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Sara Fernandes: “Poderíamos ter uma aplicação de telemóvel que dissesse se há pessoas infectadas”

Cláudio Garcia por Cláudio Garcia
Maio 29, 2020
em Entrevista
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Sara Fernandes: “Poderíamos ter uma aplicação de telemóvel que dissesse se há pessoas infectadas”
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Como é que, no imediato, os telemóveis, os computadores e as redes inteligentes nos podem ajudar na resposta à Covid-19?
Um pequeno exemplo. O serviço nacional de saúde inglês tem uma aplicação que faz o seguinte: todas as pessoas que têm conhecimentos de CPR estão numa rede, e se houver alguém que tenha um ataque cardíaco, o sistema envia uma mensagem para as pessoas que estejam próximas para ver se têm disponibilidade de ir fazer as primeiras manobras de ressuscitação. Este tipo de aplicações fazem a diferença entre salvar uma vida [e não salvar]. Como esta, existem muitas outras. Obrigou a quê? A ter dados abertos. É um exemplo de uma aplicação que pode estar enquadrada num projecto de smart cities [cidades inteligentes] em Inglaterra, em Portugal, em Itália, onde quer que seja. Qual é a diferença, aplicando à Covid? Poderíamos ter um tipo de aplicação similar que nos dissesse, através de uma aplicação de telemóvel, se no raio de um quilómetro, por exemplo, há situação de pessoas infectadas.

Informação sobre desinfecção de locais, por exemplo, hotéis ou restaurantes, também pode ser integrada num sistema informático e disponibilizada aos utilizadores de uma rede?
Completamente.

As operadoras fizeram estudos para perceber em que concelhos as pessoas saíram mais ou menos de casa.
O lado positivo é que podemos, efectivamente, fazer uma análise do padrão de actividade das pessoas e conseguimos dizer e até prever que pode haver um foco de transmissão, porque as pessoas, de facto, estão a sair mais. Outro lado é a questão dos dados. Quando estamos tão ligados à tecnologia temos de pensar sempre que haverá algum vilão nesta história que vai detectar esses dados e ninguém me garante que eu saio de casa e não tenho uns senhores quaisquer a entrar dentro de casa para me roubar.

Os aspectos da cibersegurança não estão suficientemente desenvolvidos para que possamos dar um passo, ou vários, na direcção do desenvolvimento mais rápido e aprofundado do conceito de cidades inteligentes?
Com toda a certeza, não. Uma coisa que chamo a atenção, sempre, é que isto é constante. A todo o minuto, a todo o segundo, este tipo de ataques estão a acontecer.

De que tipo de riscos estamos a falar para o cidadão comum?
Através do Zoom, por exemplo, conseguir fazer um acesso que possa mudar o reconhecimento facial e criar bases de dados para reconhecimento facial, vender as informações de reconhecimento facial. Outra coisa que se pode fazer é triangulação, estudar a actividade e vender essa informação a empresas para venda de produtos. E outras coisas que são ainda mais perigosas, no caso do Zoom, que é muito utilizado pelas crianças, situações de pedofilia e da dark web. São três situações, para as pessoas, de imediato, que não vejo nenhum tipo de cuidado.

Devemos assumir que, por defeito, estamos expostos?
Mas estamos mesmo.

Voltando ao início da conversa, por que é que não foi possível, nesta pandemia, utilizar a tecnologia e os sistemas informáticos da mesma forma que já se utilizam na área da saúde para outras doenças?
Por uma coisa que se chama Comissão Nacional de Protecção de Dados, que, com todo o respeito, acho que vive na era pré-internet. Esse é o grande problema. Não são rápidos o suficiente, não estão actualizados o suficiente, nem têm o mindset [mentalidade] preparado para os tempos que vivemos. As questões legais estão desfasadas daquilo que está a acontecer, que é muito rápido. E não conseguem acompanhar esta evolução. Acho que a Comissão de Protecção de Dados ainda nem percebeu o que é isto da pandemia.

Tem-se falado na medição da temperatura corporal e quando os alunos do ensino secundário regressaram às aulas a Comissão Nacional de Protecção de Dados emitiu recomendações.
É um exemplo de que a Comissão de Protecção de Dados não sabe o que é uma pandemia. Uma pandemia é o mesmo que uma situação de guerra. Estamos a viver uma situação em que temos de nos proteger a nós e aos outros.

