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Home Entrevista

Susana Ramos Pereira: A pandemia consciencializou e empoderou as vítimas

Elisabete Cruz por Elisabete Cruz
Setembro 23, 2021
em Entrevista
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Susana Ramos Pereira: A pandemia consciencializou e empoderou as vítimas
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A pandemia escondeu muitos casos de violência doméstica ou o facto de mais pessoas estarem em casa originou mais denúncias?
Veio esconder por dois motivos: vítima e agressor estiveram juntos em casa, mas não estiveram sozinhos. Os filhos estiveram sem aulas e os vizinhos também estavam ali, o que aumentou a necessidade da vítima aguentar e não reagir. A vítima calou e aguentou para os filhos e a vizinhança não se aperceberem. Houve um silenciamento muito grande. Quando as pessoas recomeçaram a trabalhar tivemos um boom de procura, que nos levou a pensar: a violência aumentou. Não me parece. A vítima calou-se. Este silêncio fez também com que crescesse dentro delas esta consciência de que tinham de sair deste ciclo de vitimização. Notámos um aumento enorme na procura quando elas começaram a sair de casa. Chegaram aqui, não com a ideia de que eu vou tentar outra vez, mas de que eu preciso de ajuda, porque não aguento mais.

No sentido de empoderamento, a pandemia acabou por ser “boa” para as vítimas?
Consciencializou. O facto de as vítimas terem de aguentar os maus-tratos psicológicos, às vezes físicos e sexuais, e não reagir para que não houvesse um escalar da violência, porque estavam ali presas, deu-lhes alguma força para, quando puderam, nos procurarem e nos dizerem: isto tem de acabar. Não quero só apoio psicológico. Quero que me ajudem a pedir apoio jurídico, porque me quero divorciar e apresentar queixa. Fizemos esses passos com uma série de vítimas que se empoderaram a elas próprias dentro da desgraça que viveram.

Estamos a falar de mulheres de que idades?
Temos uma faixa etária entre os 40 e os 50 anos, pelo menos na nossa zona. Mas não são só mulheres, também há homens e idosos. Temos [LER_MAIS]idosos a vir pela primeira vez ter connosco com a ideia de que isto tem de parar. É complicado porque muitas vezes a pessoa agressora é um descendente.

Torna-se mais difícil apresentar queixa contra um filho?
Muito mais. Primeiro porque já estão mais isolados socialmente, depois porque se nos pusermos no lugar de um pai ou de um mãe sentimos o quão difícil e o quão temos de estar naquele raiar de não aguentar mais mesmo para apresentarmos uma queixa contra um descendente. A Covid trouxe-nos vários problemas e um deles foi o económico-social. Houve muita gente a regressar a casa dos pais e não foi porque queriam estar com eles. Os idosos dificilmente pedem ajuda sem que cheguem a um ponto de ruptura.

É mais difícil aos homens pedir ajuda?
Sim, por uma questão de cultura. A mãe e o pai ensinaram-lhes que o menino não chora, que homem que é homem tem de mostrar que é macho. Tudo o que fazemos hoje é fruto de muitos anos de ensinamentos. Têm vergonha não só de vir a nós ou a outro órgão de polícia criminal, mas também do que vão pensar lá fora se descobrirem que é vítima de violência doméstica. Mas não se devem sentir inferiorizados por isso. A violência não tem sexo. No ano passado tivemos apenas seis vítimas homens e 84 mulheres, isto para casos novos no atendimento. Estes homens situam-se no escalão 35-45 anos.

Que tipo de violência sofrem?
Psicológica, essencialmente. “Não vales nada, não trazes dinheiro para casa, não cuidas bem de ninguém”. É uma violência muito grave e que às vezes achamos que é normal, e não é. Nenhum tipo de violência é normal. Alguns também sofrem de violência financeira. Homens e mulheres são vítimas e agressores. Não há idade nem sexo para a violência doméstica. Apesar de 85% dos casos as vítimas serem mulheres, haverá muitos casos escondidos de violência sobre homens.

A lei mudou e as crianças passam a ser contabilizadas como vítimas directas, mesmo que só assistam à violência. Concorda?
Isto foi um passo de gigante. Eram vítimas silenciosas. Felizmente, foi colocada uma alínea no Código Processo Penal de que a vítima engloba também a criança que assiste ao acto de agressão. Estas crianças, não sendo agredidas no sentido físico, ao assistir, são extremamente agredidas e ainda por cima são pessoas em formação, cujo trauma vai ficar enraizado. Bato as palmas a esta aprovação e à consequente abertura das respostas de apoio psicológico para crianças e jovens vítimas de violência doméstica. A Mulher Século XXI vai ter o Gabinete Girassol, que esperamos abrir em Outubro. Este projecto integra os dez municípios da Comunidade Intermunicipal de Leiria. Teremos o Gabinete Girassol num espaço físico em Leiria, apoiado pela Câmara, e depois teremos um técnico itinerante nos outros municípios. Este gabinete vai dar apoio psicológico e psicoterapia a crianças e jovens até aos 18 anos vítimas de violência doméstica.

É um apoio importante para situações como a que assistimos recentemente de um jovem que matou o pai, para evitar a morte da mãe e da irmã?
Quando as crianças começam a assistir a estes actos desde muito novos, se não forem apoiados vão copiá- -los. Ou então vão tentar fazer o que fez este jovem: tentar ser os heróis e proteger o elo mais fraco da relação. Este jovem deve ter sofrido muito, deve ter tido um trauma muito grande. Quando vamos às escolas e lhes perguntamos sobre a violência no namoro, dizem-me que não há. ‘A minha namorada empurrou-me mas isso é normal, o meu namorado forçou-me a fazer sexo, mas é normal, é porque gosta de mim…’ Esta normalização da violência tem de ser desconstruída. Se andarmos para trás, vemos que as maiores vítimas de hoje foi quem mais ensinou no passado. Por tradição as mulheres educam e cuidam.

