PUBLICIDADE
  • A minha conta
  • Loja
  • Arquivo
  • Iniciar sessão
Carrinho / 0,00 €

Nenhum produto no carrinho.

Jornal de Leiria
PUBLICIDADE
ASSINATURA
  • Abertura
  • Entrevista
  • Sociedade
  • Saúde
  • Economia
  • Desporto
  • Viver
  • Opinião
  • Podcasts
  • Autárquicas 2025
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Abertura
  • Entrevista
  • Sociedade
  • Saúde
  • Economia
  • Desporto
  • Viver
  • Opinião
  • Podcasts
  • Autárquicas 2025
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Jornal de Leiria
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Home Entrevista

Ricardo Cardoso, psicólogo: “As crianças têm de ser ‘domesticadas’, como os animais”

admin por admin
Abril 15, 2021
em Entrevista
0
Ricardo Cardoso, psicólogo: “As crianças têm de ser ‘domesticadas’, como os animais”
0
PARTILHAS
0
VISUALIZAÇÕES
Share on FacebookShare on Twitter

Durante a apresentação do seu último livro, Super Filho Como o Educar, disse que educar um filho não é apenas esperar que o percurso académico o mastigue e cuspa escorreito e bem formado, pronto a enfrentar a vida…
Participo numa equipa de intervenção precoce na Cercilei e trabalhamos com crianças dos 0 aos 6 anos e reparei que há algumas pessoas a dizer que não é preciso estimular os bebés e que a educação é tudo produto da geração espontânea. De facto, se eles não forem estimulados para comunicar, para se moverem, para palrarem, o desenvolvimento vai acontecer mais lentamente e, por vezes, até não acontecerá. Por exemplo, na questão da integração sensorial, o percurso de um bebé deve ser rolar, enrolar, depois sentar-se e daí começar a gatinhar. Muitas crianças não passam por isso e, depois, têm má coordenação motora, pouca destreza ou dificuldades na escrita.

É a ideia de que um “bebé bonito” é aquele que come, dorme e “não chateia”?
Exacto! Isso é horroroso. Quando vou a uma casa no âmbito da intervenção precoce, e vejo isso, dá-me vontade de bater!

No seu livro, afirma que os pais precisam de observar os filhos e investir tempo a perceber-lhes as reacções, a brincar com eles, a bater palminhas e todas aquelas coisas que os nossos pais e avós nos faziam.
Estamos preparados para ser pais e cuidadores. As mulheres mais do que os homens. Actualmente, temos coisas que nos distraem e nos fazem perder essa parte da relação. “Não tenho tempo”, dizemos. Não temos tempo, porque optamos por fazer outras coisas. No tempo dos nossos pais, havia mais tempo porque eles valorizavam mais a família e estavam focados nos filhos. O pai focava-se em manter a estrutura familiar segura e sem necessidades. Se virmos a história e abordarmos o ponto de vista biológico, o homem tem o corpo que tem, para proteger, a mulher tem o corpo que tem, para cuidar, para dar mimo… E isto é importante num momento onde, na sociedade, tudo é ser-se homofóbico, tudo é ser-se machista, xenófobo, tudo é isto e aquilo… E se investissem na construção do “respeito pelo outro”? Os adolescentes, hoje, têm distúrbios grandes devido a estas ideias que ditam que o homem e a mulher são iguais. Não! Não somos iguais! Mas temos de nos respeitar. Os adolescentes estão a dar uma volta estranha a tudo isto e temo que possam vir daí coisas más devido ao exagero. Parece-me que a minoria começará a discriminar a maioria. Isso assusta-me, porque pertenço a uma minoria, aos gordos, e não quero que os gordos discriminem os magros, porque eles é que estão bem!

Defende a “equidade”, a adaptação da regra à situação concreta, a fim de deixá-la mais justa para todas as partes?
Sim. E é preciso investir na construção do respeito. Se, por exemplo, respeitarmos as pessoas magras e gordas, está tudo bem. Pensa-se que basta dizer que o respeito é “bom-senso”. Mas o que é o bom-senso? Parece que toda a gente tem bom-senso ou, pior, acham que o bom-senso e senso-comum são a mesma coisa. O senso das multidões – o senso-comum – não é bom-senso. O que é que as manadas fazem, mesmo sem querer? Destroem coisas. As multidões fazem o mesmo. Gente muito junta e com um único foco, têm raiva e essa raiva destrói. Um dos capítulos que abordo no meu livro é a gestão emocional. As pessoas não têm auto-conhecimento suficiente da sua construção emocional, para não irem atrás da manada. [LER_MAIS]A capacidade crítica está a ir para o lixo.

