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Home Entrevista

Sofia Ramalho: “Tem crescido o número de jovens com ideação suicida e com comportamentos auto-lesivos”

Elisabete Cruz por Elisabete Cruz
Junho 19, 2025
em Entrevista
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Sofia Ramalho: “Tem crescido o número de jovens com ideação suicida e com comportamentos auto-lesivos”
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Como é que está a saúde mental dos portugueses?
A maior parte dos portugueses já vive a saúde mental como uma questão relacionada com o bem-estar e não só com a preocupação de não ter nenhuma doença mental. Com esta maior consciência, há mais procura por apoio psicológico, embora haja também maior incidência de problemas de ansiedade e de depressão. Há ainda quem procure os psicólogos para desenvolver as suas competências pessoais e tomar decisões, seja face aos relacionamentos ou ao emprego, por exemplo. Também temos tido grupos mais vulneráveis, como crianças e jovens, sobretudo na fase da adolescência, e a população sénior, que surgem com mais situações de sofrimento emocional. Muito desse sofrimento, quando se prolonga no tempo, dá origem a problemas de saúde mental do foro mais clínico.

Os jovens são mais ansiosos e depressivos, mas a adolescência sempre fez parte da vida de todos. Antigamente não eram diagnosticados?
A adolescência sempre foi uma idade crítica, mas o contexto social é muito mais complexo, mais exigente e mais nefasto quanto aos seus efeitos negativos. É uma fase de grandes alterações, onde os jovens se tentam posicionar e ser mais assertivos. É o primeiro ensaio na argumentação e é por isso que surgem muitas vezes conflitos com os pais. Hoje, as redes sociais amplificam muitíssimo aquilo que é a experiência afectiva e racional dos acontecimentos e tanto podem amplificar num sentido positivo, como negativo, quando a partilha põe em causa a imagem, o pensamento ou até uma opção de vida. Portanto, o jovem fica muito mais vulnerável. Há ainda uma preocupação com o desempenho escolar – não é só a pressão da família -, pois existe uma competitividade entre os jovens. Todos querem ser bem-sucedidos, porque o padrão exigido a nível social é de elevada performance. É muito mais difícil atingir esse padrão, que é quase de perfeccionismo. Quanto maior for a distância entre a percepção que o jovem tem de si e a imposição que se coloca a si próprio do ponto de vista do desempenho e da perfeição, vai gerar aquilo a que chamamos de crise. O jovem cai no abismo e podem aparecer os sintomas mais depressivos e de ansiedade. Por isso, tem crescido o número de jovens com ideação suicida e com comportamentos auto-lesivos. O próprio suicídio também tem aumentado. Cada vez há mais situações de divórcio e monoparentalidade, que é exigente para o progenitor, mas também para a criança e o jovem. Temos as situações de reconfiguração das famílias, que obriga a novas adaptações. E, portanto estamos a exigir das crianças e dos jovens muito mais do que se exigia no passado.

O número de psicólogos nas escolas é suficiente?
Saiu recentemente uma resolução na Assembleia da República que define que o novo rácio deve ser de um psicólogo para 500 alunos, que era aquilo que a Ordem defendia. Mas não é só o critério rácio que importa, porque se estivermos em escolas cujo contexto da comunidade é de famílias mais carenciadas do ponto de vista socioeconómico, teremos mais problemas de delinquência ou violência, o que traz outro tipo de dificuldades, até do desempenho escolar. Por isso, há que adequar o número de psicólogos às características das diferentes comunidades.

Tem aumentado a procura de apoio dentro da escola?
O número de pedidos de apoio tem crescido, até de famílias para os seus filhos, porque temos falta de psicólogos no Serviço Nacional de Saúde [SNS]. Com um tempo de espera de dois anos para primeira consulta e seis meses para segunda consulta, as famílias procuram os recursos onde eles estão. Isso significa que os psicólogos ficam impedidos de fazer o trabalho que deviam fazer na escola. É evidente que o psicólogo pode ter de atender a pedidos de jovens que se encontram numa situação de sofrimento e que necessitam de uma intervenção de curta duração. Chama-se a isto aconselhamento psicológico. Mas o trabalho que o psicólogo faz nas escolas deve ser mais ao nível da prevenção e da promoção do desenvolvimento dos jovens. É importante os psicólogos fazerem uma espécie de diagnóstico do ecossistema escolar, bem como a organização dos espaços públicos. Se em dias de chuva os jovens não têm para onde ir, vão ficar no corredor, o que potencia conflitos. Também é importante termos os auxiliares de acção educativa preparados. Depois há o trabalho com os professores, que precisam de formação e de estratégias que os psicólogos da educação estão preparadíssimos para dar. 

