O que dizer sobre isto?
O embate com a realidade do mundo do trabalho é um excelente factor de crescimento e entrada na vida adulta. Não defendo a cultura de alta rotatividade laboral do fast food – que fique claro – mas no país onde um arquitecto ganha 800 euros, e os enfermeiros emigram para ter trabalho, um primeiro emprego nesta verdadeira escola de trabalho é uma aprendizagem para a vida.
O cumprimento rigoroso de horários, a gestão de relações interpessoais – com colegas e clientes – a aprendizagem de metodologias de trabalho que ficam como exemplo, de gestão do próprio dinheiro, são algumas das coisas que não se aprendem em teoria. Só metendo a mão na massa mesmo.
Viver a realidade da restauração à velocidade do fast food é também aprender a valorizar outros modelos – com 18 anos de idade, quatro de regime vegetariano e um de veganismo – a Matilde testou também as suas convicções alimentares, que manteve.
Num mundo e tempo em que os jovens são tantas vezes irrealistas, dependentes e imaturos até muito tarde, uma boa experiência de trabalho é também uma oportunidade de crescimento pessoal, aprendizagem de valorização de coisas simples – como ter o fim-de-semana livre, gastar o dinheiro que custou a ganhar no que se quiser, ou descansar as pernas doridas num dia de mais movimento.
[LER_MAIS] Mas o emprego juvenil numa verdadeira "universidade do trabalho" como é um restaurante da McDonald's, onde tudo, mas mesmo tudo, está previamente pensado, é também a obtenção de uma ferramenta crítica para um percurso profissional em qualquer área.
O respeito pela organização laboral, a percepção da importância dos detalhes, do rigor e do cumprimento de normas – como por exemplo a verdadeira revolução que um pedido "sem glúten" opera naquelas cozinhas, ou urgência do "pára tudo" para atender uma cliente grávida, a máquina que gere milhares de funcionários em alta rotatividade mantendo o serviço ao cliente inalterado, tudo isso é aprendizagem, tudo isso é o que não existe em tantas PME entregues à gestão da navegação à vista.
Se são tudo rosas?
Não, mas para um jovem estudante esta é uma experiência única, onde o espírito de equipa impera – porque do trabalho de um depende o serviço de todos, e onde o cliente é verdadeiramente rei, um chavão tantas vezes batido em tantas empresas, mas poucas vezes levado a sério como aqui.
No país onde a troika deixou um rasto de precariedade, injustiça laboral, miséria humana e prepotência patronal, a McDonald's é ainda um oásis de transparência: quem vai, sabe ao que vai, como vai ser e quais as regras.
Com um detalhe importante: com sorte, é o local de trabalho onde ainda se fazem amigos para a vida.
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