Natal e Páscoa são as duas datas mais importantes no calendário de celebrações cristãs.
A primeira assenta o foco no nascimento de Cristo, a segunda, na sua morte, ressurreição e a celebração da renovação e salvação dos cristãos e das suas almas.
A chegada da Páscoa, contudo, é também sinónimo de um momento profano, associado ao passar das estações.
Em Portugal e Espanha é uma espécie de ensaio para o Verão e do arranque dos longos períodos de descanso.
Mencionamos os dois principais países da península porque é deles que chega a maioria dos visitantes à região neste período que agora começa.
A atmosfera de solenidade e tradição envolve vilas e cidades e a Semana Santa, passada a reflexão religiosa, revela-se como um mosaico de manifestações culturais únicas que atraem quem procura mais do que sol e praia, mas também fé e tradição.
É certo que as celebrações acontecem em todas as comunidades cristãs e paróquias da região, no entanto, há algumas que, pela sua longa tradição ou pela singularidade dos seus costumes culturais, se destacam no panorama regional.
Em Porto de Mós, por exemplo, a Semana Santa promete uma programação rica em espiritualidade, música e arte, até domingo, dia 20 de Abril.
Um dos momentos mais marcantes e idiossincráticos e populares da tradição neste concelho, que é, simultaneamente, uma das grandes razões para uma visita mais demorada é a criação, pela população, do tradicional Tapete de Flores, com 300 metros de extensão, sobre a ponte de São Pedro, numa das entradas da vila.
É um dos postais turísticos da quadra, em Porto de Mós, que visa marcar a recriação da entrada de Jesus em Jerusalém, no Domingo de Ramos.
Até ao dia de Páscoa, há ainda concertos pascais na Igreja de São Pedro e, hoje, dia 17, a localidade anima-se, mais uma vez, com uma evocação da Última Ceia.
Amanhã, sexta-feira, será a vez da encenação ao vivo da Via Sacra, que junta actores profissionais e amadores, soba coordenação do Grupo de Teatro Leirena.
Verdadeira peça religiosa, representa as 14 estações que simbolizamos episódios específicos da Paixão de Cristo, como são referidos no Novo Testamento e terá início na Igreja de São Pedro, às 16 horas, percorrendo as ruas da vila até ao castelo, onde terminará com a representação da crucifixação de Jesus.
Para quem prefere o recolhimento e a oração, está marcada também uma Vigília Pascal para a noite de sábado, dia 19.
Em paralelo às celebrações pascais, decorrem o Festival do Cabrito e do Borrego das Serras de Aires e Candeeiros, que termina no domingo de Páscoa, dia 20, e o Festival do Folar e da Amêndoa Artesanal, nos dias 18 e 19, no jardim municipal.
Páscoa nas muralhas de Óbidos
Em Óbidos, a muralha que cerca a vila medieval e que funciona quase como se fosse a plateia de um gigantesco anfiteatro volta a ser testemunha daquela que, em termos turísticos, é considerada, pelo Turismo de Portugal, como uma das Semanas Santas “mais impressionantes na região Oeste”, a qual, com os seus mais de 400 anos de história, atrai, ano após ano, cada vez mais visitantes à localidade.
As festividades começaram logo no início da Quaresma, com a Procissão da Ordem Terceira, que exibe andores profusamente decorados com flores.
Seguiu-se a procissão do Senhor dos Passos que percorre as ruas intra e extra-muralhas de Óbidos, com fim na Igreja da Misericórdia.
Seguindo a tradição, Óbidos adopta as decorações deste período de reflexão.
Na entrada da vila, foi colocada uma grande Cruz de Cristo e as melhores e mais belas colchas das famílias assomam nas janelas na rua direita, bem como tapetes de flores e sal foram criados na rua da Porta da Vila, por grupos de voluntários das freguesias locais.
O ponto alto acontece amanhã, Sexta-Feira Santa, com a procissão do Enterro do Senhor, onde a iluminação é assegurada integralmente por archotes dispostos em pontos–chave do percurso e os figurantes e participantes trajam com rigor histórico.
As cerimónias terminam no Domingo de Páscoa com uma procissão onde são representadas as paróquias locais.
O Tríduo Pascal inicia-se com a missa da Última Ceia e Lava-Pés, hoje, dia 17, recordando o gesto de serviço e amor de Cristo, seguindo-se, amanhã, a Celebração da Paixão e a Procissão do Enterro do Senhor, no dia 19, a Vigília Pascal, e a Missada Ressurreição, no domingo de Páscoa, na Igreja de São Pedro.
