Desenhada para vôo autónomo ou semi-assistido, a aeronave Flexcraft foi concebida de forma modular – separando a asa da fuselagem – o que permite a utilização de uma mesma asa autónoma com diferentes cabines, para missões distintas. Os resultados do projecto foram divulgados anteontem em Lisboa, com a apresentação de uma mockup à escala real.
O projecto Flexcraf foi desenvolvido por um consórcio composto pela SETsa, empresa da Marinha Grande que faz parte do Grupo Iberomoldes, pela Almadesign, pela Embraer Portugal, pelo INEGI e pelo IST. Financiado pelo Portugal 2020, implicou um investimento na ordem dos 3,2 milhões de euros, a que correspondeu um incentivo não reembolsável de 1,7 milhões.
Vôo e operação, usabilidade e flexibilidade, materiais e processos são as três linhas de desenvolvimento do projecto, que pretendeu aprofundar um dos conceitos de aeronaves gerados pelo projecto newFACE (o Utility), que tem por objectivo dar resposta a diferentes missões civis, nomedamente transporte comercial de passageiros e carga; apoio a actividades de protecção civil, vigilância e agricultura, entre outros.
Tem capacidade para sete passageiros e é apresentada como “mais rápida e eficiente do que um helicóptero, de fácil operacionalidade e de baixo consumo”. É híbrida-eléctrica, tem uma autonomia de mil quilómetros e pode atingir os 400 quilómetros/hora.
“Com este projecto pretende-se validar uma aeronave com capacidade STOL (Short Take-Off and Landing), procurando definir as melhores configurações de aeronaves, desenvolver novos processos de produção, integrar novos materiais, de forma a criar uma solução sustentável, eficiente, flexível e adaptável ao tipo de missão solicitada”, aponta uma nota à imprensa da Almadesign.
“A SETsa integra este consórcio desde 2011 e desde essa data tem vido a desenvolver diversos projectos na área aeronáutica, como foram o Life e o NewFace, e agora, em continuidade, o Flexcraft. As mais-valias são muitas, pois o trabalhar em consórcio com outras empresas e entidades do sistema científico e tecnológico nacional é muito importante para desenvolver competências”, afirma Joaquim Menezes, presidente do Grupo Iberomoldes.
[LER_MAIS] “As capacidades adquiridas no âmbito deste consórcio, aliadas às capacidades que a nossa empresa já possuía em outros sectores e áreas de negócio, têm permitido encarar outros desafios no futuro, na área da mobilidade, com um grau de exigência e confiança cada vez maior”, acrescenta o empresário.
A produção (que o presidente da Iberomoldes gostaria que fosse feita em Portugal) desta aeronave pode ainda demorar. À semelhança do que acontece com outros projectos de caraterísticas idênticas que estão a ser desenvolvidos a nível mundial, “há ainda muitos pormenores técnicos e tecnologias que ainda não se dominam completamente, que precisam de ser estudados e melhorados”.
Entre os “obstáculos técnicos a ultrapassar” antes da industrialização e da entrada em operação deste tipo de aeronaves “está a capacidade das baterias actualmente existentes, que terá de aumentar substancialmente”. Outro é a falta de legislação que enquadre o modo de operação da aeronave preconizado no âmbito deste projecto.
“O projecto Flexcraft permitiu ao consórcio desenvolver capacidades para participar nas novas soluções de mobilidade áerea urbana e suburbana – mais eficiente e sustentável – que têm emergido, de forma exponencial, em todo o mundo”, considera por sua vez José Rui Marcelino, CEO da Almadesign.
Ainda antes da divulgação dos resultados em Lisboa, o projecto Flexcraft já tinha sido apresentado em várias feiras, nomedamente na Alemanha, em França e na Áustria. Estará presente na Aircraft Interiors Expo, em Hamburgo, de 30 de Março a 2 de Abril.