A produção ainda decorre normalmente na Sindutex, fábrica de confecções do concelho de Pombal, mas o cenário poderá ser bem diferente em Abril. Matérias-primas como tecidos e botões poderão faltar, uma vez que as centrais de compra nas quais se abastece estão a atrasar as encomendas junto dos seus fornecedores, devido ao surto do coronavirus.
“Estamos em pânico”, admite Jorge Neto, que diz que mesmo que as centrais façam as suas compras este mês as fábricas de confecções só terão matérias-primas lá para o final de Maio. O sócio-gerente reconhece que se faltarem tecidos e outros artigos fundamentais para a sua actividade não sabe o que fazer com os 300 trabalhadores durante Abril e Maio.
Este é apenas um exemplo das muitas empresas que estão a sentir os impactos do Covid-19, na região e no País. A Associação Empresarial de Portugal fez um inquérito junto de 200 empresas, na semana passada, e vê com “elevada preocupação” os resultados, na medida em que são já cerca de um quinto as que mencionam um impacto negativo significativo ou muito significativo.
As dificuldades de abastecimento no exterior, em particular de matérias-primas (sobretudo provenientes da China e de Itália), mas também de produtos, a redução de encomendas, o cancelamento ou adiamento de eventos internacionais como feiras, as dificuldades nas viagens e, de modo geral, o abrandamento económico, estão entre os principais constrangimentos apontados.
“Este quadro agrava-se de forma muito vincada em relação às perspectivas futuras, com os empresários a mostrarem-se muito apreensivos, com praticamente metade a considerar que vai sofrer um impacto negativo, de forma significativa ou muito significativa, e apenas 5% a considerar que não espera ter qualquer impacto negativo”.
“Imaginamos que possa vir pancada”, admite Jorge Santos, director-geral da Vipex, empresa produtora de artigos em plástico da Marinha Grande. O gestor diz que se está a tentar acautelar o fornecimento de matérias-primas, porque embora os seus fornecedores sejam nacionais ou europeus sabe-se que compram na China. E mesmo matérias-primas fabricadas nestas zonas podem ter componentes fabricados neste país, como é o caso dos corantes.
Várias outras empresas da região com quem o JORNAL DE LEIRIA falou estão igualmente a tentar acautelar o fornecimento de matérias-primas, mas nem isso tem sido suficiente. Há já casos de empresas que reactivaram linhas de produção de artigos que até aqui importavam e de outras que se viram obrigadas a adiar a entrada em funcionamento de novas linhas de produção por falta de componentes oriundos da China.
“Temos stock para os pedidos já feitos, mas prevemos problemas para receber os artigos da próxima colecção. Se não os recebermos não os podemos vender, e passa a oportunidade”, diz o responsável de uma empresa de artigos de papelaria.
[LER_MAIS] “Os nossos clientes estão com alguns problemas em produzir, o que nos afecta também, porque é tudo feito just-in-time”, afirma Pedro Colaço, director da KLC, fabricante de componentes para a indústria automóvel. O empresário da Marinha Grande reconhece que os impactos do surto do Covid-19 já se fazem sentir, porque os clientes da empresa são sobretudo da área electrónica, “fortemente dependentes” de fornecimentos oriundos da China.
“Temos compromissos assumidos que não vamos conseguir cumprir”, reconhece Silvino Sousa, responsável pela Normax, adiantando que já este mês haverá ruptura de stock num artigo, que preferiu não especificar. “Já temos confirmação da parte de alguns fornecedores de que só em Junho poderão entregar produto”, diz o empresário da Marinha Grande. A empresa produz vidro científico e vende artigos de laboratório, como luvas e máscaras, e sentiu nos últimos dias um aumento exponencial dos pedidos destas. Chegaram encomendas do México e de Hong-Kong, pedindo máscaras aos milhões. Como este não é o core-business da empresa, não tinha stock e não pôde satisfazer os pedidos.
A procura de máscaras subiu em flecha e fez subir os preços. Dulce Caçador, directora da fármácia situada nos Marrazes, diz que na semana passada vendeu “mais de mil”. Em épocas normais eram vendidas dez por mês. Uma máscara cirúrgica, que antes custava 30 cêntimos, passou a custar 1,5 euros. Mesmo assim, esgotaram rapidamente. “As primeiras pessoas a procurar foram os chineses, para enviar para a China”, conta a responsável pela farmácia, onde esta terça-feira ainda havia máscaras (não cirúrgicas). A 4,90 euros cada.
Empresa cria aplicação para rastrear coronavírus
A Do iT Lean desenvolveu uma aplicação que “permite rastrear de forma rápida e eficaz” os sintomas do coronavirus. De acordo com a empresa de Leiria, “a Do iT Lean criou o Health Status Reporting, uma aplicação web responsive suportada na plataforma Low Code da OutSystems. A aplicação foi concluída em apenas cinco dias e com apenas um programador, permitindo à equipa reportar diariamente e de forma rápida medições de temperatura e outros sintomas importantes do coronavírus, como dor de garganta, tosse ou falta de ar, para que possam ser tratados e rastreados”.