Ao ler um artigo de opinião chamado O ambientalista simplório lembrei-me de comparar o pensamento do autor, ao gerar este artigo, a uma mistela feita de arroz e de pato, que comi num jantar este fim de semana intitulada, pomposamente, na ementa, de Arroz de pato bravo.
Talvez por estar farta de ouvir os críticos radicais a opinarem como perigoso, porque radical, o discurso de Greta Thunberg (aqui, apetece-me citar Mateus: por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão), tenho-me sentido incapaz de concordar com a ferocidade das críticas feitas ao radicalismo do discurso dos que defendem a necessidade de mudarmos os nossos consumos.
Tal como num prato juntar arroz e pato não faz que nele nos apareça arroz de pato, também não é verdade que (como é sugerido no artigo) só com uma cultura intensiva de olivais no Alentejo se baixe o preço do azeite, tornando-o acessível a todos e assim não ficarem os pobres condenados a comerem bolos!
Ora, chamemos os bois pelos nomes. O que o autor deste artigo fez foi o mesmo que o cozinheiro da mistela que comi pretendeu fazer-me: chamou arroz de pato à junção feita de forma simplista de arroz e pato, e ao adjetivar o pato de bravo tentou desviar a minha atenção da péssima confeção do prato!
Ao apontar as necessidades de consumo dos [LER_MAIS] ambientalistas, interligadas, intensionalmente, de uma forma linear, pretendeu desviar a atenção dos leitores do verdadeiro e sério problema: o custo ambiental da atual sociedade de consumo não é compatível com a existência de vida na Terra e a curto prazo, entre as nações, será gerador de conflitos e guerras.
Para mim teria sido bem mais interessante ler qual a ideia do autor para lutar contra a pobreza provocada pela desertificação dos solos, mantendo-se os modos de produção em massa que hoje se praticam.
Se calhar dizimando os pobres sem terra, deixando a Terra só para os grandes produtores para depois, sim, estes passarem a ter num planeta, depois só seu, métodos de produção mais sustentáveis com que abastecerão as cozinhas de restaurantes, todos eles, carregados com estrelas Michelin.
Comparando as lutas de duas jovens ativistas, a de Greta Thunberg, em defesa do ambiente, e a de Malala Yousafzai, pelos direitos humanos das mulheres, vejo na ferocidade das críticas dirigidas a Greta as balas disparadas pelos talibans que quase mataram Malala e preocupa-me ver, no meu país, tantos comentadores e fazedores de opinião no papel dos radicais talibãs, que quiseram, ferindo Malala, impedir que a luta pelos direitos humanos das mulheres no seu país, na região e no mundo se fortalecesse.
Rajendra Pachauri, fundador do projeto Protect our Planet Movement, e vencedor do Nobel da Paz em 2007, quando esteve em Portugal disse aos jovens: “Vocês têm o poder de pressionar o poder político (…). A juventude tem de tomar as rédeas da situação”.
Felizmente, tal está a acontecer, só os simplórios ainda não o perceberam…
*Professora
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990