Faz diariamente centenas de quilómetros, entre os afazeres da profissão em que se desdobra a partir das oito da manhã e a paixão pela táctica do futsal que desenvolve com profissionalismo depois das seis da tarde, noite a dentro. De cor, sabe o caminho entre a Nazaré e Ferreira do Zêzere, a vila do distrito de Santarém onde tem somado conquistas no mundo do futsal.
Com “trabalho e ambição”, Rogério Serrador, de 40 anos, é o treinador nazareno que tem cimentado um percurso com mais de duas décadas que chegou à primeira divisão nacional.
A conquista festejou-se recentemente, quando cumpriu o sonho da vila e daquele distrito de chegar, pela primeira vez, ao patamar mais elevado da modalidade.
“A imagem que guardo é de estar a chegar a Ferreira de Zêzere, já quase de madrugada, haver fogo de artifício e o autocarro parar numa praça cheia de gente. É daquelas coisas que eu pensava que só era possível em dois ou três clubes, mas aconteceu ali porque as pessoas têm uma paixão pelo clube e pelo futsal, e tinham uma ambição gigante de chegar ao topo”, recorda.
A liderar o Sport Club Ferreira do Zêzere pela terceira época consecutiva, trouxe para o topo a equipa em que acredita, com “14 jogadores provenientes da segunda divisão”.
“Não temos o plantel mais experiente, mas vamos contrapor com a qualidade dos jogadores que jogaram para ficar. Eu acredito muito nos meus jogadores e no potencial deles, acho que cada um pode continuar a escrever a sua história no patamar mais alto do futsal nacional”, afirma o treinador. Da parte da bancada, acrescenta, sabe que também tem garantida “uma massa de adeptos única”: “Em casa é sempre pavilhão cheio e apoio do primeiro ao último minuto, e mesmo quando jogámos, por exemplo, no Marítimo ou nos Açores, nunca nos sentimos fora de casa porque temos adeptos fiéis que acompanham sempre a equipa”.
A entrada no grupo onde se enfrentam as doze melhores equipas de Portugal fez-se com duas vitórias em dois jogos, mas não se deixa “impressionar com estes resultados” e garante está “preparado para trabalhar pelas vitórias que faltam”.
“O principal objectivo desta época, e único, é a manutenção e sabemos o que é preciso para isso”, atira o técnico nazareno.
Um percurso de trabalho e ambição
A história de Rogério Serrador no mundo do futsal começou quando era miúdo e dava uns ‘toques’ no clube da aldeia, a Associação Recreativa Pederneirense, da Pederneira. O encanto pela modalidade sempre existiu, mas destacava-se sobretudo no interesse pela táctica.
“Diria que sempre tive um interesse mais natural para o treino, do que uma apetência para ser jogador, aí não teria passado dos distritais seguramente”, acrescenta entre risos.
A primeira abordagem para colaborar com os escalões mais novos da secção foi feita depois da faculdade. Seguiram-se vários anos a treinar a formação, com passagens pelo Grupo Desportivo Concha Azul e pelo Casal Velho, onde acabaria por ser convidado a liderar os seniores. “Fiz o meu caminho, tive a oportunidade de subir com a equipa e, pela primeira vez na história do clube, chegámos à terceira divisão nacional”, conta.
Depois rumou para o Centro Desportivo de Fátima, novamente para a distrital, onde recorda a “subida com a equipa até à segunda nacional e a época em que se ficou a um ponto da primeira”.
Decidiu então que estava na hora de parar e fez o primeiro interregno na carreira, de quase dois anos. “Foi um risco, mas entendi que, apesar dos convites que foram aparecendo, não devia baixar um degrau competitivo”, explica. Até que agarrou o desafio do Sport Club Ferreira do Zêzere, um clube que ambicionava há muito subir de patamar.
Sem esquecer que o percurso “começou por baixo”, compara várias vezes o caminho a “uma escada onde se luta por subir degraus”, não tem dúvidas que neste trilho “os jogadores e ex-jogadores são os melhores agentes que um treinador pode ter” e não esquece “a qualidade e a competência das equipas e das pessoas que tornam possível a evolução”.
“Eu não sei se alguma vez vi que [ser treinador de futsal] seria o futuro, mas sempre tive uma ambição enorme para tentar estar num patamar acima, evoluir, crescer e tentar ser melhor todos os dias”, acrescenta.
Admitindo que “é muito difícil” aliar o trabalho, com treinos diários, dias de jogos e muitos quilómetros na estrada, confessa que “isto só se consegue com muito esforço”. Quem sofre mais, admite, é a família. Mas também são eles a presença garantida nas bancadas. “E isso é o mais importante”, reitera quem, entre futsal, livros, viagens e música, gosta sobretudo de estar em família, ver os filhos a jogar futebol e andebol, e seguir os “clubes do coração”, o Grupo Desportivo Nazarenos e a Associação Cultura e Desporto O Sótão.