Para não variar, atrasei-me na entrega deste texto e, entretanto, Stephen Hawking morreu. Considerado o ser humano mais inteligente da Terra, nos últimos tempos o cientista dedicava várias das suas intervenções a alertar-nos para as consequências do advento da Inteligência Artificial (IA).
Por coincidência estava precisamente a escrever sobre o tema. Este fim-de-semana, decorre em Leiria o primeiro evento do Paradoxo, ciclo de debates “dedicado a temas de impacto mundial” e a premissa é, nem mais nem menos, aquela sobre a qual Hawking tinha vindo a reflectir: “A IA vai destruir a Humanidade?”.
Hollywood já nos disse várias vezes que sim, mas a verdade é que nunca como agora nos pareceu estarmos tão perto desse “momento Skynet”. Em Novembro de 2017, durante a Web Summit, num artigo para a VICE colocámos a questão ao criador de Sophia, The Robot, a primeira máquina a receber cidadania de um país (no caso, a Arábia Saudita).
A resposta de Ben Goertzel foi simples: “Acho que as pessoas já perceberam que, mesmo que os robots nos matem a todos, antes disso vão deixar-nos desempregados”.
Certo. Começa assim. Precisamente o tipo de alerta que Stephen Hawking deixou na intervenção de abertura da mesma Web Summit e que, aliás, já tinha avançado meses antes: "Dentro de pouco tempo, o auge da poderosa IA será o melhor, ou então o pior, que já aconteceu à Humanidade.
[LER_MAIS] Ainda não podemos ter certezas. Julgo que não há grande diferença entre o que pode atingir o cérebro humano e o que um computador pode fazer, portanto, em teoria, o passo seguinte seria que os computadores pudessem emular a inteligência humana… talvez até excedê-la”. Skynet, aí vamos nós. Um gajo diz isto e ainda se ri. “Sim, sim! Filmes”.
Não devíamos. Ainda por cima agora que o mais respeitado cientista dos nossos tempos se foi e não sabemos bem quem é que poderá ser o “árbitro” que Hawking estava a ser nesta área. Falasse ele de IA, ou de extraterrestres, o Mundo ouvia-o, sem desdém.
Quando há coisa de ano e meio o entusiasmo com a nova tecnologia começou a embandeirar em arco, foi ele que, com o “vamos lá ver bem os prós e contras”, meteu a comunidade científica (e não só) a reflectir, a originar debates como o que ocorrerá agora em Leiria.
Sem Hawking, estaremos mais perto da destruição da Humanidade?
*Editor-in-chief, VICE PORTUGAL