Uma misteriosa névoa de junho percorre as terras de Ulmar, coincidindo com o breu que tolhe as almas dos Unionistas, uma vez mais punidos pelo colosso de Mafra. Foi espantoso o que se assistiu no passado fim de semana, junto às ameias do nosso histórico castelo!
Para lá do racional e humanamente suportável, perder com o Mafra questiona todo o enquadramento ontológico de um qualquer leiriense. O beautiful game foi na verdade um pesadelo estranho, onde o futebol sem nexo conseguiu assustar toda uma cidade e região sedentas de (alguma) glória.
Dirigentes e atletas parecem guardar algum sangue frio, seguros de que “para o ano há mais”, quando voltarão a “dar o seu melhor”. No meu espírito amiúde recalcitrante subsistem dúvidas, contudo.
[LER_MAIS] Quando nos habituamos a ganhar, o pesadelo de Mafra (sortilégio da Nação Saloia!) indica problemas estruturais graves. A derrota da broa, face ao pão, deixa qualquer leiriense à beira de uma crise nervosa.
Provou-se uma total desadequação entre o que nos oferece a bola enquanto produto, e o que verdadeiramente merecemos enquanto polo social e empresarial de excelência. Bons espíritos conseguiram reerguer a UDL das catacumbas desportivas onde esta se encontrava, fruto de uma série de infortúnios económico-financeiros.
Interessa agora decididamente consolidar essa viragem, guindando os nosso rapazes ao lugar que merecem no panorama desportivo nacional (os Juniores parecem mais aptos para o fazer!).
Mas que território é este, rico em estruturas e até em infraestruturas, que não se consegue impor ao futebol brejeiro de um subúrbio de Torres Vedras?
Por isso se escuta o bramido rouco, uivado por jovens e menos jovens, “Mafra, nunca mais!”, pelas avenidas e aceiros da nossa cidade.
Felizmente, na zona do Choupal as coisas também correram menos bem. Se tal não tem acontecido, constataríamos o colapso do nosso projeto civilizacional, com uma equipa do Mondego a passear no primeiro escalão, enquanto nós nos debatíamos no terceiro.
*Investigador
Texto escrito de acordo com a nova ortografia