Dez meses após Leiria ficar fora da corrida a Capital Europeia da Cultura 2027, estatuto entretanto atribuído a Évora, os municípios da região pretendem garantir fundos europeus para financiar o plano de actividades da Rede Cultura.
Segundo Anabela Graça, vereadora com o pelouro da Cultura na Câmara de Leiria, um dos cenários que está a ser preparado contempla uma candidatura – envolvendo vários concelhos – junto da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) e tem em vista o programa regional Centro 2030, cujo ciclo de investimentos se estende até ao ano de 2027.
O objectivo é assegurar a continuidade da Rede Cultura e da respectiva programação, cujo orçamento, no contexto da candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027, dependeu da participação financeira dos municípios, com Leiria a responsabilizar-se pela maior fatia.
Paulo Batista Santos, secretário executivo da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL), explica que o financiamento da Rede Cultura integra o pacote de projectos que a CIMRL espera, ainda durante o mês de Janeiro, propor para contratualização com a CCDRC, entidade que gere o programa Centro 2030. Estão em causa “mais de três milhões de euros”, que podem estimular “a maior rede cultural do País” – o objectivo é que os 26 municípios se mantenham a bordo – e contribuir, por exemplo, para “potenciar” o orçamento do festival Música em Leiria, do Orfeão de Leiria, que ao fim de 40 edições perdeu o apoio da Direcção-Geral das Artes. “Há o reconhecimento do ponto de vista estratégico da importância” da Rede Cultura, comenta. E “uma grande vontade política de lhe dar continuidade”.
Nesta fase, é certa a adesão da CIMRL e dos dez municípios que a constituem. Falta a confirmação das comunidades intermunicipais do Oeste e do Médio Tejo.
Por outro lado, a aprovação da candidatura pela CCDRC, via Centro 2030, pode criar condições para estabelecer um novo modelo de gestão para a Rede Cultura, que ainda não está definido. Em Março de 2021, o Tribunal de Contas chumbou o modelo inicialmente previsto: a régie cooperativa criada pelos 26 municípios.
Entretanto, em Abril do ano passado, seis projectos foram contemplados com apoios da Rede Cultura, depois de um concurso público com decisão por júri: Estações Efémeras (Leirena Teatro); Batendo em Ondas Contra a Noite Escura (O Nariz); Serão com os Avós (SAMP); Identidade Cultural (Ccer Mais); Maciço (Associação de Dança de Leiria) e Origens (Filarmónica do Sagrado Coração de Jesus e Maria). E depois de o Poise – Programa Operacional Inclusão Social e Emprego prolongar o apoio, o projecto Museu na Aldeia, da SAMP, também criado no âmbito da Rede Cultura, continua no terreno.
Depois de tornada pública, em 2016, a candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura 2027, a Rede Cultura 2027 foi constituída no início de 2019, com 26 municípios dos distritos de Leiria, Santarém e Lisboa, os politécnicos de Leiria e Tomar, a associação empresarial Nerlei e a diocese de Leiria-Fátima.
No ano passado, após ser conhecida a decisão de excluir Leiria da lista de cidades finalistas, a Rede Cultura manifestou, num comunicado com data de 11 de Março, a intenção de reconverter o documento apresentado ao júri num plano de acção para o período 2022-2027.
No território da Rede Cultura vivem 800 mil pessoas, distribuídas pelas comunidades intermunicipais de Leiria (Alvaiázere, Ansião, Batalha, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pombal, Pedrógão Grande e Porto de Mós), Oeste (Alcobaça, Alenquer, Arruda dos Vinhos, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Nazaré, Óbidos, Peniche, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras) e Médio Tejo (Alcanena, Ourém, Tomar e Torres Novas).