Há muito tempo que o mundo é dominado por homens. E por homens com características que lhes permitem chegar à liderança. E, no nosso tempo, na sua esmagadora maioria, homens que dominam duas áreas do conhecimento: Direito e Economia.
Sobra à evidência que o mundo é mal governado. A distribuição da riqueza é infame, o sofrimento inútil continua a existir e a ser inútil e injusto. A corrupção continua um mal enraizado e os motivos não mudam: invariavelmente vende-se a alma ao diabo para ter coisas.
Carros caros sobretudo. Um carro caro significa prestígio porque é a prova evidente e ostensiva do “sucesso”, sendo que “sucesso” é ter aquilo que a maioria das pessoas não pode ter – leia-se “eu sou mais esperto, forte e poderoso que o vizinho, logo sou melhor e a prova está aqui nas centenas de milhares de euros de circuitos electrónicos, design, motores silenciosos e estofos inteligentes que me obedecem”.
Mas a corrupção não se alimenta apenas de carros; as casas, as viagens, os barcos, as refeições e viagens exclusivas, no fundo, um mundo paralelo onde apenas uns poucos acedem, é a marca terrena dos “vencedores”, mesmo que para isso – como é comum nos casos de corrupção – se tenha de roubar, prejudicar, esfolar vidas alheias.
Mas se a competição é o ímpeto da vida que nos trouxe desde as trevas até aos nossos dias, seleccionando os “melhores”, hoje somos capazes de reflectir enquanto espécie amarrada num tempo e num planeta comum, sobre o que é ser “melhor” e ser “vencedor”.
A coisa comum – do bairro à escola – da cidade ao continente, a coisa comum é o que nos falta. Tal como as famílias desavindas que se unem quando alguém tomba numa cama de hospital, tal como as tropas inimigas que ambicionam [LER_MAIS] as tréguas de uma noite de Natal, o mundo todo tem coisas em comum – qualquer que seja o tempo ou geografia – a saber: uma busca incessante pelo prazer e a felicidade, a fuga infindável à dor, a todas as dores. Olhando para o mundo – que extraordinário percurso fizemos da alvorada do tempo até hoje!
Do animal ignorante que olhava assustado uma tempestade, “evoluímos” para o animal arrogante que provoca a tempestade. E agora que temos a casa comum em perigo, continuamos a guerrear-nos como se o tempo fosse infinito, os recursos inesgotáveis, a água potável para todo o sempre e o ar respirável, um dado adquirido.
É pois sobre a pobreza que devemos ocupar-nos. Não apenas a real, objectiva de quem teve por infortúnio não nascer no lugar certo à hora certa, mas da pobreza geral que enquanto espécie nos ataca e permite que – tendo o conhecimento humano chegado tão longe – deixemos a apenas duas disciplinas e um género o rumo dos países e do planeta. Já sabemos que o Direito e a Economia não chegam para decidir bem sobre o mundo.
É tempo de pensar novos modelos de governança, aqueles onde mais áreas são chamadas a dar um contributo. E aqueles onde as mulheres e a sua empatia, como a da primeira-ministra da Nova Zelândia, aplacam a latente e primordial violência.
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