Quando, esta quinta-feira, o JORNAL DE LEIRIA sair para as bancas, faltarão 97 dias para o início da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que se realiza em Lisboa de 1 a 6 de Agosto, mas com impactos na região, não só em Fátima, onde antes, durante e depois do evento, é esperado perto de um milhão de peregrinos, mas em toda a diocese.
Segundo o padre André Batista, coordenador do Comité Organizador Diocesano da JMJ, o objectivo “é acolher dez mil jovens estrangeiros em todo o território da diocese”, que ficarão alojados em casas particulares, mas também em espaços colectivos, como “pavilhões de escolas e gimnodesportivos, sedes de escuteiros, salões paroquiais, entre outras estruturas”.
Até ao momento, estão inscritas perto de mil famílias, que disponibilizaram as suas habitações para receber esses jovens. É o caso de Sandra Pereira e de Cristina Moreira, residentes na Caranguejeira e na Azoia, respectivamente, que acreditam que esta será uma experiência “única”, quer para os participantes na JMJ, quer para as famílias que os acolherão.
Em casa de Sandra Pereira, o desafio foi lançado pela filha Sabrina, de 14 anos, que não teve dificuldade em convencer os pais a fazerem a inscrição. Para já, disponibilizaram-se para receber dois jovens, mas admitem que, se for necessário, poderão acolher mais algum. Ter em casa pessoas de outras culturas, mas que partilham ideiais de fé e de humanismo, será enriquecedor para ambas as partes”, antevê Sandra Pereira.
É também com esse espírito que Cristina Moreira e Paulo Henriques, residentes na Azoia, irão abrir as portas de casa a dois jovens durante a semana que antecede a JMJ, uma decisão que contou, desde o início, com “total” apoio dos dois filhos, de 20 e 12 anos.
“A ideia de acolher faz todo o sentido na nossa família. Se fosse um encontro de judeus, por exemplo, não tínhamos problema em fazer o mesmo”, admite Cristina Moreira, que ainda não pensou “em pormenor” como irá receber os visitantes. “Irei preparar um miminho. Ou seja, fazer como faço quando recebo amigos”, afiança, confessando que encara a experiência como uma oportunidade de “conhecimento e enriquecimento mútuos”. Mas, frisa, “são jovens e iremos procurar deixá-los à vontade”. “Não quererão outros ‘pais’ atrás de si”, brinca.
Sandra Pereira salienta ainda que boa parte do tempo desses jovens será preenchida com actividades organizadas pelas paróquias, entidades que estarão também responsáveis pelo almoço e jantar. “Haverá um dia em que os jovens ficarão inteiramente à nossa conta, para que lhes possamos mostrar um pouco a região”, adianta a catequista, que, este ano, cumprirá o sonho de estar na JMJ, “não como jovem, mas como acompanhante” de um grupo de participantes.
E as expectativas, não esconde, são grandes. “Espero que a vinda do Papa acalente o coração dos jovens, que estão um pouco perdidos na fé e de costas voltadas para a religião. Será oportunidade para partilha de valores, como a ajuda ao próximo e a solidariedade, que não são só a base da Igreja, mas da Humanidade”, reforça Sandra Pereira.
Aldeia Jovem em Fátima
Ainda sem “nada” saber sobre a visita do Papa Francisco a Fátima, o Santuário está já a preparar a recepção aos milhares de jovens que irão aproveitar a JMJ para visitar a Cova da Iria. Uma das iniciativas passa pela criação de uma Aldeia Jovem a instalar no parque 12, junto ao Centro Pastoral Paulo VI, com zona de tendas para acantonamento e espaço para acampamento.
Na ‘aldeia’ haverá ainda uma área para refeições, com street food e máquinas de vending, e outra para sanitários e balneários. Para os jovens que queiram viver a experiência de peregrinar a pé até Fátima, foram criados seis itinerários, com distâncias entre os cinco e os 15 quilómetros.
A realização de workhops e a disponibilização de itinerários para conhecer o templo do ponto de vista patrimonial e espiritual são outras das iniciativas a promover pelo Santuário, que marcará também presença em Lisboa, com uma exposição interactiva. Os custos com as várias iniciativas não estão ainda calculados pelo Santuário.
No caso da Câmara de Ourém, os gastos estão estimados em 300 mil euros, a suportar integralmente pelo município já que o Governo não dará “qualquer apoio”. A decorrer de 24 de Julho a 10 de Agosto, a operação logística montada pela autarquia prevê a criação de espaços para dois acampamentos de jovens com balneários na cidade de Fátima.
Haverá também o reforço de estacionamento, a criar em terrenos particulares, sendo que, até ao momento, já foram disponibilizadas à autarquia mais de 100 parcelas, “com capacidade para cerca de 5000 viaturas”. Serão também instalados “mais de 70” sanitários portáteis e dois parques para autocarros.
A previsão do município é que cerca de 90% dos jovens que irão a Lisboa à JMJ – são esperados perto de 1,5 milhões de participantes – virão também a Cova de Iria.
A Junta de Fátima está também a preparar uma zona de campismo, na mesma zona onde funcionou em 2017 – atrás do Pingo Doce – , mas com “mais um hectare”, avança o presidente Humberto Silva. A junta tem ainda colaborado com o município na identificação de terrenos privados para estacionamento provisório, que terão ser limpos.
“A Lei diz que só podemos fazer a limpeza até 15 de Maio. Mas, até Agosto ficará tudo igual. Terá de haver um regime excepcional”, diz o autarca, que acredita que este será um momento “grande” para Fátima, independentemente do tempo que o Papa ficará na Cova da Iria e que não deverá ir além de umas horas.