Vive exclusivamente em águas subterrâneas, em “total escuridão”, mas respira ar, “motivo pelo qual vem constantemente à superfície para renovar o oxigénio”. É cego, despigmentado e não tem asas.
Falamos de Iberoporus pluto, parte do nome dedicada a Plutão (governante do submundo na mitologia grega), uma nova espécie de escaravelho descoberto por Sofia Reboleira, a “mulher das cavernas” que se dedica a procurar novos seres nos escossistemas subterrâneos. Até o momento, a bióloga, natural de Caldas da Rainha, já contribuiu com 58 novas espécies e seis novos géneros para a ciência.
A descoberta mais recente foi o Iberoporus plutos, o primeiro escaravelho descoberto em Portugal – e o quarto na Europa – que é estigóbio, ou seja, vive apenas em águas subterrâneas. A espécie foi encontrada na Gruta do Soprador do Carvalho, que “é a maior cavidade do sistema espeleológico do Dueça, no concelho de Penela”, explica Sofia Reboleira, que nesta descoberta fez equipa com Ignacio Ribera, do Instituto de Biologia Evolutiva (Espanha).
[LER_MAIS] A nova espécie foi recentemente descrita num artigo assinado pelos dois investigadores e publicado no jornal científico ZooKeys. “É um escaravelho total escuridão, é cego, despigmentado e não tem asas, características decorrentes da adaptação à vida na escuridão. Ao contrário das outras espécies de escaravelhos cavernícolas europeus, não tem o último par de patas especialmente adaptado à natação, embora seja um excelente nadador”, descreve Sofia Reboleira.
Em declarações ao JORNAL DE LEIRIA, a bióloga frisa que “esta espécie é endémica da Gruta do Soprador do Carvalho”, pelo que, “a visitação e pisoteio do seu interior podem pôr em causa a sobrevivência desta espécie”. Nesse sentido, recomenda-se “um acesso condicionado ao seu interior” e desaconselha-se o seu uso para “fins turísticos, dada a sua sensibilidade ecológica”.
Investigadora e professora associada do Museu de História Natural da Dinamarca, da Faculdade de Ciências da Universidade de Copenhaga, Sofia Reboleira está também a coordenar um projecto de investigação sobre os impactos das actividades humanas nos ecossistemas subterrâneos à escala global, com trabalho de campo em diferentes continentes.
Percurso
Apaixonada pelo mundo subterrâneo
Especializada em biologia subterrânea, Sofia Reboleira, 38 anos, tem dado importantes contributos para o conhecimento do património biológico que se esconde no subsolo, com a descoberta de 58 novas espécies para a ciência, a maioria delas exclusivas de cavernas.
Entre essas descobertas está o maior insecto cavernícola terrestre da Europa, que a investigadora identificou, em 2012, no Algarve, e uma nova espécie de escaravelho "sem asas e sem olhos viáveis" que encontrou em Krubera-Voronya (Georgia), gruta que é considerada o maior abismo da Terra, onde descobriu e descreveu a comunidade de invertebrados subterrâneos mais profundos do planeta. Mas foi outro 'bichinho', o da espeleologia, que lançou Sofia Reboleira no estudo dos seres das profundezas. Foi aí que nasceu a paixão pelo estudo dos animais que vivem nas cavernas, área em que tem desenvolvido a sua investigação. Fez a licenciatura – em Biologia -, o mestrado e o doutoramento na Universidade de Aveiro.