Às mãos experientes de Paulo Duarte chegam livros de vários feitios, degradados, rasgados, mal amanhados com fita-cola, e que, graças à sua paciência e perícia, saem do atelier com ar renovado, em Óbidos. Paulo Duarte é encadernador e restaurador de livros há mais de 30 anos, um ofício que aprendeu com a família, mas que, lamenta, dificilmente terá a quem ensinar.
O avô de Paulo Duarte tinha uma oficina de encadernação, em Lisboa, onde a sua mãe chegou a trabalhar. Depois da morte do avô, e com a extinção da oficina, a mãe de Paulo passou a trabalhar numa gráfica, em Caldas da Rainha. “Eu próprio cheguei a trabalhar numa gráfica e a minha mãe foi-me ensinando. Assim como outro senhor, que também lá trabalhava”, recorda Paulo Duarte.
Tempos depois, decidiu avançar com o seu próprio negócio. “Restaurar é um trabalho muito complexo, porque há livros que chegam em muito mau estado.” Entre aqueles que mais dores de cabeça lhe deram está um missal, que demorou [LER_MAIS]mais de 80 horas até ficar recuperado, lembra ainda.
A partir do seu atelier, em Óbidos, tem dado segunda vida a obras vindas de todo o País, também da Bélgica, Canadá, África do Sul e de países Árabes. “Estes últimos foram difíceis. Não se compreende nada, além de que por lá escreve -se da direita para a esquerda. Mas deram-me gozo.”
Um dos problemas é mesmo a continuidade da profissão. “Quem é que quer aprender? Agora as artes gráficas resumem-se praticamente a trabalho de computador”, salienta Paulo Duarte. Além disso, esta actividade carece de muita paciência e saber.
Conhecer os vários tipos de papel, as linhas mais adequadas, os tipos de letra, saber coser bem, exemplifica. Só uma estudante da Escola Superior Artes e Design apareceu no atelier, uma ou outra vez, para perceber o básico, conta Paulo. Desde então, ninguém surgiu com essa vontade, lamenta.
Mas a modernidade também exigiu adaptações no negócio. Além do restauro e da encadernação (de Diários da República, jornais, dissertações, Bíblias e todo o género de livros), com e sem douração, o atelier passou a fazer também cartões de visita, convites de casamentos e baptizados e adquiriu uma máquina de impressão digital, que abriu porta a novos serviços.
O cliente traz folhas, muitas vezes manuscritas, que Paulo passa a computador. Assim se constroem muitos livros, de particulares, com poemas e histórias que partilham com amigos.