O ponto de encontro é em frente à porta da Casa-Museu Afonso Lopes Vieira e, com o som de fundo das ondas a baterem nas rochas, alguém aparecerá para dar as boas-vindas aos visitantes.
A porta abre-se e é convidado a entrar, afinal, o espectáculo já começou e o espectador faz parte dele.
Quando dá por ela, já está a conversar com os habitantes da “Casa-Nau”, onde Afonso Lopes Vieira recebeu a elite portuguesa da literatura, poesia, pintura e até arquitectura, e se inspirou para criar uma boa parte das suas obras.
Há cerca de nove anos que Miguel Linares e Carolina Santarino interpretam, respectivamente, Afonso Lopes Vieira e Amélia Rey Colaço, nesta “campanha afonsina” que pretende divulgar a obra do poeta de Leiria.
“As pessoas chegam, estão à porta, alguém lhes abre a porta e o espectáculo já começou. O teatro imersivo é isto. As pessoas não estão à espera. Vêem, há vezes que até perguntam se podem ir à casa de banho, mas não. O que acontece é que começou logo assim que a porta abre e, a partir daí, é uma viagem no tempo, mas também no presente”, explica Miguel Linares, produtor e director artístico da Break a Leg – Associação Cultural, responsável pela dinamização de diversas actividades na Casa-Museu.
Até 7 de Setembro, no que toca ao teatro imersivo, a Casa-Museu tem duas sugestões: o espectáculo conjunto com Afonso Lopes Vieira e Amélia Rey Colaço, mas também a peça com Adriano de Sousa Lopes, o único português repórter na I Guerra Mundial a pintar.
A programação deste Verão estende-se além do teatro imersivo, que conta sempre com versões diferentes, adequadas ao público presente. E não havia local mais indicado para fazer estes espectáculos que a “Casa-Nau”, onde “a terra se acaba e o mar começa”.
“A história é muito rica e todos os anos é diferente. Há anos em que não tocamos certos assuntos e as pessoas querem acrescentar, achando muitas vezes que nós não sabemos, o que é interessante. Esta partilha, tudo isto é interessante porque as pessoas não estão como meros espectadores, sentem-se no momento a fazer parte da história e isso é que cativa muito até as crianças”, observa o actor.
O “influencer” do seu tempo
Enquanto os actores dão a conhecer os feitos deste homem – que traduziu a obra Os Lusíadas do português arcaico para o português actual e foi o autor do primeiro livro de poesia para crianças – os visitantes podem conhecer a capela dedicada a Nossa Senhora de Fátima e o espólio do autor, deixado como estava quando Afonso Lopes Vieira habitava este lugar.
Carolina Santarino lembra que as personagens que interpretam não estão agarradas ao passado. Dão a conhecer a sua história, mas sabem que a actualidade convive com novas tecnologias – aliás, chamam a Afonso Lopes Vieira “o influencer” do seu tempo.
Com sessões durante a tarde e à noite, os produtores referem que cada um tem uma carga emocional diferente. “São cargas energéticas diferentes. De dia, tem alguma leveza, à noite, é um pouco mais intenso, dramático”.
O objectivo desta dupla é aumentar o número de vezes que a Casa-Museu abre portas ao longo do ano. Em Novembro, está previsto a realização de um teatro imersivo com jantar, onde os participantes são também personagens e, este Verão, conta-se a realização do I Festival Poético de São Pedro de Moel e o espectáculo “Autozinho da Barca do Inferno & Os Animaes Nossos”, com marionetas em ponto grande e música ao vivo, entre outras actividades.