Por que razão a maior parte de nós não sabe lidar com as emoções?
A inteligência emocional teve o seu pico em 1998, com o livro de Daniel Goldman, embora seja um conceito muito mais antigo, talvez dos anos 60, mas só chegou ao grande público mais tarde. Uma coisa é a inteligência emocional e outra é a educação emocional. Todos temos inteligência, mas precisamos de ir à escola para nos educarmos mais. Já a inteligência emocional tem um handicap, há pessoas com maior ou menos nível de inteligência emocional, mas ninguém recebe educação emocional. É isso que falha. Quando não sabemos o que acontece, por que razão ficamos sensibilizados com isto ou aquilo? Há uma história para trás, há uma emoção primária. Essas emoções são a alegria, a raiva, o medo e a tristeza. São as quatro emoções-base com que todos os estudiosos concordam, mas há outros que consideram outras. Isto deveria ser ensinado na pré-escola e não é. Num bom programa de educação emocional nas escolas dever-se-ia estudar as sensações – os sentidos e como o corpo absorve a informação que vem do exterior -, as emoções – as de base -, e, a partir daí, seguir para as emoções secundárias, que já têm um processo de cognição, ou seja, um pensamento associado a uma emoção… como a vergonha. Foi este o conceito que levei para as escolas em 2009 – Tentativa e João de Deus, entretanto, com um amigo montámos a Escola das Emoções.

Aborda-se um conceito lúdico?
Com bons jogos. Acreditamos que o Soduku e as palavras-cruzadas estimulam o cérebro e desenvolvem a inteligência. É mentira. Não é assim que se trabalha a inteligência. Isso faz-se com resolução de problemas e não com associações. Coloca-se a pessoa perante uma coisa inesperada e é preciso criar uma solução. Os artistas treinam muito mais a sua inteligência do que os cientistas, que têm sempre de seguir um modelo fixo de investigação. Por vezes, trabalha-se mal a educação emocional e isso faz com que haja mais depressão, mais ansiedade, mais conflito. Por que razão a ESECS e a Escola Superior de Saúde não têm uma disciplina de Educação Emocional, quando a Saúde é a base disto? Quando os técnicos de saúde têm de perceber o que o corpo está a dizer? Nenhum curso tem essa disciplina e era das coisas mais importantes a ter.

Como devemos gerir as emoções na relação com os outros, sem explodir nos momentos mais inoportunos?
Perceber antecipadamente o que vamos pensar. Por exemplo, se alguém disser mal das nossas mãos, devemos perceber o que é que nos intimida nessa situação. Depois fazer o processo inverso: “ele também tem mãos feias, qual é o problema?” É um jogo entre o medo e a raiva. Se tu sentes medo porque te estou a atacar, usa a tua raiva internamente, para te sentires confortável. Ensinamos às crianças que não devem ter nem medo, nem raiva. É um mau ensinamento. A raiva existe para nos podermos defender, para podermos correr mais rápido, para nos levantarmos de manhã – uma pessoa em depressão não tem raiva, só tem tristeza e medo. A raiva provoca a activação fisiológica. De outra maneira, a pessoa fica na cama até ao meio-dia. Não o ensinamos à criança porque entendemos que a raiva é birra e partir coisas. Associamos a raiva ao mau comportamento e não pode ser! O mesmo vale para o medo. O medo é uma coisa importante. “O medo é nosso amigo, por isso é que não corremos perigo. Mas ele é um brincalhão e quando brinca, limita-nos”, escrevi isto no meu livro João Com Medo. A maior parte das vezes, ficamos apenas com essas duas coisas negativas: a raiva é para partir coisas e o medo é para não fazermos coisas. Quanto melhor conhecermos as emoções, menos fobias ou ataques de pânico teremos, melhor as iremos gerir, embora elas continuem a acontecer. No meu consultório, faço terapia com foco nas emoções. Agarro nas coisas todas, simplifico um bocadinho e fico com o sumo todo: “nós somos só emoções. Sem emoções, não produzimos sentimentos e não temos pensamentos.”

