A Câmara Municipal de Leiria anunciou esta semana que vai assumir a gestão das antigas instalações do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), um imóvel com mais de 5.000 metros quadrados, que está abandonado há vários anos, e que fica nas proximidades da estação ferroviária.
O objectivo, segundo a autarquia, é instalar ali um ‘hub’ criativo, com disponibilização de espaços de trabalho, de investigação e desenvolvimento e de áreas para residências artísticas, espectáculos e formação.
A notícia, assim a cru, pode ser, sem dúvida, uma boa notícia para o movimento associativo cultural do concelho e da região.
Mas, tendo em conta o passado, e alguns contornos recentes, é normal que se levantem algumas reticências quanto à verdadeira intenção do município, ou melhor, quanto à estratégia que está (ou não) subjacente a mais este anúncio de projecto.
Recuemos a Novembro de 2016.
Nessa data, foi anunciada a compra do edifício do antigo Paço Episcopal, para instalar a loja do cidadão, no espaço antes ocupado por uma loja de roupa.
Para os pisos inferiores, onde chegaram a funcionar duas salas de cinema, foi aventada a hipótese de se criar uma zona para actividades culturais.
Mas foram precisos seis anos para que lhe fosse dado um destino: está agora prometido um espaço cultural, de criação e formação artística, mas ainda em fase de projecto.
Também em 2016, a câmara adquiriu as antigas instalações da EDP, com o propósito de as destinar ao sector cultural.
O edifício esteve vazio vários anos, até se transformar provisoriamente em Centro Associativo Municipal, por força das obras efectuadas no Mercado Municipal.
Em 2017, foi adquirida a Villa Portela, para ser transformada num Centro de Artes.
Cinco anos depois, ou seja, este ano, foi finalmente aprovada a adjudicação da obra de reabilitação, requalificação, restauro e conservação, para transformar o espaço num equipamento público cultural.
Em Abril de 2020, havia sido aprovada também a alteração ao projecto-base para o topo norte do Estádio Municipal de Leiria, para que pudesse acolher, além de um Centro de Negócios, um Centro Associativo e de Artes.
Resumindo, se a memória não nos falha, entre os espaços adquiridos nos últimos anos para fins culturais e apoio à criação artística, só a Villa Portela e o antigo edifício da EDP foram aproveitados, mas apenas para a realização de meia dúzia de actividades pontuais.