Está a ver aqueles coletes – que até parecem sutiãs – que cada vez mais vemos ser utilizados por jogadores de futebol? Os futebolista da Academia do Colégio Conciliar de Maria Imaculada (CCMI) sentem-se importantes e andam encantados – e até vaidosos – com eles.
Sabe o que é? Trata-se de um gps e os rapazes envergam-no de duas formas distintas e outras tantas situações diferentes. Se em momento de treino utilizam a ferramenta preferencialmente por fora da roupa, já em situação de jogo têm de o usar por dentro da camisola de equipamento.
Por dentro ou por fora é tudo uma questão de estilo, mas as mais-valias da utilização deste acompanhamento por satélite, essas, são “mais do que muitas”.
Os responsáveis pela Academia entenderam que seria uma ferramenta primordial para o desenvolvimento dos futebolistas que praticam a modalidade com as cores azuis do CCMI.

Segundo o presidente do emblema de Leiria, a instituição é, mesmo, percursora na utilização de gps nos escalões mais jovens.
Resolveram que todos os escalões de iniciados (sub-15) para cima, ou seja, aqueles que já jogam futebol de 11 e de forma competitiva vão utilizá-los durante a corrente temporada.
“Os grandes clubes já estão a utilizar no escalão de juniores, mas nós, enquanto clube certificado pela Federação Portuguesa de Futebol – e fomos dos primeiros a obter a certificação – queremos consolidar os resultados e aumentar a competitividade das equipas. Dado o número de atletas e o nível competitivo, fomos à procura de ferramentas – ao nível dos recursos humanos e tecnológicos – que nos possibilitem alcançar níveis mais elevados num curso espaço de tempo”, explica Renato Cruz.
Ora, para tirar melhor proveito dos dados recolhidos pelo gps, a Academia CCMI resolveu envolver a Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria no processo.
“A ideia é chegar a fazer um trabalho científico, um estudo de caso com base no desempenho de uma equipa específica (sub-15), que em todos os jogos e alguns treinos vão utilizar o aparelho.” Conseguirão, assim, perceber melhor a evolução dos miúdos.
“Vamos ter semanas inteiras de informação de como está a ser o desenvolvimento e a actuação dos jogadores”, continua Rui Silva, elemento da coordenação técnica da Academia CCMI.

As áreas de extracção dos dados são variadas, desde velocidades médias e máximas, passando por aceleração, energia gasta durante o exercício, o posicionamento em campo ou distâncias totais.
“Depois, há um gps específico para o guarda-redes, que mostra as vezes que vai ao chão, as vezes que salta ou o tempo que demora a levantar-se.”
Além de eliminar uma série de trabalhos manuais, como medir sprints com cronómetros, é uma ferramenta que oferece uma nova visão sobre o que se passa dentro do terreno de jogo, sublinha o também treinador da equipa de juniores. “Uma coisa é aquilo que se vê a olhómetro no campo e em tempo real.
Outra, é ter de uma forma analítica os dados individuais de todos os atletas para avaliar e poder usá-los para ajudar a planear o novo micro-ciclo semanal.”
Toda esta informação também tem sido recebida com muito entusiasmo pelos jogadores, conta Rui Silva.
“Quando lhes falei do gps ficaram logo muito mais motivados e valorizados: que não são jogadores profissionais, mas estão a utilizar uma ferramenta como se fossem. Isso, notou-se na parte psicológica e na própria motivação para o jogo”, afiança.
Depois, mostrando-lhes os dados recolhidos, surgem as brincadeiras, “tão importantes para a união do grupo”, mas também para a própria vontade de “superar limites”.
“Há sempre aquela brincadeira entre eles, o vou correr mais do que tu. Na segunda, no primeiro treino depois do jogo, já estavam todos a perguntar ó mister, quem é que correu mais? E quem foi mais rápido? É mais uma ferramenta motivacional.”
Por seu lado, os treinadores utilizam a informação “para corrigir aquilo que entendem estar pior”, como posicionamentos, ou até alguma fragilidade fisicamente que era suposta existir. Também torna evidente quem é preguiçoso.
[LER_MAIS]“Quando assistimos a um jogo ficamos com uma ideia do que acabámos de ver, mas só retemos 20% do que aconteceu. O engraçado é que o gps acaba por ser um complemento fantástico para o vídeo, que também utilizamos. Ficamos com os dados quantitativos e não apenas qualitativos.”
Claro que também surgem surpresas: dos jogadores que parece que são lentos e não são os dos que parece que correm muito e não correm, ou os que correm e passam despercebidos.
“São as impressões. Um dos meus centrais, por exemplo, passou 75% do tempo a caminhar e só 15 muitos a correr. São estes dados interessantes que habitualmente confirmam o que pensamos, mas também tiram muitas dúvidas.”
Velocidades, acelerações, energias despendidas ou distâncias. Depois de ter esses dados “é saber interpretar e aplicar no treino”. “Se algum rapaz tem uma baixa capacidade de aceleração baixa, vamos treinar velocidades de reacção para ver se melhora.”