“As pessoas acham que os bebés podem tudo. Há quem vá ao supermercado e deixe os filhos à solta e ficam muito chateados porque os outros clientes criticam”
Ricardo Cardoso

Na educação dos filhos, devemos escolher um estilo parental. Qual o mais adequado?
Há três grandes estilos. O autoritário, ser-se uma espécie de Hitler e é o quero, posso e mando. Não é assim tão mau quanto parece, porque o estilo negligente – ou se faz tudo o que a criança quer ou não se liga nenhuma – é mais penoso do que o autoritário. Pode não ser o caminho que se quer, pode não ser o correcto, mas dá uma linha e uma segurança. O outro, apenas dá insegurança. Muita gente acredita que a criança pode fazer o que quiser. Não pode.

O ditador, nesse caso, passa a ser a criança.
Isso leva a que vejamos adolescentes a baterem nos pais e a manipularem-nos, porque eles se descuidaram na educação e os filhos tornaram-se ditadores. As crianças têm de ser “domesticadas”, como os animais! Todos somos selvagens, o nosso instinto é selvagem e as crianças têm de ser educadas. É um erro achar que elas já vêm programadas. O melhor estilo parental é o democrático bem informado. Tem de haver uma “assembleia de família”. Sentamo-nos e discutimos. Não há consenso, mas há um líder e ele decide, após dar oportunidade às pessoas de se expressarem. Se correr mal, o líder assume. “Vamos viajar para onde? Vamos fazer o quê este fim-de-semana?” É um processo que demora muito tempo, mas que tem de ser treinado desde bebés. A partir dos seis meses, eles começam a tomar consciência de si próprios e começa a comunicar com os pais. Se choram, não se pode ir logo, porque, se não, não se habituam… Não vamos, mas estamos por perto. No estilo democrático, a criança não manda, mas tem a sensação de que manda, porque o líder consegue gerir tão bem, que convence que aquilo é o melhor para todos. Até nos convence que as ideias dele partiram de nós. É o melhor conceito que há para a liderança de uma equipa e para o estilo parental. Infelizmente, o mais comum, hoje, é o negligente. As pessoas acham que os bebés podem tudo. Há quem vá ao supermercado e deixe os filhos à solta e ficam muito chateados porque os outros clientes criticam. Essas pessoas não se podem esquecer que as crianças vão estar na sociedade e a sociedade tem normas. Ao deixá-los fazer tudo, não estão a transmitirlhes o que eles vão enfrentar ao crescerem. Aos 40 anos, serão pessoas com muito medo e insegurança. Estarão perdidas. Não conseguirão estabelecer boas relações.

Percurso
Amado pelo ‘gredo’ e pelos betos

Ricardo Moita Cardoso nasceu em Leiria, em Setembro de 1979. O interesse pela psicologia e pelas emoções, acredita, foi-lhe incutido pelos pais. “A minha mãe era professora primária. Era da velha guarda, envolvia-se com as crianças, ia a casa delas, tentava estar presente. Era mais do que ensinar a matéria.”

Já as emoções foi buscá-las ao pai. “Ele é um criativo e estava ligado à paginação dos jornais e à tipografia. Quando eu estava triste, ia buscar-me à cama e dizia: ‘já percebi que não estás bem, vamos para o sofá conversar’.”

Fez a primária na Bidoeira de Cima, onde a mãe era professora, transitou para a escola dos Marrazes e depois para a Gândara. “Nessa altura, fazia aí a escola e tinha o andebol na Juve. Costumava dizer que tanto me dava com a ‘malta do gredo’, como com a ‘malta beta’. Sempre fiz esse equilíbrio, que foi muito bom para aprender a enquadrar-me nos contextos e perceber as emoções.”

Passou e desistiu do curso de Engenharia Mecânica e foi fotojornalista no Região de Leiria, antes de se licenciar em Psicologia.

 
Pelo meio, foi treinador de andebol e monitor de férias desportivas, onde aprendeu “a educar, a cuidar do grupo e a crescer”.

