Anda a entrar “algum esgoto” no troço do Lis que atravessa a cidade. É esta a leitura que o presidente da associação ambientalista Oikos faz dos últimos resultados da monitorização que a instituição efectua à qualidade da água da bacia hidrográfica do rio Lis.
Depois de nos últimos dois anos as análises revelarem níveis “preocupantes” de contaminação dentro da cidade, os resultados deste ano vieram confirmar essa tendência.
Foi, aliás, no ponto localizado debaixo da ponte do Arrabalde que se registou o valor mais elevado de contaminação por e-coli em toda a bacia, com um aumento de 30% em relação ao ano passado, um agravamento que contrasta com a melhoria registada em 11 dos 15 pontos de monitorização.
“Em termos globais, há uma tendência de melhoria. A excepção é o troço citadino, onde os resultados indiciam que algo de estranho se passa”, refere Mário Oliveira, explicando que a presença da bactéria intestinal (e-coli) é reveladora de que “há algum esgoto a entrar no rio”.
O ambientalista sustenta a sua tese nos dados verificados nos pontos anteriores ao do Arrabalde, que apresentam valores “aceitáveis”, sendo que os níveis de contaminação “disparam” dentro da cidade, para valores “exorbitantes”.
“Nos dois últimos anos, houve uma subida grande. Mas este ano é mesmo muito mau. É preciso perceber de onde vêm essas infiltrações”, defende, admitindo que a situação possa resultar de “problemas de saneamento de alguns prédios”.
Frisando que os valores registados “variam em função das condições quer atmosféricas quer de dissolução da própria água”, a Câmara de Leiria reconhece, no entanto, a existência de “alguns” problemas de saneamento na área urbana, cujos sistemas de drenagem “são antigos” e, em certos casos, unitários (domésticos e pluviais).
“Alguns dos problemas estão identificados e resultam da idade dos colectores, da existência de colectores unitários e de ligações indevidas à rede pluvial”, revela a Autarquia, assegurando que a resolução “está a ser feita de forma gradual” e passa pela reabilitação dos colectores e pelo “aumento da fiscalização”.
[LER_MAIS] A Câmara adianta ainda que “algumas medidas já estão a ser tomadas” para corrigir essas anomalias, nomeadamente ao nível da reabilitação de colectores. Recentemente, foi também feita a limpeza da ribeira do Amparo, que “permitiu a inspecção e a desobstrução” dos colectores existentes ao longo dessa linha de água. A Autarquia refere ainda o trabalho de “limpeza de sarjetas nas zonas onde a recolha de esgoto é unitária e de desobstrução de colectores.
Por seu lado, a Águas do Centro Litoral (AdCL), que gere a ETAR das Olhalva – localizada dentro do troço problemático e que faz descargas para o rio – , assegura que esta estrutura “se encontra em total cumprimento dos parâmetros de descarga e em total conformidade com a licença em vigor”, “conforme informação disponível na plataforma da Agência Portuguesa do Ambiente, o SILiAmb” .
A AdCL informa que a ETAR “não prevê a desinfecção do seu efluente”, pelo que a AdCL “não dispõe de monitorização de parâmetros microbiológicos, já que os mesmos não constam da licença de descarga da ETAR”.
Além do Arrabalde, outro dos pontos problemáticos continua a ser a ponte das Mestras, logo após a confluência do Lena com o Lis, onde, apesar da melhoria face ao ano passado, foi detectado o segundo valor mais alto dos 15 pontos monitorizados. O presidente da Oikos admite, no entanto, que esse nível de contaminação possa ser explicado “pelo que vem de montante”.
Também na ribeira dos Milagres o resultado deste ano é ligeiramente pior do que o do ano passado. Mesmo assim, as últimas análises, feitas a partir de colheitas efectuadas a 3 de Abril, apuraram neste curso de água um dos valores mais baixos dos últimos cinco anos.
Pela positiva, destaca-se a zona dos Campos do Lis, com os quatro pontos localizados no troço final do Lis a registarem uma diminuição considerável dos níveis de contaminação.
O trabalho de monitorização da qualidade da água da bacia hidrográfica do Lis é feito pela Oikos desde 1990, com a análise dos níveis de contaminação pela bactérica e-coli e por enterococos em 15 pontos ao longo dos rios Lena e Lis.