Sua Santidade/ Um dia nós
saímos em liberdade/ Mostre a
bonança após a tempestade/
Esperança, amor, vontade/
Laços, irmandade/Abraça a
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Refrão de rap ao Papa escrito por reclusos
Foi em forma de rap que os reclusos do Estabelecimento Prisional de Leiria – Jovens (EOLJ) convidaram o Papa a visitar a cadeia no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). A agenda não o permitiu, mas o encontro acabou por acontecer, para um grupo de cinco reclusos que rezaram com o Papa na Capelinha das Aparições, juntamente com 110 jovens com deficiência.
“Foi uma experiência única e emocionante”, descreve Ricardo, que “jamais” esquecerá o silêncio que se viveu quando Francisco entrou na Capelinha e rezou “com Nossa Senhora”, assim como quando uma das jovens com deficiência recitou parte do terço. “Na sua dificuldade em falar, rezou. Foi tocante”, conta o recluso, que se assume como “católico e crente” e que participa nas actividades do grupo de voluntários Samaritanos, que faz acompanhamento religioso nas prisões de Leiria.
Por seu lado, Ivan fala da “paz” que sentiu enquanto esteve com Francisco, confessando que gostaria de lhe ter pedido a bênção, para que “não volte a ir por caminhos errados”. “Eu pedia pela minha família, pela minha avó e pela minha mãe”, diz Wilson, que revela que foi nelas que pensou enquanto esteve na Capelinha. “Sei que ficaram felizes por mim”.
Já Ricardo conta que, se tivesse oportunidade de falar com Francisco, lhe daria “os parabéns pela forma como está a tentar inovar a Igreja, com menos preconceito e uma mentalidade mais aberta”. “Gostava tanto que a Igreja fosse mais assim”, reforça o jovem recluso, para quem “faz todo o sentido” o apelo do Papa à inclusão de “todos”.
Joana Patuleia, directora do EPLJ, explica que o grupo de jovens – do qual fez também parte Júlio e Dmytro, que falam de um momento “marcante” – foi escolhido tendo em conta a sua religiosidade e a sua situação prisional. “São crentes e participaram nas actividades promovidas pelos Samaritanos. E estão em regime aberto ao exterior”, refere.
“Disse-me que tinha um sorriso bonito”
A par dos reclusos, na Capelinha das Aparições estiveram jovens com de- ciência. Elisabete Gabriel foi uma delas. Ainda a refazer-se da emoção contou, no final da cerimónia, que perguntou ao Papa “se estava bem”.
“Tive de dizer duas vezes, porque não ouviu à primeira. Disse-me que eu tinha um sorriso bonito”, revela a jovem, que integrou o grupo de 13 jovens com deficiência do programa Vem para o meio, promovido pelo Santuário de Fátima e operacionalizado pela congregação Silenciosos Operários da Cruz, que participaram na JMJ e que estiveram com o Papa na Cova da Iria.
Quem também essa oportunidade foi Leonardo Ribeiro, de 12 anos, umas das duas crianças, filhas de dois funcionários do Santuário, que também estiveram com o Papa. “Foi único. Será um momento que vou guardar para toda a minha vida. Quase parecia que estava com Deus”, relatou o rapaz aos pais, a quem confessou que ficou surpreendido com a resistência de Francisco. “Está a ficar velhinho, treme das mãos e, com tanta volta que dá e tantas pessoas, deve estar cansado. Mas mesmo assim sorri para todos”.