O que fazer com uma criança que faz birras?
As birras fazem parte do desenvolvimento e os pais devem saber isso. São uma forma de afirmação da personalidade. Porém, birras associadas a desafios de oposição já não fazem parte do crescimento, são patológicas e têm de ser resolvidas. Quando a criança não consegue ainda gerir a frustração, é normal que faça birra. Nesse caso deve ser acolhida e entendida pelos pais. Nestas birras de frustração, quando ela não consegue entender determinada coisa ou não consegue atingir um objectivo, damoslhes um abraço e explica-se. Outra coisa é ter uma criança que começa a dar pontapés porque se quer ir embora e os pais demoram-se. Isso não é uma birra. É um comportamento de desafio e ela está a testar a liderança dos pais, dizendo “eu mando em ti” e “eu quero que faças isto”. Aí, é preciso intervir. Temos de dizer “tens de esperar”. Quando fazemos isso? Quando ela é bebé. Se quer uma argola e está a fazer birra porque não consegue, damos um bocadinho de tempo. Um chorozinho faz parte do desenvolvimento e da relação emocional, a partir dos seis meses. Damos um bocadinho de tempo, ela tenta, não consegue, volta a tentar, fica frustrada e antes de chegar à birra e ficar mesmo muito frustrada, damos a argola e ajudamos. Depois é só aplicar isto em tudo. Na birra de supermercado, quando ela quer qualquer coisa, antes de irmos, preparamoslhe o cérebro: “vamos ao supermercado, o pai ou a mãe não te pode dar ou só pode dar isto ou aquilo”. Preparamos o contexto onde ela está, para não criar essa frustração e desafio de oposição. Claro que, se os pais estão sentados numa esplanada e não vão brincar com ela, a criança tem o direito a fazer birra.

Com esta pandemia, estamos deprimidos, ou com o desconfinamento, começámos a extravasar?
Estamos desesperados com a pandemia. Perdemos a esperança. Mas temos a esperança de que tudo volte ao normal rapidamente. E aí é que está o perigo. Queremos uma coisa que sabemos que não acontecerá, mas acreditamos muito nela. É um perigo porque acreditar muito numa coisa que não existe, e não é possível, é um passo para a loucura. Estou a fazer um mestrado online de uma escola de Barcelona e há muitas pessoas de vários países. Um dos ciclos de conversa era com uma pessoa do ISCTE a falar do teletrabalho e da gestão de conflitos. Ele expôs várias teorias, até que um dos participantes lhe disse que o que precisava era de motivar as pessoas para se organizarem em grupo, mas online. O formador ficou a patinar. A grande tarefa da psicologia vai ser a descoberta de ferramentas para trabalhar a união e a força à distância. Para as crianças, o resultado serão mais medos e mais ansiedades. Vamos assistir a um tempo onde, cada vez mais, haverá menos respeito pelo outro, porque não o percebemos e não nos conhecemos a nós.

Etiquetas: amor-própriobirracriançasdomesticaremoçõesentrevistaequipasescola das emoçõesestilo parentalliderançamau comportamentoparentalidadepsicólogopsicoterapeutapsicoterapiaricardo cardosoricardo moita cardososuper filhosuper paisupernany
Previous Post

Palavra de Honra | É a inquietude que nos desafia, encoraja, transforma e nos faz querer

Próxima publicação

Dados da solidariedade mostram aumento da pobreza na pandemia

Próxima publicação
Dados da solidariedade mostram aumento da pobreza na pandemia

Dados da solidariedade mostram aumento da pobreza na pandemia

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

  • Empresa
  • Ficha Técnica
  • Contactos
  • Espaço do Leitor
  • Cartas ao director
  • Sugestões
  • Loja
  • Política de Privacidade
  • Termos & Condições
  • Livro de Reclamações

© 2025 Jornal de Leiria - by WORKMIND.

Bem-vindo de volta!

Aceder à sua conta abaixo

Esqueceu-se da palavra-passe?

Recuperar a sua palavra-passe

Introduza o seu nome de utilizador ou endereço de e-mail para redefinir a sua palavra-passe.

Iniciar sessão
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Opinião
  • Sociedade
  • Viver
  • Economia
  • Desporto
  • Autárquicas 2025
  • Saúde
  • Abertura
  • Entrevista

© 2025 Jornal de Leiria - by WORKMIND.