O Before it All Happened, estreado a 1 de Julho, ganhou Best Original Story nas London Shorts, na categoria High School. Também foi seleccionado no LA Shorts International Film Fest e no Paris Film Festival. Qual é a sensação de ver o seu trabalho reconhecido a nível internacional?
Quando comecei o processo da curta-metragem, sempre soube que iria dar em alguma coisa, mas nunca pensei numa tamanha dimensão. Ser seleccionado para o LA Shorts era impensável… aliás, somos a primeira curta-metragem da universidade que ganhou tantos prémios lá fora! É inacreditável. A curta-metragem conta a história de Nathan, um noivo enviado para o futuro no dia do seu casamento e que não tem a certeza se gosta do que vê.
Como surgiu a ideia e porquê um drama romântico?
O professor deu-nos um mês para pensar em várias histórias para o projecto final. A ideia inicial era a de um casal, onde a mulher tinha cancro e não tinha dinheiro para pagar os tratamentos. O marido trabalharia para a conseguir ajudar, mas, afinal, também tinha cancro. Entretanto, desenvolveram-me mais histórias e, com as dicas do professor, surgiu a narrativa que deu origem ao Before It All Happened.
Além de si, que outras pessoas estiveram envolvidas na produção da curta?
O grupo era formado por quatro pessoas. Duas pessoas de “Film Production” e duas de “Mass Comunication”. Tínhamos o módulo do projecto final em comum e decidimos fazer juntos. Eu era o único europeu, porque o Elton é de Singapura e a Nicole e o Leonard, da Malásia. A Nicole foi a guionista da história e, apesar de [LER_MAIS]dois dos membros serem de comunicação, fizeram mais a parte da produção. Eles não tinham nenhum conhecimento de como fazer um filme, por isso, eu e o Elton estivemos a ensiná-los a trabalhar com as câmaras, quase como se fôssemos professores. E correu tudo bem! Claro que também tivemos a ajuda de outros estudantes e amigos, porque produzir uma curta só com quatro pessoas, é quase impossível… é muito complexo porque há o catering, o pessoal da luz e do som e os assistentes.
Quem são os actores?
Para representar a personagem feminina mais importante da história, fizemos um casting e surgiu a oportunidade de trabalharmos com a Sarah, que fez um excelente trabalho. Os restantes elementos eram estudantes da nossa universidade e amigos.
Quanto tempo demoraram as filmagens e a produção?
Foi desde Outubro até 17 de Maio. Começámos as gravações dia 18 de Abril, mas não gravávamos todos os dias, e a curta estreou no início de Julho.
Qual foi a maior dificuldade, sendo o seu primeiro trabalho enquanto produtor?
Foi ter de arranjar localizações para as gravações, no meio da pandemia. Não se podia estar dentro dos espaços… mas lá conseguimos.
Da Suíça para o Reino Unido, com paragem na Maceira
Tiago Francisco nasceu na Suíça, mas viveu grande parte da sua infância na Maceira, no concelho de Leiria, onde tem a sua família. Tem 25 anos e é recém- -licenciado em Produção Digital de Cinema, na Universidade de Sunderland. O projecto final do curso resultou na curta-metragem Before It All Happened, que, acredita, devido ao seu “perfeccionismo”, venceu um prémio nas London Shorts e foi nomeado para outros festivais internacionais. Temporariamente a viver em Leicester, Tiago pensa voltar a Sunderland ou a Portugal para se concentrar em projectos futuros.
Os seus professores tiveram um papel importante na realização deste projecto?
Sim! Eles adoraram a história. Ajudaram-nos a adaptar para uma versão mais forte, que iria concorrer aos festivais de cinema. Eles têm mais conhecimento do que nós e ajudaram-nos a fazer uma história para todas as faixas etárias. Cada grupo tinha um supervisor e tivemos a sorte de ter o Nicholas Glean, como nosso professor orientador.
A curta-metragem está disponível em alguma plataforma?
A curta tem duas versões. A educacional, que tem 25 minutos, e a versão dos festivais, com 23 minutos. Colocámo- -la no YouTube, como privada, para não sermos desclassificados nos festivais por o produto já ter sido exibido. A primeira versão tinha legendas em português, mas a segunda versão não.
Como descobriu o seu gosto pela área da Produção Digital?
Estudei informática durante dois anos, em Portugal. Sempre gostei de fazer multimédia e perguntava sempre aos professores se era possível fazer em vídeo. Gostava de trabalhar em After Effects e fui um autodidacta, porque aprendi muito no YouTube. Mas como não me imaginava a programar em informática durante 45 anos, passados dois anos, mudei de ideias e fui com uns amigos para Sunderland, estudar Produção Digital. Inicialmente, não gostei do curso e cheguei a anular a inscrição. Vim para Portugal umas semanas para arejar as ideias, mas regressei e correu tudo bem. Consegui graduar-me com First Class Honours, a melhor nota que se pode ter no final de ano.
Quais foram os maiores desafios de estudar num país diferente?
Estamos habituados aos nossos pais e saímos da nossa zona de conforto. Tive de aprender a cozinhar, limpar, lavar a roupa. Mas fez-me bem, porque evoluí muito como pessoa.
Vai ter outros trabalhos entretanto?
Lancei um crowdfunding em Janeiro, com o Elton Tan e o Chris Farfouris. Surgiu a oportunidade de criar uma série Mistery-Dram. Entretanto, o projecto está parado porque o Elton foi trabalhar para Londres e o Chris para Madrid. Mas, a qualquer momento, iremos gravar porque já temos tudo pronto. Só faltam patrocinadores para apoiarem o projecto, uma vez que temos que criar um episódio-piloto, para enviar às plataformas de streaming. Além disso, também criei a minha startup RAWR, uma marca registada em Inglaterra.
Que avaliação faz do estado do cinema em Portugal?
É sempre o mesmo… novelas e mais novelas, e séries na RTP. Temos grandes realizadores como o Gonçalo Waddington e o Sérgio Graciano, e cada vez mais jovens talentosos a aparecer na cena do cinema português. Acho que está hora de as produções receberem mais investimento para grandes trabalhos. Caso não haja investimento, ao menos que as produções se unam para mostrar lá