A OPP alertou que uma em cada 100 pessoas vive com esquizofrenia e duas em cada 100 terá perturbação bipolar. Os serviços públicos têm respostas adequadas?
Portugal é um dos países com mais situações de doença mental. Isto significa que ainda se está a apostar muito pouco na prevenção, porque as situações de doença mental iniciam-se com algo que pode ser uma adversidade, que fragilizou a componente emocional. Se o apoio não está disponível no imediato, porque não há dinheiro para ir ao privado ou porque a lista de espera é grande, a fragilidade emocional vai-se arrastar durante anos. No início a pessoa é funcional e não percebe que está a adoecer de dia para dia. Há um momento em que deixa de ser uma vulnerabilidade emocional e passa a ser uma doença mental. Há outro tipo de doenças mentais que têm factores hereditários e genéticos, como a esquizofrenia, que carecem de intervenção preventiva para que não evoluam para uma alta disfuncionalidade. É possível viver com uma doença mental mais grave de uma forma compensada e equilibrada, naturalmente, com uma intervenção farmacológica. As respostas de saúde pública para estas situações são altamente deficitárias e não podem acontecer só no contexto da psiquiatria. O apoio psicológico tem de coexistir simultaneamente e não se trata só de uma intervenção individual e farmacológica. Tem de ser uma intervenção no seio das comunidades. Por exemplo, é muito comum as pessoas com doença mental grave terem momentos menos ajustados e mais facilmente perdem o emprego. Ora, é preciso antecipar este tipo de situações e os psicólogos que estão na comunidade trabalharem com as entidades empresariais, no sentido de sensibilizar para estas situações. Mas não é só do ponto de vista da literacia, é efectivamente ter programas dentro das empresas que possam permitir acomodar as funções e dar o suporte necessário quando se identificam os primeiros sinais de descompensação. Isto é algo que ainda não existe no nosso País, mas que faria toda a diferença.

Portugal também é dos países onde mais se prescrevem ansiolíticos e antidepressivos. A falta de psicoterapia é uma das razões? Ou somos mais stressados e depressivos?
A falta de psicólogos gera muito mais recurso a psicofármacos para resolver as situações. Quando as pessoas ficam numa situação em que já não se conseguem levantar para ir trabalhar, não descansam nem comem bem e a irritabilidade é muito superior, ficam desesperadas. Não tendo psicólogos disponíveis, vão à farmácia sem receita médica ou a um médico qualquer queixar-se dos sintomas e o psicofármaco a forma de resolver o problema de forma mais imediata e rápida.

A falta de psicólogos no SNS é uma questão política?
O poder político ganhou mais consciência da importância que se tem de atribuir à saúde mental. Mas do ponto de vista da operacionalização prática de medidas, com o respectivo financiamento que é necessário, ainda está muito aquém. Temos de ser coerentes entre as prioridades estabelecidas no orçamento público e a forma como organizamos as respostas. Há orçamentos que são escassos e há um problema de estabelecimento de prioridades, pois prioriza-se mais facilmente a doença física visível e não a doença mental, porque não é visível. Além disso, não se organizam as respostas, que têm de existir no centro de saúde, no consultório, mas também nas instituições onde as pessoas trabalham.

A OPP tem lançado vários documentos, como Vamos falar sobre saúde menstrual ou Perguntas e respostas sobre reabilitação psicossocial na doença mental. É uma forma de estar mais próximo da comunidade?
A OPP é uma instituição que, obviamente, responde às necessidades dos seus profissionais, mas tem uma responsabilidade do ponto de vista da saúde pública. Elabora documentação de apoio para os seus profissionais, mas também documentação de literacia em saúde e em saúde psicológica para as populações, de modo a universalizar o acesso à informação credível e de base científica, para que se discrimine menos e se diminua o estigma. A literacia altera comportamentos, torna as pessoas mais empáticas e aumenta o auto-conhecimento.

