O despertador costuma soar bem cedo para a maioria das pessoas que têm emprego e uma rotina pesada para cumprir ao longo do dia. Idealiza-se uma jornada onde caibam também algumas horas de ócio, ou de descontracção, mas quase sempre as responsabilidades profissionais ou familiares acabam por se sobrepor a tudo o resto, gorando a expectativas iniciais. Por isso, de forma a garantir que pelo menos durante alguns dias se faz realmente o que se ama, há quem marque dias de férias nesta época do ano para se dedicar àquilo que dá maior prazer. O JORNAL DE LEIRIA dá a conhecer alguns casos de pessoas que tiram férias para poder “matar o vício”.
Dos negócios para o enduro
Quem o vê nas reuniões de negócios dificilmente poderá adivinhar que, sob o fato e a gravata de Jorge Santos, director-geral da Vipex e presidente da Associação Empresarial da Região de Leiria (Nerlei), está um acérrimo apreciador de desportos motorizados, praticante de enduro. Com uma agenda sobejamente preenchida, o empresário não tem grande disponibilidade para praticar a modalidade. Por isso, há que planear os dias de férias a pensar no motociclismo e noutras actividades desportivas de que é grande fã.
Jorge Santos conta que começou por montar a cavalo, para acompanhar a filha. Mas, há cerca de 15 anos, trocou o cavalo pela mota, para acompanhar o filho. O vício apoderou-se do empresário e, agora com 57 anos, é muitas vezes o piloto mais velho da prova. “É o meu momento zen”, conta o presidente da Nerlei. Para quem todos os dias é absorvido por uma intensa actividade intelectual, conduzir uma mota é ter a oportunidade de não pensar em nadaque não seja a melhor maneira de entrar numa curva ou de evitar um obstáculo.
Esse grau de concentração funciona como “um momento de meditação”, explica Jorge Santos. Um escape que é essencial para manter o seu equilíbrio emocional e retemperar energias antes de voltar à vida activa. Os fins-de-semana são geralmente dedicados aos passeios de mota, com amigos, onde as pausas não são para falar de negócios e o tema prioritário são os motociclos. Mas há uma prova, que se tornou “num momento mítico do todo o terreno”, que é a Baja de Portalegre, onde o empresário participa há já vários anos. “Vou competir, não pela classificação, mas para me divertir e para me desafiar a mim próprio”, salienta Jorge Santos, que, nesse caso, até tira dias de férias de forma a não faltar ao evento.
Tradição é também o percurso de 230 quilómetros que o empresário faz questão de cumprir antes da Baja, e que liga Ourém a Portalegre em duas rodas. O piloto frisa que esta é uma das modalidades menos dispendiosas no campo dos desportos motorizados.
Muito importante, nesta caso, é ter preparação física e praticar uma condução segura, frisa o empresário. Se os dias de Baja são de interacção entre várias gerações de amigos, já as férias de Verão são programadas a pensar na prática desportiva em família.
Corridas, caminhadas e passeios de bicicletas são algumas das actividades das quais não abdica durante as férias de Verão.
As velas de Pedro Custódio
Para se descontrair do negócio das velas – ironia do destino – o director- geral da Manulena acabou por encontrar a paz nos barcos à vela. Foi há 17 anos que Pedro Custódio tomou o gosto por estas embarcações. Fez curso de vela em Lisboa, adquiriu carta de patrão de local e carta de patrão de costa e, sempre que a agenda lhe permite,faz passeios e regatas ao fim-de- -semana.
E, mesmo quando a agenda está apertada, Pedro Custódio dá um jeito de conseguir matar o vício. E isso passa por agendar férias de Verão de forma a conciliar os passeios de barco com o convívio familiar.
[LER_MAIS] As pequenas escapadinhas passam por passeios em Lisboa, na Nazaré ou no Algarve, já as férias maiores são dedicadas a trajectos mais longos pelo Mediterrâneo. E em férias, em família, o vício da vela já se estendeu entretanto à nova geração. Aos 7 anos, Manuel, filho de Pedro Custódio, já dá uma ajuda no barco. Valioso é também o contributo do sobrinho Francisco, de 17, explica o empresário de Mira de Aire.
Uma vez no mar, o telemóvel costuma ficar em segundo plano. “Quando estou no barco há muito a fazer. Torna-se uma ocupação total, de comandar o barco, navegar, e por isso consigo abstrair- -me totalmente”, explica o empresário.
E, contrariamente à imagem que se tem desta actividade, ela não sai cara, frisa Pedro Custódio. É um hobby relativamente barato, quando comparado com os passeios em barcos a motor, refere o empresário. Além disso, quando se arrenda uma casa no Verão, fica-se refém do local. Já num barco à vela, com três cabines, salão e cozinha, é possível conhecer um local diferente a cada dia que passa
. “Costumamos parar na praia, apanhar berbigão e cozinhamo- lo no dia seguinte”, conta Pedro Custódio. É uma actividade que envolve toda a família, realça o empresário.
O gosto pela vela é tanto, que entretanto Pedro Custódio já gere uma empresa, em Lisboa, que comercializa barcos a motor e veleiros. Chama-se Descobreventos e envolveu-se recentemente uma acção na limpeza de lixo na ilha da Culatra, no Algarve, onde participaram inúmeros velejadores, explica, orgulhoso, o director-geral da Manulena.
