O último dia 13 de Janeiro vai ficar gravado, “para sempre”, na vida de Sérgio Ribeiro. Foi o dia em que, depois de meses com uma dor no peito e na garganta, decidiu ir à urgência do hospital de Leiria. O diagnóstico foi “inesperado”. Tinha de fazer um cateterismo, porque havia uma artéria que estava “praticamente” tapada e, a qualquer momento, podia sofrer um enfarte.
“Nunca associei aquela dor a um eventual problema cardíaco. Tinha apenas 46 anos, era saudável e cuidadoso com a alimentação e praticava desporto, embora fumasse”, conta.
Depois do susto, Sérgio Ribeiro frequenta agora o programa de reabilitação cardíaca do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), criado para promover a recuperação para um estilo de vida saudável de doentes que sofram um enfarte do miocárdio.
O objectivo é dar “ferramentas” a esses pacientes, através de sessões educativas e de treino físico, de forma a evitar um segundo evento cardíaco.
“Os dados revelam que pessoas com alto risco têm um risco superior a 15% de, nos dez anos seguintes, sofrerem um segundo enfarte e morrerem de doença cardíaca”, nota Alexandre Antunes, cardiologista que coordena o programa.
[LER_MAIS] Face à dureza das estatísticas, a palavra de ordem é intervir no sentido de “diminuir os riscos”, oferecendo um conjunto de informação ao doente para que “perceba o que pode esperar e como se deve comportar”.
É, precisamente, a isso que se propõe aquele programa de reabilitação, criado em Setembro último e o “único” existente em toda a região Centro. Com sessões bi-semanais, o programa prolonga-se por 12 semanas, ao longo das quais os utentes frequentam 'aulas' de educação para a saúde, onde são abordadas temas como a alimentação, exercício físico, diabetes, cessação tabágica, disfunção eréctil e enfarte.
[LER_MAIS] Os doentes podem ainda ser encaminhados para outras especialidades, em função das suas comorbilidades, num trabalho “multidisciplinar” que envolve áreas como a pneumologia, endocrinologia, urologia ou psiquiatria.
As sessões educativas são depois complementas com treino físico, que visa o “recondicionamento ao esforço”, para que os doentes tenham “o hábito de fazer exercido em segurança, conhecendo os sintomas e a intensidade do esforço”, explica a fisiatra Filipa Januário.
Esta parte do programa contempla avaliação dos sinais vitais e da glicemia, aquecimento, sessão anaeróbica com passadeira e bicicleta, fortalecimento muscular e relaxamento.
Alexandre Antunes nota que, em muitos casos, quem sofre um enfarte deixa de fazer exercício com receio de um eventual segundo evento.
“As pessoas podem continuar a praticar desporto, mas com regras”, frisa o cardiologista, reconhecendo que, ao recuperar de um enfarte, o doente sente que recebeu “uma nova oportunidade” e está mais receptivo a fazer correcções e a seguir um estilo de vida saudável.
Foi isso que aconteceu quer com Sérgio Ribeiro, que deixou de fumar e retirou da ementa os fritos e a carne de porco, quer com José Ramos, de 61 anos, que sofreu um enfarte em Novembro último.
“Propus-me a fazer o programa e tem valido a pena. Não fazia qualquer exercício e hoje já consigo fazer caminhadas diárias de quatro ou cinco quilómetros”, conta José Ramos, revelando que deixou fumar e que se sente “muito mais tranquilo”.
“As estatísticas são duras. Hoje sei que, em cada três pessoas que têm um enfarte, safa-se uma. Eu safei-me. Alguém me pôs a mão a proteger.”