Após inúmeras peripécias que vieram confundir o meu calendário, com a quase sobreposição das datas do solstício, das presidenciais na Mauritânia e do São João, consegui arranjar uns dias para repousar nas Termas de Monte Real antes de iniciar a campanha da pera rocha nas Caldas da Rainha.
É aí, entre filipinos, somalis e alguns nepaleses, que deverei já gozar o São Pedro, festa maior em Porto de Mós e também noutras localidades.
Se o foguetório mantiver a qualidade dos últimos anos, e se as distintas autoridades permitirem a chuva de canas e cinza, vou ficar na serra até o sol raiar, entre sardinhas e morcelas.
Na verdade, o programa que acarinhei na Fórnea, no passado solstício, foi muito parecido. Apenas substitui as sardinhas por queijo do Rabaçal, de forma a criar um enquadramento absolutamente terreno com as movimentações astrais regulares.
Os ciclos ecológicos alteram-se rapidamente e o avanço das pereiras no sul do distrito conduz hoje a uma forte mobilização de trabalhadores temporários para esta região. Acompanhando a monocultura do momento, repetem-se velhos hábitos.
É verdade que os “maltezes”, [LER_MAIS] ou os mais famosos “ratinhos”, não circulam hoje pelos caminhos de Portugal. Mas avistam-se carrinhas que rolam por autoestradas concessionadas, maioritariamente povoadas de asiáticos, ao encontro de novas empreitadas agrícolas.
Se o produto – ou a mais recente forma de o conceber – transforma a paisagem, as personagens que estruturalmente a frequentam parecem manter-se ligadas a fórmulas ancestrais.
A dependência assalariada e os fluxos ligados às campanhas agrícolas fazem da região, uma vez mais, um importante polo de atratividade global.
Investigador
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990