1. A regionalização aí está de novo, para mal dos nossos pecados. Querem voltar à carga aprovando na secretaria aquilo que o povo reprovou no referendo de 8 de Novembro de 1998.
Nessa altura fui contra e fiz campanha por isso, juntamente com o meu saudoso amigo Ernani Lopes. Ganhámos e pôs-se por isso um ponto final no assunto, que agora ressurge de forma traiçoeira, enganadora.
A propósito deste problema da regionalização e aproveitando alguma preparação técnica sobre o assunto (uma pós-graduação em planeamento regional e urbano) escrevi neste jornal cinco artigos de que alguns leitores certamente se recordarão.
Num deles enumerava as supostas vantagens da regionalização, que agora repito: desenvolver de forma equilibrada todas as partes do País; combater as assimetrias territoriais; defender a igualdade de oportunidades; reforçar a coesão nacional; promover a solidariedade nacional.
Terminava dizendo que tudo isto são objectivos incontestáveis que devem ser prosseguidos, mas sem necessidade absoluta de uma qualquer regionalização. Concluía, em face disso, que a regionalização era um erro colossal, uma reforma inútil.
E fiquei feliz por o eleitorado assim o entender. Hoje não seria tão radical, quanto mais não seja porque aceito uma orgânica especial para as áreas metropolitanas.
Não as trinta e tal que o inefável Relvas propunha, mas apenas as duas que efectivamente temos: a de Lisboa e a do Porto.
Quanto ao resto do território, bastar-nos-ão as associações de municípios em vigor e o bom aproveitamento mesmo de algumas estruturas locais como as que tive oportunidade de ver numa muito recente visita a aldeias tradicionais da Beira Alta.
Há muitas formas de desenvolver o território e [LER_MAIS] contribuir para a fixação da população no interior do País, sem necessidade de recurso à clássica regionalização. Há dias uma jornalista do Observador dizia que a regionalização é boa para [alguns] políticos e péssima para Portugal.
Eu acrescentaria que se traduzirá num sumidouro de dinheiros dos contribuintes, principalmente à custa da multiplicação de estruturas burocráticas caras e inúteis. Voltarei seguramente ao assunto “regionalização” nos próximos artigos.
2. O País viu-se há dias paralisado devido à actuação de um sindicato fora do “redil” do sistema sindical clássico. É um sindicato criado há menos de um ano, mas que já deu muito que falar.
O governo foi apanhado de surpresa e só agora descobre que, em Portugal e desde o início de 2017, surgiram 24 novos sindicatos, dos quais só dois se filiaram na UGT e nenhum na CGTP. Isto quer dizer que 22 dos novos sindicatos não se inscreveram nas centrais sindicais. Porquê?
Porque certamente entendem que as centrais sindicais estão mais ligadas à política (partidos políticos) do que à defesa dos direitos laborais. Este problema é já antigo.
Só que agora estes movimentos radicais têm muito mais destaque na comunicação local, tanto cá dentro como lá fora.
Que se cuidem os Arménios Carlos e os Mários Nogueiras. E já agora as direcções partidárias e o governo também.
*Economista