoso da obra agora terminada, que permite criar “condições para a instalação de novas empresas, empreendedores, criativos e investigadores”.
Além do espaço museológico, a Real Factory – Porto de Mós Creative HUB dispõe de espaços destinados às actividades criativas, com residências artísticas, áreas para cowork e ateliers para ofícios como a cerâmica e o junco.
O projecto contempla a transformação do antigo lagar num FoodLab (laboratório alimentar), espaços dedicados a empresas e um salão nobre. “Um espaço que irá permitir fixar jovens talentos do concelho, que potenciará os que pretendam criar o seu negócio, constituindo um importante reforço da rede de oferta de oportunidades que habitualmente apenas os grandes centros urbanos oferecem”, descreveu o autarca portomosense.
A presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), Isabel Damasceno, destacou a “criatividade” envolvida em todas as fases do projecto, lembrando a aquisição do edifício, em 2002, decisão tomada pelo então presidente de câmara José Ferreira.
“Quando isto foi comprado, há 22 anos, estava ainda a ser prioritário na vida dos autarcas projectos de saneamento básico, escolas, saúde, entre outros. Portanto, estar a comprar isto, que não se encaixava em nenhuma destas características, era um acto ousado”, considerou.
A Real Factory – Porto de Mós Creative HUB teve um financiamento superior a 2 milhões de euros, comparticipado em 85% pelo Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional (FEDER). Este centro de instalação empresarial pretende “a troca de experências, o empreendedorismo qualificativo e criativo”, estabeleceu também Jorge Vala.