A tecnologia existe, mas não estamos a aplicá-la por questões legais?
Não só. Não há conhecimento de como colocar este tipo de projectos em acção. Temos várias agências, mas não temos uma acção concertada para a base tecnológica. Não existe. Não temos uma estrutura com força suficiente, que consiga ultrapassar aquilo que chamamos de silos governamentais, que são os ministérios, que possa enviar directrizes a todos a dizer “isto funciona assim e são estes os passos gerais que vamos tomar”. Isso não existe em Portugal. Não existe uma acção concertada. Portanto, enquanto não houver, dificilmente vamos ter uma solução que se aproxime do ideal para resolver este tipo de problemas. No caso de países com mais poder económico e mais relevância a nível tecnológico, como uma Alemanha, uma Coreia do Sul, Singapura, Estados Unidos, essa figura existe [government chief information officer, GCIO] e está sediada nos gabinetes dos presidentes – nos Estados Unidos está na Casa Branca – ou nos primeirosministros ou no Ministério das Finanças. Não quer dizer que seja uma pessoa relacionada com a tecnologia directamente. Por exemplo, o primeiro GCIO do presidente Obama era um psicólogo, só que tinha muito poder e uma equipa técnica muito grande que pensava de forma transversal todos os problemas que advinham da tecnologia.

[LER_MAIS]

Em países onde há essa figura ou há uma estratégia, consegue dar exemplos de utilizações feitas no âmbito da pandemia?
Vários exemplos e até pré-pandemia. Singapura, há uns anos, teve um problema com dengue. O governo decidiu que todos os telemóveis iriam ter uma aplicação em que onde houvesse focos toda a gente reportaria e haveria uma acção de limpeza imediata para tentar diminuir o alastramento de dengue. Fez com que o governo activasse todas as estruturas necessárias para combater o problema e de facto resolveram a questão da dengue num abrir e fechar de olhos. No caso de Macau, todos os edifícios têm câmara e por norma próximo dos elevadores tem um reconhecimento da temperatura e do perfil da pessoa.

O ensino à distância veio revelar que existem grandes assimetrias até no acesso a computadores, além do tema da iliteracia digital.
Tivemos um papel muito relevante no avanço da tecnologia, principalmente, no mobile, o primeiro cartão prépago foi desenvolvido na Universidade de Aveiro, temos casos pontuais desse avanço, mas depois, na sociedade como um todo, há muitas assimetrias. A minha aldeia fica a 13 quilómetros do centro de Guimarães e só desde há dois anos é que tenho fibra. Mas, por outro lado, não tenho sistema de esgotos. Isto só veio mostrar quão frágil a nossa estrutura é e como está montada num mundo de faz de conta. Temos a assinatura digital, os acessos online à Segurança Social, ao nosso sistema nacional de saúde, não estou a dizer que isto não é bom, mas o que interessa este tipo de aplicações e acessos se a pessoa não tem internet e tem na mesma que ir aos serviços, que, entretanto, foram fechados?

E a qualidade de acesso à internet não é uniforme.
Ainda esta semana um grupo de investigadores da Austrália conseguiu o acesso mais rápido de sempre à internet, que significa fazer o download de mil filmes em HD por segundo. Eu há três ou quatro anos às vezes tinha internet na minha aldeia a 56k.

Há um investimento grande a fazer?
Muito grande. E há uma coisa que me preocupa: é como as coisas são feitas de forma aleatória. Cada operadora está a fazer a sua ligação à fibra óptica. Repare, se você tem duas casas numa aldeia remota, qual é o interesse de uma operadora passar três ou quatro quilómetros de fibra, que é caríssima? Nenhum. Este é o tipo de estrutura na qual o Estado devia estar presente. Gostaria de um Estado preocupado em criar uma estrutura de fibra óptica em todo o País e depois ter as operadoras a explorar.

É exagero dizer que, quando falamos de cidades inteligentes, há uma parte da população que fica para trás?
Vai haver sempre uma parte da população que fica para trás. Quando falamos de cidades inteligentes, em Portugal, somos tão pequeninos que na realidade estamos a trabalhar os concelhos e não a cidade. Temos um problema grave: temos uma população muito envelhecida. Pessoas que viveram sempre numa era de fax, telefone e computador sem internet, é difícil meterem este tipo de hábito, de usar aplicações, no seu dia a dia. Quando alguém tem este tipo de medos, de ir para o desconhecido, isso significa que vai ficar para trás com o avanço tecnológico. E depois há outra situação: o facto de as pessoas utilizarem algumas aplicações como o Facebook, como o Instagram, não significa que saibam trabalhar com a internet e com as aplicações a 100 por cento. Há uma semana, a Easyjet sofreu um ataque e mais de 5 milhões de contas de clientes foram roubadas. Isto significa o quê? Quando você faz um pagamento online actualmente o que é que acontece? Tem de pôr o nome, o número do cartão, a data e o código que está atrás. A companhia guardou estes dados para verificar se o pagamento era válido ou não. Ao roubarem estes dados, qualquer pessoa pode ter acesso ao seu cartão de crédito e pode fazer as compras que bem entender.

