Os toxicodependentes que procuram ajuda nos Centros de Respostas Integradas (CRI) de Leiria, Marinha Grande e Pombal têm de esperar. Existe uma lista de 75 pessoas (à data de 6 de Janeiro) que aguardam por uma primeira consulta, resultado da falta de técnicos, nomeadamente médicos.
A estes números há que somar solicitações de uma quantidade de utentes que sofreu recaídas e voltou a pedir a readmissão a consultas naqueles centros, que dependem do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD). “E temos ainda pedidos de transferência de processos de outras unidades, em situações, por exemplo, em que utentes mudam de residência e aos quais também não conseguimos dar logo resposta”, lamenta Cristina Barroso.
A psicóloga e coordenadora do CRI de Leiria revela que desde Abril de 2024 que os centros da Marinha Grande e de Pombal não têm médico, tendo, por isso, deixado de receber primeiras consultas.
“Face a esta situação, do conhecimento da comunidade, há pessoas que já não recorrem aos nossos serviços, procurando uma resposta noutros que ainda o possam fazer, ou nem sequer deixam o seu nome em lista de espera, uma vez que não há previsão de quando poderão ser atendidos”.
Cristina Barroso explica que sem médicos disponíveis naqueles concelhos, “todos os utentes que necessitam de consulta têm de se deslocar a Leiria para ser atendidos, assim que for possível”.
Em situações pontuais, o CRI solicita a colaboração dos médicos de família para poder dar uma resposta imediata, mas nunca é uma solução de continuidade, até porque a área da toxicodependência tem algumas especificidades.
“Temos, por exemplo, programas de substituição opiácea, como a buprenorfina e a metadona, especialmente esta última, que apenas existe nos serviços do ICAD e que só é prescrita pelos nossos médicos, havendo logo aí mais algumas limitações, independentemente da boa vontade de outros clínicos”, destaca, ao reforçar que mesmo o encaminhamento para unidades de desabituação ou para comunidades terapêuticas tem que ser feito pelo médico de cada CRI.
O CRI tem actualmente 12 técnicos superiores a tempo inteiro e um a meio tempo a dar resposta nas três unidades de intervenção local e seis assistentes técnicos. No Polo de Leiria há duas psicólogas, uma das quais Cristina Barroso que acumula funções de coordenação do serviço. Há três técnicas de Serviço Social e duas enfermeiras a tempo inteiro e outra a meio tempo.
“Uma manhã por semana uma médica do CRI de Coimbra desloca-se a Leiria para o atendimento a utentes”, informa, ao afirmar que a unidade da Marinha Grande possui uma psicóloga, duas assistentes sociais e dois enfermeiros. “Na consulta descentralizada de Pombal temos apenas uma técnica de Serviço Social. O atendimento a utentes é efectuado apenas dois dias por semana, quando se deslocam à nossa unidade uma psicóloga cedida nesses dois dias pela Unidade de Alcoologia de Coimbra, e uma enfermeira proveniente da Comunidade Terapêutica Arco Iris, em Coimbra”, constata.
Os recursos médicos cumprem um total de 11 horas por semana divididos por três médicos internos de psiquiatria, a que acresce uma médica de Medicina Geral e Familiar, que vai ao Polo de Leiria uma manhã por semana, proveniente do CRI de Coimbra.
O número total de utentes activos (à data) no CRI de Leiria são 1.030, dos quais 639 estão inscritos no polo de Leiria, 297 no polo da Marinha Grande e 94 na consulta descentralizada de Pombal.
“Terá havido um decréscimo em cerca de 8%, provavelmente devido ao encerramento de primeiras consultas na Marinha Grande e em Pombal, e mesmo em Leiria, por alguns períodos”, adianta, ao referir que o facto de não conseguirem “dar a resposta às novas solicitações vai esvaziando os serviços que, não havendo data de previsão para o seu atendimento, procuram outras soluções para os seus problemas”.
Heroína e cocaína dominam
A maioria dos utentes que procura ajuda ou são encaminhados para o CRI de Leiria apresentam consumos de substâncias psicoactivas de heroína e cocaína, mas há “cada vez mais pessoas com consumos de crack e de álcool, havendo muitas situações com policonsumos”. “Entre os mais jovens surgem essencialmente os consumos de canábis mas também de álcool. Embora ainda de forma pouco significativa, vão chegando indivíduos com problemáticas associadas ao jogo, e dependência do jogo”.
O CRI também não está isolado dos imigrantes e os pedidos de ajuda têm vindo a aumentar, “com maior significado na Marinha Grande, mas também nas outras unidades” de comunidades oriundas do Brasil, Paquistão, Índia, entre outros.
“A maior dificuldade prende-se com a comunicação uma vez que nem sempre sabem falar outra língua, como o inglês. Apesar de tudo teríamos possibilidade de dar resposta se tivéssemos os recursos necessários”, ressalva.
O perfil dos utentes têm-se mantido idêntico ao longo dos anos. A maioria do sexo masculino, o grupo etário com maior número é entre os 50 e os 54 anos, seguido do grupo entre os 45 e 49 anos e o dos 55 aos 59 anos.
“Temos uma população muito envelhecida, com duplos diagnósticos, problemas de saúde física e mental que se vão agravando com a idade”, afirma Cristina Barroso, alertando para a falta de suporte familiar em muitos casos. Também têm chegado utentes muito mais jovens “com outras fragilidades, e muitas vezes desvalorizando os seus consumos”.
Os números
75
1.030
8%
cerca de 8%, provavelmente
devido ao encerramento das
primeiras consultas, explica
Cristina Barroso