Em casos de divórcio os filhos são usados, muitas vezes, como armas de arremesso. Há relatos de falsos possíveis abusos sexuais, para tentar prejudicar o pai. Isto também é um acto de violência?
Claro que sim. Temos de começar a ver a violência como algo que não é apenas o que vemos e percepcionamos. Tudo o que se passa dentro de um lar e que diminui uma das partes dando força à outra para agredir é violência. Uma pessoa que não tem acesso a telemóvel, às chaves ou ao dinheiro é violência. Ele não lhe bate, não lhe falta com comida em casa e não lhe chama nomes, mas isto é violência. Não podemos admitir nenhum tipo de violência.

A violência doméstica está mais refinada?
Cada vez vemos coisas piores da parte do agressor, não no sentido da vítima sair mais ferida fisicamente, mas muito mais refinados ao nível de ataque psicológico, de baixar a auto-estima, de fazer com que a pessoa chegue àquela condição em que acha que não vale mesmo nada. Essa violência é extremamente dura e traumatizante.

Como se explica que em pleno século XXI os números de violência doméstica se verifiquem em casais jovens ou no namoro?
É muito triste. Ninguém consegue explicar como é que os jovens de hoje ainda aceitam isso. A única explicação é que consideram normal. Talvez por alguma carência de afectos e por uma falta de amor próprio.

É possível substituir a pena de prisão pela frequência de formações contra a violência doméstica. Isso terá impacto no agressor e facilitar uma reconciliação?
Espero que tenha algum impacto, mas também espero que não volte para a mulher. A reconciliação nem se deve pôr em causa. Haverá sempre a ascendência. Em relação a esses projectos são extremamente importantes. Defendo que os agressores devem ser acompanhados, porque também precisam de ser ajudados a mudar. Ninguém precisa de ser agressor para todo o sempre como também não precisa ser uma vítima para sempre.

Com o regime talibã no Afeganistão, as mulheres estão a ser alvo de violência e perdas de direitos, apenas por serem mulheres. Temos de aceitar a bem da sua cultura?
Não temos de aceitar nada que vá contra os direitos humanos e os direitos das mulheres são direitos humanos, como o direito ao ensino ou à habitação. Sempre que eles são postos em causa, o mundo tem de se erguer contra isso. Estamos a ver 20 anos de conquistas pequenas, mas extremamente importantes no Afeganistão, a serem de repente destruídas. De repente, as mulheres não podem nada. Já ninguém estava preparado para este retrocesso. Todos temos de nos chocar e mostrar que isto não pode ser. Em 2021 já não devia ser apedrejada uma criança, porque ia de sandálias por baixo da burka e se viram os pezitos. Temos um dever enorme de lutar contra isto. Cada vez temos de nos unir mais em torno dos direitos humanos sejam eles de mulheres ou de homens. Como? Não sou política. Ao meu nível vou criticar sempre.

O movimento #MeToo denunciou o assédio sexual e a pressão sobre as mulheres para conseguirem algo em troca de favores sexuais. Vozes vieram dizer que se ‘puseram a jeito’. A mulher ainda é vista como um objecto? As mulheres não são culpadas do que quer que seja. Pôr a jeito?
Todos nós nos podemos pôr a jeito. Se ponho um sapato alto ponho-me a jeito, porque posso cair. Se um homem anda de tronco nu também se põe a jeito. Agora, a jeito de quê. Mais uma vez estamos a entrar naquele estereótipo. As nossas cabeças é que ainda não se puseram a jeito de apanharem a informação de que precisam. Continuo a não conceber que o facto de eu sorrir para alguém seja motivo para me fazerem mal e dizerem que o meu sorriso fez com que me pusesse a jeito. Temos de trabalhar muito na prevenção e na sensibilização e em rede. Temos de nos unir a travar esta batalha que é pela dignidade humana e pelos direitos humanos. A mulher tem de ser tratada de maneira igual, não é mais.

Concorda com as quotas na política?
É horrível, mas elas são precisas, infelizmente. Se as mulheres não chegam ainda aos cargos de poder dentro de uma empresa mais dificilmente chegam aos quadros de um país. Logo que se possa deveriam deixar de existir.

Perfil
Uma tradutora a lutar pelos direitos humanos e das mulheres
Susana Ramos Pereira, 54 anos, é co-fundadora da Associação Mulher Século XXI, entidade criada por Isabel Gonçalves em 2001. Natural de Coimbra, abraçou a presidência da associação para dar continuidade ao projecto da sua mãe, que se viu obrigada a abandonar o seu sonho por motivos de saúde.
“Isto é o sonho de uma mulher muito grande, que é a minha mãe. Tinha de tentar dar continuidade a este trabalho, que faz de mim uma filha orgulhosa. A luta pelos direitos das mulheres e contra a violência doméstica é o sonho de uma mulher chamada Isabel Gonçalves, que também abriu a primeira Federação de Mulheres do PS”, afirma a presidente da associação.
Tradutora/intérprete em Português, Inglês, Francês e Espanhol, está a terminar o Mestrado em Mediação Intercultural e Intervenção Social. “Senti necessidade de adquirir algumas competências, apesar de trabalhar na Segurança Social há 22 anos.”
Susana Ramos Pereira garante que a sua liderança na associação “não é uma herança” e desafia a que outros presidam à Mulher Século XXI, quando o seu mandato terminar. “Isto não é um reinado. Venham, desde que sintam o amor pela causa.”
Etiquetas: associaçãodireitos humanosentrevistaMulher Século XXImulheressociedadesusana ramos pereiraviolência doméstica
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