Permite uma melhor conciliação entre a vida profissional e familiar, reduz o absentismo e contribui para o aumento da produtividade.
Estas são as principais vantagens de um horário de trabalho semanal com a tarde de sexta-feira livre, dizem os responsáveis de várias empresas da região onde a medida é praticada.
“Há mais de 20 anos” que na AL – Material Eléctrico, da Marinha Grande, os trabalhadores das secções de moldes, manutenção, montagem e embalagem têm a tarde de sexta-feira livre, explica o administrador.
Augusto Lopes adianta que para o pessoal do escritório a tarde de sexta livre acontece de duas em duas semanas, mas que a medida não se aplica nas secções que trabalham por turnos. “Não é possível”, diz.
As horas da sexta-feira são distribuídas pelos outros dias da semana, permitindo aos trabalhadores ficar com uma tarde livre, para “tratarem dos seus assuntos”. Desta forma, “não pedem para tirar horas” no resto da semana e por norma não faltam ao trabalho, diz o empresário.
Também na Henriques e Henriques esta medida foi implementada “há muitos anos”. Patrícia Gonçalves, responsável pela área de recursos humanos, explica que o objectivo foi “reduzir o absentismo”, já que “era comum as pessoas tirarem horas para resolver determinados assuntos”.
A partir do momento em que passaram a ter a tarde de sexta-feira livre, tal deixou de acontecer. “Este horário interessa bastante. Prolonga o fim-de-semana e em termos de produtividade não notámos que tenha afectado negativamente, antes pelo contrário”, diz a profissional.
A tarde de sexta livre aplica-se sobretudo aos trabalhadores da parte fabril desta empresa de reservatórios metálicos, de Ourém, “mas também existe a possibilidade de ser usufruída pelo pessoal do escritório”, diz Patrícia Gonçalves, que já praticou este horário.
[LER_MAIS] Para gozar a tarde de sexta começa-se a trabalhar mais cedo (às 8 horas) durante a semana e a responsável de recursos humanos constata que esta hora antes das 9 “rende muito, porque não há telefones sempre a tocar”.
“É gratificante ter a tarde de sexta livre”, afirma uma colaboradora de outra empresa da região onde esta política se aplica, adiantando que desta forma se falta menos ao trabalho para resolver assuntos pessoais.
“Esta é uma medida de motivação dos trabalhadores”, aponta Ana Paula Santos, responsável pela APS Consultores para Negócios e Gestão, lembrando que “possibilita a conciliação entre a vida familiar e a profissional”.
Permite aos trabalhadores ter tempo para tratar dos seus assuntos e é sempre agradável ter uma tarde livre. “Quem é que não gosta de sair mais cedo à sexta-feira?”
Há quase seis anos que a tarde de sexta-feira livre é política na Metro ao Quadrado.
Ana Moura, gerente deste gabinete de arquitectura e engenharia de Fátima, explica que propôs esta medida quando assumiu a gestão do negócio a tempo inteiro, por entender que as pessoas precisam de tempo para tratar dos seus assuntos, ou simplesmente para usufruir. “É tão necessário”.
A medida veio reduzir o absentismo e “aumentar muito a produtividade”. Durante a semana o trabalho é “fluído”, a manhã de sexta-feira vivida “com leveza” e o horário de saída neste dia, às 13 horas, acaba quase sempre por ser ‘esticado’ mais um pouco. Depois, muitas vezes a equipa, de 13 pessoas, almoça junta.
Mas esta não é a única medida de motivação dos recursos humanos praticada nesta empresa de Fátima.
Ana Moura menciona ainda os 25 dias de férias, que permitem que praticamente todas as pontes sejam gozadas. “Temos todo um cojunto de medidas que têm dado bons resultados. Estamos muito contentes”, admite.
Medidas que contrariam a tendência dominante nas últimas décadas.
“Desde os anos 1980 que se alimentou uma cultura de excesso de trabalho que não era saudável”, lembra Maria José Chambel, professora de Psicologia da Universidade de Lisboa.
Citada pelo Dinheiro Vivo, a também autora e investigadora na relação entre trabalho e família lembra que “quantas mais horas se trabalhasse nos escritórios, melhor, a ponto de ser normal estar lá mais de 12”. “Hoje isso já começa a ser malvisto, felizmente”, diz.