É curioso como a Quaresma aponta a penitência e reflexão no preciso momento em que o sol e a terra se libertam das sombras negras do inverno.
Nos nossos estéreis lugares, onde nunca abundaram carnes ou pasto que os lavradios pudessem sustentar, resiste-se sempre austeramente.
Uma longa quaresma existencial, animada pela industrialização, pelo porco, pelos plásticos e pelos moldes para plásticos.
Foram estas as circunstâncias que marcaram mais um Entrudo no centro-litoral.
Muito embora a sempre agradável tolerância de ponto, o Carnaval passou demasiado depressa. E, neste caso, sem vislumbre das alterações climáticas, fez-se acompanhar das habituais chuvadas.
Os foliões viram-se remetidos a bailes indoor, poupando em gasóleo e em solas de sapatos. Foi precisamente assim que vivi o Carnaval Sénior de Ferrel (Peniche).
Com o tempo uma vez mais a não ajudar, este Carnaval foi o que se pode apelidar um verdadeiro pinhal sem chama.
Gosto de [LER_MAIS] passar por Viena durante este período, e observar por algumas horas “O combate entre o Carnaval e a Quaresma”.
Já em meados do século XVI se pensava sobre esta estranha transição, que as diferentes lideranças cristãs designam de “preparação”.
Com algumas reticências, aceitei o convite litúrgico para a penitência que me foi recomendado na passada quarta-feira (de cinzas).
Neste período introspetivo vou abandonar por 40 dias a minha dieta à base de galinha, polvo e vinho branco. Espero que este ensinamento me prepare como deve de ser para o que resto do ano.
*Investigador
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990