Por duas ocasiões, critiquei Pedro Santana Lopes, na imprensa local, a propósito da pseudoabertura da base aérea de Monte Real ao tráfego aéreo civil em 2005.
Enquanto eleitor, acabei por lhe perdoar aquele ato vazio de propaganda eleitoral quando o vi e ouvi, no Teatro José Lúcio da Silva, a defender a abertura da base aérea e a disponibilizar-se para, pessoalmente, ajudar nessa causa que é de todos nós na região de Leiria. Já o escrevi e reitero que o interesse do super mediático Santana Lopes, para os atentados políticos contra o desenvolvimento de Leiria, só nos beneficiará.
A atenção que ele possa dar a assuntos como a galopante degradação da linha do Oeste (a que Heitor de Sousa e Assunção Cristas também têm dado especial enfoque), a questão do aeroporto civil em Monte Real ou a melhoria das ligações rodoviárias, como é o caso da criação de uma nova entrada/saída na A1, só trará benefícios.
Aliás, a vinda de Santana Lopes a Leiria representou um sinal de humildade que só lhe ficou bem e que, localmente, o beneficiará nas próximas eleições legislativas.
A propósito de benefícios e ao contrário do que afirma a maior parte dos analistas políticos, considero que o aparecimento do Aliança reforçará a Direita em vez de a enfraquecer.
Acho até que Santana veio dar a “pedrada no charco” que faltava. O CDS está ainda no processo de afirmação da nova líder que tem a dificílima tarefa de suceder ao histórico e emblemático líder Paulo Portas, enquanto o PSD joga contra si próprio numa luta fratricida interna que só enfraquece Rui Rio.
Na verdade, o novo líder do PSD só tem de queixar-se de si próprio. Rodeou-se de pessoas sem prestígio e ignorou o facto de o PSD ser um partido de barões que gostam de ser venerados, sob pena de boicotarem o seu próprio líder.
De nada lhe vale ser competente e bem preparado se tiver os [LER_MAIS] poderes do seu próprio partido contra si. Mas nada está perdido para o Centro-Direita, pelo contrário. Muito do eleitorado flutuante que votou PS quando quiser mudar o seu sentido de voto mais facilmente votará num novo partido social democrata do que no velho PSD.
É assim à Direita e é assim à Esquerda. Se Manuel Alegre tivesse concretizado a ameaça de criar um partido à Esquerda, o Bloco provavelmente nem teria surgido e o PS passaria a ter um parceiro para alcançar maiorias e formar governo.
A mudança é normalmente tida como uma ameaça e nunca como uma oportunidade, daí ser muito raro ser desejada por aqueles que estão instalados e ainda mais difícil de empreender.
Nesse aspeto, a coragem de Santana Lopes é notável. Estava instaladíssimo no PSD, gozando de um prestígio e de um apoio consideráveis, ainda assim, com mais de sessenta anos, mandou tudo às urtigas e partiu à aventura, correndo riscos e sujeitando-se à enorme incerteza do que virá a ser o apoio popular ao seu novo partido. Mas, já dizia a máxima latina, “a sorte protege os audazes”.
A história usa o termo “grande”, referindo-se a algumas personagens que a marcaram por causa da estatura física e não apenas pelos feitos relatados. Nesse sentido, Pedro Santana Lopes bem pode, também, ser assim ser chamado. Goste-se dele, ou não, há que reconhecer-lhe o estatuto de grande político.
*Jurista
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990