Durante décadas, foram dali retiradas toneladas de sal, que era distribuído por todo o País. Se com o declínio dessa exploração e posterior desactivação da extracção, as salinas da Junqueira perderam valor económico, a importância ambiental manteve-se.
Localizadas entre as povoações de Carreira e Sismaria, em território da União de Freguesias de Monte Redondo e Carreira (Leiria), as salinas fazem parte de uma turfeira, um ecossistema raro das zonas húmidas, considerado sumidouro de gases com efeito de estufa devido às suas capacidades de absorção desses gases, nomeadamente de dióxido de carbono.
Característica que faz das turfeiras, como aquela onde se inserem as salinas da Junqueira, uma arma importante no combate às alterações climáticas. Isso mesmo é reconhecido num relatório do Programa de Ambiente das Nações Unidas, segundo o qual, além da redução das emissões de gases de efeito de estufa, é necessário potenciar a capacidade natural de absorção de carbono para lutar contra as alterações climáticas.
Ora, é aí que ecossistemas como as turfeiras têm um papel importante a desempenhar. “A salvaguarda e a restauração do carbono em três ecossistemas – florestas, turfeiras e sistemas agrícolas – pode, ao longo das próximas décadas, ser responsável pela absorção de 50 biliões de toneladas de emissões de carbono que de outro modo entrariam na atmosfera”, afirmou Adam Steiner, director executivo daquele programa das Nações Unidas, aquando da divulgação daquele relatório.
[LER_MAIS] Consciente que esta é “uma questão da maior relevância na actualidade”, nomeadamente no combate às alterações climáticas e no “incremento da resiliência do território e das suas populações”, o município de Leiria tenciona avançar com projectos que visem “preservar, valorizar e recuperar” a zona das salinas da Junqueira, salvaguardando, no entanto, que o objectivo é proceder “a uma intervenção mínima, deixando que a capacidade de auto-regeneração do espaço actue”.
Segundo a autarquia, estão já identificadas “várias possibilidades” de acção, que passarão, por exemplo, por “garantir o bom funcionamento dos sistemas biofísicos, nomeadamente no que toca à livre circulação das águas superficiais e internas” e o “controlo de processos erosivos”.
Outra área de intervenção identificada é a promoção de soluções que “intensifiquem e acelerem os processos de regeneração natural do ecossistema e/ou trave alguns fenómenos de degradação em curso”.
A autarquia manifesta ainda a intenção, embora sem avançar com acções concretas, de promover o enquadramento paisagístico das construções e estruturas existentes. “O espaço não precisa de grandes estruturas. Mais importante do que isso, é a sua protecção, vedando o local, para que não esteja aberto à devassa, e reabilitar, com o mínimo de intervenção possível, o habitat existente”, defende Paulo Lucas, da associação ambientalista Zero, sublinhando que as turfeiras são “habitats muito raros”.
Ecossistema criado pelos monges de Cister
Com uma área de 4,6 hectares, as salinas da Junqueira são parte de “uma área mais vasta de uma turfeira criada pelos monges de cistercienses há mais de meio milénio, quando aqui desenvolveram esforços de ocupação do território nacional conquistado aos mouros e de produção agrícola”, pode ler-se no site da Câmara.
Segundo informação da autarquia, estima-se que a área ocupada por esta turfeira sede de aproximadamente 16,4 hectares, inserida na sua totalidade no vale da Aroeira.
As turfeiras são um tipo de solo principalmente composto por musgos (sphagnum) e cobrem cerca de “3% da área terrestre do mundo, mas armazenam 30% de todo o dióxido de carbono terrestre”.