“Só com trabalho, estudo, esforço e, por vezes, sacrifícios se conseguem atingir os objectivos. Nada cai do céu. É preciso que não acreditem na sorte. Não teve muita sorte, trabalhou muito”.
Estas foram algumas das palavras de Eduardo Marçal Grilo, antigo ministro da Educação, que esteve no Fórum Educação, organizado pela Câmara de Leiria, com o apoio do JORNAL DE LEIRIA, para abordar o Perfil de Competências do Aluno do Séc. XXI.
Para o também presidente do Conselho Estratégico da Futurália, os alunos devem ter “consciência da complexidade e das dificuldades que vão encontrar na escola” e que é “preciso encarar a vida como um desafio permanente e não ter medo do futuro”.
"Acreditar", "nunca desistir" e "saber gerir os insucessos" foram outras das sugestões deixadas por Marçal Grilo, que admitiu que "este perfil não é fácil de criar", mas "de tudo isto é preciso que resulte o saber ser e o saber estar".
O antigo ministro da Educação considerou ainda que, actualmente, o grande desafio das escolas é descobrir como competir com "iphones", "netflix" ou "youtubers" e mostrar-se como essencial e atractiva.
"A escola tem de tornar uma coisa que é essencial e atractiva", disse, admitindo que se “aprende imenso na internet e nos sites qualificados”. No entanto, Marçal Grilo sossega os professores afirmando que “a aula clássica para conhecimentos de base é essencial", pelo que “não se vão tornar descartáveis”, apesar de existirem "novas formas de aprender e de recolher informação".
Constatando que o conhecimento e as novas tecnologias "evoluem a uma velocidade enorme" e que a "imprevisibilidade é permanente", Marçal Grilo desafiou os professores a "encontrar o talento de cada aluno".
[LER_MAIS] O ex-ministro defendeu que "todos os alunos têm um talento” e “é preciso que a escola seja capaz de identificar os talentos de cada um e depois consolidá-los e torná-los úteis, para que o aluno seja capaz de o utilizar”.
"Procurem abrir os olhos aos vossos estudantes. Não os afunilem. Abram o mundo aos estudantes. Tentem que eles sejam capazes de distinguir o essencial do acessório", acrescentou.
Afirmando que tem uma "grande confiança nos professores portugueses", o ex-governante apelou para os docentes para "não desistirem" de procurarem saber o que atrai os alunos. Susana Brandão, professora de teatro no Instituto das Artes e da Imagem de Vila Nova de Gaia, destacou que os professores devem ser “facilitadores de aprendizagens”.
“Por vezes, temos uma actuação muito by the booke esquecemo-nos de ouvir o outro lado da história”, constatou ainda Adélia Lopes, directora do Agrupamento de Escolas Rainha Santa Isabel, de Leiria. Durante o fórum, alguns docentes destacaram ainda a necessidade de dar importância à criatividade e ter capacidade de inovar.
Programas são “manta de retalhos”
“Um dos pecados originais da política educativa são os programas, que continuam a ser uma verdadeira manta de retalhos”, afirmou José Augusto Pacheco, professor catedrático e presidente do Instituto de Educação da Universidade do Minho, durante uma conferência sobre flexibilização curricular, realizada em Ourém.
Especialista em desenvolvimento curricular, o docente defendeu que a flexibilização em curso devia contemplar também a alteração dos programas e que só terá efeitos reais na autonomia das escolas se o Ministério da Educação tiver uma postura de “verdadeira descentralização” e de “responsabilização das escolas, dos professores e das autarquias relativamente ao sucesso dos alunos”.
Durante o encontro, que marcou o arranque do ano lectivo em Ourém, foram também debatidos temas como o novo perfil do aluno e os desafios tecnológicos na escola.