Como é que reage a comentários de que a depressão depende da vontade da pessoa e que um homem não vai ao psicólogo?
Ainda temos, sobretudo em Portugal, um problema cultural. A nossa cultura é mais conservadora. Isso inibe a procura de ajuda, porque não posso reconhecer que estou emocionalmente mais frágil. Se uma pessoa tiver um problema no coração a doença é reconhecida, na cabeça nem tanto. Sabe onde é que mais se nota esse tipo de estigma? Nos locais de trabalho, onde temos menos psicólogos. Se alguém disser: torci um pé, não consigo deslocar-me, não há problema nenhum. Se a pessoa disser, hoje estou deprimida, não me consigo levantar. Já é um grande problema, o que mostra a tal dimensão cultural.

O psicólogo deveria estar acessível em todo o lado?
O motivo para a procura do psicólogo não tem de ser uma doença grave ou um problema de saúde mental. Pode ser para aconselhamento numa tomada de decisão ou uma necessidade de desenvolvimento pessoal. Os profissionais precisam de ser vistos de uma outra forma por parte da sociedade e do poder político. O psicólogo não é simplesmente a pessoa que está num consultório. Pode estar a apoiar decisões junto com o Governo, para fazer com que a população adira a hábitos de vida mais saudáveis, por exemplo. Se os euros que investimos não forem para a remediação e vierem para a prevenção, vamos conseguir diminuir o número de situações que poderão vir a estar na remediação. Há um mindset que é preciso mudar. Para isso, o poder político e os cidadãos têm de olhar para os psicólogos, como aqueles profissionais que trabalham na prevenção e na mudança de comportamentos e estão disponíveis para apoiar o desenvolvimento emocional, pessoal e social das pessoas.

Devíamos todos ir ao psicólogo?
É o melhor investimento da vida das pessoas. Claro que nem todas as pessoas têm possibilidades económicas para o fazer e, por isso, o Estado tem de providenciar isso.

Quais são as medidas urgentes que preconiza para a carreira dos psicólogos para darem as respostas devidas?
A primeira é a valorização e a segunda uma reorganização das respostas. Devemos ter o apoio do Estado na organização das respostas mais integradas para as famílias. É preciso que haja esta consciência da importância que os psicólogos têm nos mais diversos sectores para providenciar o acesso livre e universal das pessoas ao seu desenvolvimento pessoal, social e emocional. É preciso colocar psicólogos onde eles são mais necessários. Estão 1.100 psicólogos no SNS, 1.700 nas escolas, estão ‘meia dúzia’, nos serviços prisionais e no sector social, na intervenção das crianças e dos idosos nas estruturas residenciais… Já são bastantes, mas em situações de enorme precariedade. Há psicólogos a receber pouco mais do que o ordenado mínimo e estão dependentes de financiamentos públicos para os projectos. Acaba-se aquele financiamento e o psicólogo sai. Se calhar, até se renova o financiamento, mas só seis meses depois. Isto não é sustentável nem é um serviço de qualidade. Os psicólogos trabalham com os mais vulneráveis e precisam de estabilidade, de reconhecimento, de poderem fazer uma carreira digna, com continuidade e de um espaço para se auto-cuidarem.Percurso

Bastonária desde Novembro
Eleita bastonária da Ordem dos Psicólogos Portugueses, no final de Novembro, enquanto vice-presidente Sofia Ramalho foi responsável pela pasta da Educação. Com um mestrado científico em Intervenção Psicológica com Crianças e Jovens, é especialista em Psicologia da Educação e Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações. Tem apostado na consultoria psicológica colaborativa em contexto escolar, desenhando projectos de intervenção educativa e de promoção e prevenção. Admite a utilização de psicadélicos em situações específicas de saúde mental e já comprovadas cientificamente, mas defende o seu uso como último recurso e com apoio à decisão de um grupo multidisciplinar. “Carece de protocolos muito específicos, onde a dimensão da ética associada à tomada de decisão tem que estar presente. A pessoa tem de estar em primeiríssimo lugar.”

 

 

Etiquetas: alunosansiedadedepressãoentrevistaescolasOrdem dos Psicólogos Portuguesespsicofármacospsicólogasaúdesaúde mentalsociedadeSofia Ramalho
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