Formada em engenharia química, Sara Febra, de 32 anos, tem um sonho: “contribuir para um mundo melhor”. Uma vontade que a levou a tornar-se vegan e a procurar um lugar no sector da energia, consciente de que este é “um dos mais urgentes e importantes puzzles da actualidade”.
Natural de Leiria, trabalha, desde 2020, como engenheira de processos na Equinor, a gigante norueguesa das energias, historicamente ligada ao petróleo e ao gás natural, agora também a apostar forte nas renováveis, com metas de zero emissões de CO2 (dióxido de carbono).
“Quero certificar-me que este objectivo é alcançado também com o meu contributo”, assume Sara Febra, cuja missão na empresa é contribuir para “o design e avaliação de conceitos em termos de emissões de gases de efeito de estufa, tecnologia utilizada, impacto na biodiversidade, preço e segurança de operação das diversas unidades para a produção de energia”.
Actualmente a trabalhar na sede da Equinor, em Oslo, Sara Febra esteve, durante um ano, deslocada em Hammerfest, em pleno árctico, para dar apoio à instalação de liquefacção de gás natural. Foi, diz, “uma experiência única”, pelo contacto com a “acolhedora” comunidade local e com a sua cultura, mas também pela beleza do lugar. “Um sítio onde esquiar debaixo de um céu colorido pelas auroras boreais faz esquecer instantaneamente os dias de tempestades com ventos a 40 metros por segundo.”
Engenharia, a paixão que falou mais alto
Foi, ainda em criança, que Sara começou a sonhar “além das fronteiras” de Portugal, ao mesmo tempo que cimentava o gosto pelas suas raízes. “Eu e a minha irmã tivemos o privilégio de ter uns pais que nos educaram para termos uma mente aberta e certificaram-se que nunca tivéssemos problemas com o inglês, inscrevendo-nos em aulas extra e enviando-nos, sozinhas, para cursos intensivos em Londres”, conta.
Licenciada pelo Instituto Superior Técnico, fez o mestrado na GSK em Inglaterra e o doutoramento no Imperial College London, onde permaneceu como investigadora, a trabalhar na área da “termodinâmica computacional, cujo objectivo principal “é o desenvolvimento e uso de relações matemáticas para estimar propriedades termo-físicas da matéria e, desta forma, poupar esforço experimental no laboratório”.
A atracção pelas “oportunidades de trabalho na indústria energética” e pela cultura de actividades ao ar livre, características que identifica na Noruega, levaram-na a candidatar-se a um lugar na Equinor. A mudança aconteceu em Fevereiro de 2020 e coincidiu com o início da pandemia, circunstância que, reconhece, “não facilitou a integração”. À dificuldade de não conhecer ninguém na nova cidade, juntou-se o isolamento forçado por causa da Covid-19, que acabaria, no entanto, por ser minimizado pelos novos colegas de trabalho, com convites para “tomar café virtualmente e subir montanhas”.
“As amizades com noruegueses, ainda que estereotipicamente levem mais tempo a serem estabelecidas, uma vez estabelecidas, revelam o quão calorosos os noruegueses são na realidade”, salienta a jovem.
O regresso a Portugal não está, para já, nos seus planos, como também não está a intenção de retomar a sua ligação à música como praticante de saxofone, que estudou no Orfeão de Leiria. “Parei de tocar há alguns anos, porque tenho vivido em locais sem bom isolamento acústico e tenho compaixão pelos meus vizinhos”, brinca, assumindo, contudo, que essa não é a verdade toda. “A minha paixão pela engenharia falou mais alto. Continuarei, no entanto, a apreciar a música, agora como membro da audiência.”