“A Arfai Ceramics tem 26 anos de existência e já viveu momentos difíceis, mas nunca como hoje viu os seus custos escalar de forma tão descontrolada. Assisto ao aumento do gás natural com pânico e não quero ainda crer que o meu segundo custo (depois da mão-de-obra) subiu 994% desde Agosto 2021”.
Numa publicação no facebook, Carla Moreira, CEO desta unidade de cerâmica de Alcobaça, reconhece que a empresa que dirige “não conseguirá suportar muito tempo aumentos loucos de 1000% no gás natural, sob pena de arruinar a sua saúde financeira”.
Tal como alerta que a indústria cerâmica “não sobrevive” se estes aumentos continuarem. “As dispensas de trabalhadores na região e regiões confinantes já começaram em várias empresas. Outros dizem que vão desligar os fornos e essa é a última coisa a fazer, o fim”.
“Recuso este cenário”, diz na publicação a empresária, sem contudo esconder a sua “frustração depois de quase 30 anos de trabalho” e o sentimento de “impotência” face a esta escalada dos preços do gás natural.
“Os nossos governantes têm de prestar atenção depressa às ‘Arfais’ deste País, sob pena de morrerem todas”.
“A expectativa é que em Março fechem 12 empresas. Neste momento há sete com a laboração suspensa”, diz ao JORNAL DE LEIRIA José Luís Sequeira. Nenhuma delas é da região de Leiria.
“Uma empresa que em Janeiro do ano passado tinha um custo anual na ordem dos dois milhões de euros, a este ritmo de subida de preços estará a pagar 16 milhões no final de 2022”, exemplifica o presidente da associação Apicer.
“A situação é caótica. As empresas não podem continuar a produzir nestas condições, porque quanto mais produzirem mais dinheiro perdem”, sublinha. “Se nada for feito”, haverá falências e despedimentos no sector.
“Estou bastante preocupado”, admite ao JORNAL DE LEIRIA Jorge Vala, presidente da Câmara de Porto de Mós, concelho onde a cerâmica emprega cerca de 2000 pessoas, ou seja, 15% dos trabalhadores activos.
“As empresas que ainda não sentem as subidas significativas vão sentir quando entrarem em vigor os novos contratos” de fornecimento de gás natural.
“Com custos de energia desta dimensão, as empresas entram em incumprimento ou são obrigadas a parar”, reconhece o autarca, que entende que as empresas “precisam de apoio à tesouraria”.
Anunciados apoios
Eficácia é “muito pouco relevante”
As empresas mais expostas aos custos da energia terão acesso a linhas de crédito e apoios a fundo perdido, anunciou esta segunda-feira o ministro de Estado e da Economia, que apresentou um conjunto de medidas para fazer face ao aumento dos custos da energia, agravado pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia. A linha de crédito de 400 milhões de euros destina-se a empresas que operem na indústria transformadora ou nos transportes. Também haverá apoios a fundo perdido, que poderão ascender a 360 milhões de euros. Medidas que para José Luís Sequeira “não são de desprezar”, embora em termos de eficácia sejam “muito pouco relevantes” e “não se traduzam em vantagens” para a cerâmica. Lembrando que o dinheiro obtido nas linhas de crédito terá de ser pago, mais cedo ou mais tarde, o dirigente defende que o Governo tem de ponderar conceder ajudas de Estado. “É isto que tem de fazer, e quanto mais depressa melhor”.