Com infância e juventude vividas entre Leiria e Porto de Mós, Sérgio Ferreira chegou ao Luxemburgo em 1998. A ideia inicial era passar seis meses, com objectivo de ganhar algum dinheiro para viajar pela Europa, mas acabou por ficar. Já lá vão 27 anos. “Levo mais tempo de Luxemburgo do que de Portugal”, constata o actual director da ASTI, uma associação de apoio a trabalhadores imigrantes, que tem lutado também pelo direito ao voto dos estrangeiros, que representam cerca de metade da população residente no País.
A ligação da família de Sérgio Ferreira ao Luxemburgo começou no final da década de 60, quando os pais, naturais de Leiria e de Famalicão, emigraram à procura de uma vida melhor. Sérgio viria a nascer em Portugal, porque a mãe não tinha família por perto e ainda não falava nenhuma das línguas do grão-ducado, mas meses depois regressaram ao Luxemburgo.
“Vivi cá até aos quatro anos. Nessa altura, os meus pais mandaram-nos, a mim e ao meu irmão, para estudarmos em Portugal. Ficámos com os meus avós na Guimarota e fomos para o Colégio da Cruz da Areia, em Leiria”, recorda o director da ASTI, que acabou por se mudar para Porto de Mós quando os progenitores regressaram a Portugal.
Com o divórcio, o pai voltou ao Luxemburgo e Sérgio Ferreira juntou-se-lhe em 1998, depois de interromper o curso de Direito, por ter percebido que não era aquilo que queria. Neste seu regresso ao grão-ducado levava um plano: trabalhar num hotel, ganhar algum dinheiro para viajar, numa tentativa de descobrir o caminho a seguir. Mas as circunstâncias e as oportunidades trocaram-lhe as voltas. Ficou até hoje.
Dez anos como jornalista
Depois de uns meses no hotel, recebeu uma proposta para trabalhar como secretário na Associação dos Portugueses Independentes no Luxemburgo. Uma das funções que tinha era a de assegurar um programa semanal da organização na Rádio Latina, o que fazia com “uma perna às costas”, porque já tinha tido experiências em rádios piratas e na antiga Rádio Comercial de Leiria.
Em 2001, acabou contratado a tempo inteiro como jornalista, chegando a ser chefe de redacção. A experiência durou dez anos. Em 2011, surgiu um novo desafio, com o convite para porta-voz da ASTI, onde se mantém até hoje, desempenhando actualmente a função de director-político da organização, fundada em 1979, com o objectivo de promover mecanismos de integração dos recém-chegados ao Luxemburgo, procurando assegurar os seus direitos.
“Havia necessidade de apoiar essas pessoas em matérias de acesso à habitação, ao ensino da língua e em questões relacionadas com a Segurança Social”, refere Sérgio Ferreira, reconhecendo que algumas destas dificuldades se mantêm, como o acesso à habitação. “Durante anos, era um problema dos imigrantes. A maioria dos luxemburgueses tinha casa própria. Hoje, afecta todos e há já muita gente a viver nos países limítrofes e a trabalhar no Luxemburgo”, relata.
Luta pelo direito ao voto
Como director da ASTI, Sérgio Ferreira tem a seu cargo a área da comunicação e o trabalho político da associação. Cabe-lhe “estar no terreno, a ouvir e a retirar ilações, para depois transpor essa informação para o nível do trabalho político de sensibilização e de lobby” em defesa dos imigrantes.
Para o dirigente, num país onde vivem cidadãos de “cerca de 200 nacionalidades diferentes” e onde os estrangeiros – incluindo aqueles que vivem em países vizinhos mas que têm empregos no Luxemburgo -, constituem “70% da força de trabalho”, “a coesão social só se consegue se todos fizerem um esforço nesse sentido: uns para acolherem melhor e outros para se integrarem”.
E uma das formas de atingir esse objectivo é, no entender do director da ASTI, alargar os direitos políticos, nomeadamente o de voto, aos imigrantes. “Esta é uma batalha de sempre da associação. Quase 50% da população residente no Luxemburgo não pode votar. Estão excluídos de decisões fundamentais do país.”
Com mais de metade da vida passada no Luxemburgo, Sérgio Ferreira confessa que não tenciona regressar a Portugal nos próximos anos, também por um certo desencantamento que sente em relação ao País. “Como é que de um país de emigrantes, com mais de cinco milhões de emigrantes, se deixou contaminar por discursos de ódio e de racismo? É algo que me choca profundamente.”