Até domingo, acontecem vários concertos de música sacra, alusivos à quadra, no Santuário do Senhor Jesus da Pedra. A não perder, também a exposição Semana Santa em Óbidos, perspectiva fotográfica sobre estas celebrações, do artista Uli Schmidt, patente na Casa José Saramago até 11 de Maio.
Via Sacra de Ourém é das mais antigas
A Páscoa e, em especial, a recriação da Via Sacra, no núcleo histórico da cidade de Ourém, no seu núcleo histórico, localizado entre a igreja-colegiada e o antigo castelo,na freguesia de Nossa Senhora das Misericórdias, são um dos momentos mais altos da quadra na região.
Misto de encenação teatral e demonstração popular de fé, o evento, este ano, está marcado para amanhã, Sexta-Feira Santa, dia 18, quando o relógio na torre da igreja local marcar as 15 horas.
Cumprindo a tradição, as ruas transfiguram-se em palco da dramatização do último dia de Cristo, da sua detenção, ao julgamento e morte na cruz, como sinal de expiação dos pecados da Humanidade.
Ao todo, a encenação, que já acontece desde 1999, deverá contar com cerca de 100 actores e figurantes locais, muitos deles repetentes nesta evocação.
Até domingo, dia 20, haverá ainda um vasto programa cultural aliado às cerimónias religiosas promovidas pela Paróquia de Nossa Senhora das Misericórdias.
É o caso de uma caçada para famílias ao Folar da Páscoa, na cidade de Ourém, no dia 19, a partir as 10:30 horas, com início no Museu Municipal de Ourém – Casa do Administrador.
Uma vez que a recriação acontece numa zona histórica e com limitações de espaço para os veículos automóveis, a autarquia de Ourém disponibiliza um serviço de autocarros gratuito desde o Centro Municipal de Exposições ou, em alternativa, da localidade de Santo Amaro até à zona do castelo.
Para quem se interessa pela temática pascoal, as opções são muitas e serão igualmente uma oportunidade para ficar a conhecer os patrimónios natural e edificado, a gastronomia e oferta hoteleira da região.
Portugueses e espanhóis procuram Fátima e Nazaré
À semelhança dos anos anteriores,a capacidade da hotelaria de Fátima está praticamente esgotada.
A análise é de Alexandre Marto Pereira, CEO da United Hotels of Portugal, que representa oito hotéis em Fátima, um em Lisboa e um em Óbidos.
O empresário revela que a maioria dos visitantes são de origem nacional e espanhola.
“Temos uma ocupação simpática, especialmente, no fim-de-semana de Páscoa.
A maioria dos hotéis de Fátima estará completa”, afirma.
Embora a previsão meteorológica não esteja a ajudar, os turistas pretendem participar nas celebrações religiosas desta quadra.
“Os visitantes também procuram a cultura e património locais. Visitam o santuário, as basílicas e a região, em especial, os mosteiros como os de Alcobaça, Batalha e Tomar, mas também a Nazaré e Leiria. Há muita gente a visitar Leiria, que se hospeda em Fátima, devido à proximidade e boa oferta hoteleira.”
Na Nazaré, a previsão e os números existentes mostram que as unidades hoteleiras irão, igualmente, apresentar-se completas, a partir da noite de quinta-feira e até domingo. “Apesar de o tempo previsto não ser o melhor, estamos cheios”, refere o administrador do grupo hoteleiro Miramar.
Serafim Silva adianta que os turistas, no caso desta vila à beira-mar, vão tentar fintar as gotas da~chuva e aproveitar para usufruir das ofertas cultural e gastronómica e descansar.
“Vivemos o espírito mítico da Nazaré”, afirma, ressalvando a necessidade de as autoridades ajudarem a promover mais este destino, sob pena de perda da sua importância.
A maioria dos visitantes são nacionais e espanhóis, havendo alguns franceses e norte-americanos.
“Estes últimos são poucos, penso que, em parte, devido àquilo que está a acontecer nos EUA, com a nova administração de Trump”, explica o empresário hoteleiro da Nazaré.
Também Alexandre Marto Pereira acredita que o aumento significativo de turistas está intimamente ligado com a melhoria do estado da meteorologia e na percepção de que a Primavera se está finalmente a instalar.