Além da mobilidade e do ambiente, que são os temas mais frequentes, há outros domínios em que se pode melhorar a qualidade de vida, utilizando sistemas inteligentes.
Convencionou-se que um projecto de smart city [cidade inteligente] deve assentar em seis pilares: smart living, smart people, smart economy, smart mobility, smart environment e smart governance [vida, pessoas, economia, mobilidade, ambiente e governação]. Para podermos dizer que algum sítio é smart city, temos de atacar estes seis pilares. O que é que acontece? Por questões financeiras, por questões de desconhecimento ou até por questões de necessidade mais premente, os municípios optam por atacar pilar a pilar. O que eu gostaria de ver num mundo ideal seria uma agenda a 5, 10 ou 20 anos atacando todos estes pilares e depois ter planos de acção. Agora faço aqui de advogada do diabo: por que é que falamos da mobilidade e do ambiente? Porque temos empresas a apostarem em determinadas áreas. Aplicar sensores de luz não é um projecto de smart city, é um projecto como pôr lâmpadas numa rua, é a mesma coisa. Ok, pôs os sensores. Que dados é que estão a recolher para o município, para que ele possa daí retirar informação e que possa, por exemplo, reduzir os custos mantendo a qualidade da iluminação ou dos semáforos na via pública? Garanto-lhe que [o presidente da câmara municipal] vai dizer: “a empresa é que tem isso”.

A empresa é que vai vender a ideia ao município, que depois a aceita?
Sem dúvida. Os municípios, muitos deles, são mais reactivos do que proactivos.

Que bons exemplos de smart cities podemos dar em Portugal?
Há dois bons projectos: Águeda e Cascais. Não é inocente Cascais ser o primeiro concelho a fazer testes gratuitos para a Covid a toda a população. Quando estivemos em lockdown [confinamento], a própria Câmara tinha uma aplicação em que as pessoas faziam as compras no comércio local e depois iam pagar. De todos os projectos que conheço em Portugal, este é o que se aproxima mais de uma smart city real.

Com a tecnologia disponível, o que é que um município já conseguiria fazer hoje?
Não precisaria, por exemplo, de sequer emitir um cartão para andar num transporte público. Conseguiria diminuir a taxa de mortalidade em situações de acidente cardiovascular. A nível ambiental, há uma série de aplicações interessantes para a emissão de CO2 e há projectos de partilha de carros. Depois, conseguiríamos fazer um track [rastreio] para diminuir o uso de plásticos, principalmente, no comércio local.

Acredita que no futuro mais tecnologia nas nossas vidas vai significar mais qualidade de vida?
Quero acreditar que sim. Mas isso depende das fronteiras que cada um e que a sociedade vai impor à tecnologia. Há uma diferença entre utilizar a tecnologia para nos ajudar ou estar refém da tecnologia, que também pode ser disruptiva no meio familiar. Há que encontrar um equilíbrio.

Perfil
 
Especialista em cidades inteligentes, governação electrónica e cibersegurança, Sara Fernandes dá aulas na Universidade do Minho e é autora do relatório E-Gov em Portugal: Situação, Desafios e Estratégia. Escreveu também Smart Cities – Inclusão, Sustentabilidade e Resiliência. É doutoranda em Ciências da Comunicação num programa conjunto entre as universidades do Porto, Minho e Aveiro, com investigação realizada em Macau na United Nations University – International Institute for Software Technology e no HasLab – High Assurance Software Laboratory, unidade de investigação do INESC TEC. Foi cofundadora e special advisor da Universidade das Nações Unidas – Unidade Operacional em Governação Electrónica (e-gov) em Portugal. Formada em Matemática e Ciências da Computação pela Universidade do Minho, é consultora de empresas e agências governamentais. Nasceu há 40 anos na Alemanha e vive no concelho de Guimarães.
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