Em quatro rodas, de mapa na mão
Tinha 15 anos, era um aluno “manhoso”, que fazia o suficiente para passar de ano, muitas vezes com base no “copianço”. Mas nas férias da Páscoa, já que as notas eram razoáveis, Carlos Oliveira pediu ao pai que o deixasse fazer um interrail no Verão seguinte. Perante uma resposta negativa, o adolescente não hesitou e decidiu fazer o seu próprio “interrail”.
Com um amigo, viajou de boleia até à Noruega. Ficam-lhe até hoje na memória os dias em que teve de dormir pelas estações de comboio, de comer o que surgia nos campos ou aquilo que podia surripiar do supermercado. E à época ficou-lhe também uma lição: tinha de aprender outras línguas para sobreviver noutras paragens. Idiomas que de resto vieram a ter uma enorme importância na sua vida profissional feita de permanente internacionalização.
Igualmente marcante foi a viagem que fez à boleia, teria 13 ou 14 anos, de Lisboa a Vilar de Mouros, para assistir à primeira edição do mítico festival de música. “É claro que não pedi autorização, senão nunca teria ido”, conta o presidente do Grupo Vangest.
Para o empresário da Marinha Grande, a paixão pelas viagens de aventura despertou bem cedo. Uma paixão à qual veio a juntar-se o prazer da condução. Para quem competiu ao longo de 20 anos e participou no Rally Dakar, em 2003, “sem adrenalina a vida não tem graça”. Essa foi e continua a ser a sua máxima.
Há três anos, Carlos Oliveira tinha 36 dias disponíveis antes de regressar aos compromissos profissionais. Sem qualquer reserva prévia de hotel conduziu as suas gémeas numa das viagens mais interessantes da sua vida.
“Saí com as minhas filhas de Maputo, fiz toda a costa do Índico até à Tanzânia. De lá fui para Oeste na direcção do Malawi. Do Malawi fui para Lusaka, depois a Livingstone, daí fui para as quedas de água de Vitória, daí para Namíbia e de lá fui até Angola, onde não tive autorização para atravessar a fronteira. Desci para Botswana, para o Delta do Okavango, onde vivi em condições selvagens, em tendas, durante oito dias”, relata o empresário.
Mas foi um estado selvagem peculiar, realça Carlos Oliveira, na medida em que contava com uma pessoa para tratar da logística, outra para cozinhar, e um guia.
Finalmente, do Delta do Okavango e sempre com a condução à sua responsabilidade, o empresário seguiu para Joanesburgo, de onde voou para Portugal.
Feitas as contas, em 36 dias, mais de metade do percurso foi feito fora de estrada, salienta o presidente do Grupo Vangest, para quem as férias fogem sempre aos percursos turísticos convencionais.
E já tem em mente as próximas viagens. Em Joanesburgo, em África do Sul, foi construído, sob as suas instruções, um jipe com todos os apetrechos que vai precisar nos próximos percursos. Pretende acompanhar com ele o Dakar do Perú e equaciona fazer, a breve trecho, uma viagem para ver os gorilas nas montanhas do Ruanda e do Uganda.
“Para mim, viajar é contemplar e contactar”, remata Carlos Oliveira. Quanto à sua paixão pelas quatro rodas, cruza-se em diversos momentos com a vida empresarial. Prova disso mesmo é o Vangest JH12, um modelo automóvel de competição concebido pela Grandesign.
A passo de corrida para ouvir Pearl Jam
Daniela Sousa sempre gostou de desporto, mas nos últimos anos começou a praticá-lo com mais afinco, e também com mais prazer do que nunca. No entanto, como não sobra muito tempo à advogada, que nas últimas Autarquias foi cabeça de lista à Câmara de Leiria pelo PAN, todas as férias são agendadas a pensar em calçar as sapatilhas.
“As corridas são uma escape, que me mantém em equilíbrio. Não são um sacrifício, mas um prazer”, explica Daniela Sousa, que se levanta todos os dias às 6 da manhã para poder “esticar” as pernas durante vários quilómetros antes de ir trabalhar.
Mas porque o “bichinho” se instalou, tenta marcar férias de acordo com o calendário de provas. No ano passado, reservou dias em Outubro para participar numa meia maratona em Amesterdão, na Holanda. Este ano, vai tirar férias em Agosto para dar apoio a um atleta da região, que irá percorrer 350 quilómetros e fazer a travessia da Escócia, adianta Daniela Sousa. O objectivo é acompanhá-lo de automóvel e parar nos locais onde está prevista a passagem do ultra-maratonista.
Este ano, prevê ainda competir na meia-maratona da Nazaré e na S. Silvestre, em Lisboa, conta a advogada.
Além do desporto, há uma outra paixão que a acompanha desde a adolescência. A música, em particular os norte-americanos Pearl Jam, que a advogada segue sempre que pode. No ano passado, Daniela Sousa tirou férias para ouvir Eddie Vedder (vocalista e guitarrista da banda) em Florença. Já este ano, tirou uns dias para assistir ao concerto dos Pearl Jam em Praga, na República Checa. “Esta banda é outro dos meus vícios. Sigo-a e aproveito para conhecer outros locais, outras cidades. Em especial os bares, restaurantes e cafés do mundo. Como sou vegan, gosto de perceber que novidades existem a este nível lá fora”, justifica a advogada.