E vão quatro… títulos de campeão nacional no Médio Oriente. Depois de ter conquistado três vitórias nos Emirados Árabes Unidos, João Lino, treinador de futsal de Ourém, acaba de ganhar o campeonato nacional da Arábia Saudita pelo Al-Ula, onde é treinador-adjunto e de guarda-redes, integrando a equipa técnica liderada pelo também português Mário Silva (ex-Benfica).
Este foi o primeiro título nacional na história do Al-Ula, que, depois de ter vencido a fase regular “com recorde de pontos”, se superiorizou na derradeira etapa, derrotando na final da KSA Futsal Premier League o Al Nassar, orientado por Kitó Ferreira, com quem João Lino trabalhou na Burinhosa, na época em que o clube de Alcobaça subiu à I Divisão. Além da vitória no campeonato, o Al-Ula venceu os Saudi Games (uma espécie de ‘Jogos Olímpicos’ da Arábia Saudita), o que aconteceu também pela primeira vez na história do clube.
“Foi um boa época”, reconhece João Lino, que, inicialmente, até declinou o convite. Conta que tinha acabado de se mudar para a casa nova e regressado ao Burinhosa, mas, como diz a sabedoria popular, “a almofada é boa conselheira” e, no dia seguinte, alterou a decisão. “Percebi que estava a passar um comboio gigante e que eu ia deixá-lo passar sem o apanhar”, confessa o técnico, que tem mais um ano de contrato com o Al-Ula.
De regresso a Portugal para gozar um período de descanso, João Lino diz que a temporada que passou na Arábia Saudita se revelou uma experiência “bastante interessante a vários níveis”, a começar pela oportunidade de trabalhar com um treinador de “grande qualidade como é Mário Silva”.
Por outro lado, o campeonato saudita está a contratar atletas que são “grandes nomes mundiais” do futsal – o brasileiro Douglas Júnior e português Pany Varela já jogam no país e Dyego Zuffo, considerado o melhor jogador do mundo em 2024, deverá também rumar à Arábia Saudita – e a recrutar mais treinadores “de qualidade”. “É um país gigante – realizei 31 viagens de avião e apenas três de autocarro para os jogos -, com boas infra-estruturas e condições para continuar a crescer.”
Experiência de selecção
Esta é a segunda experiência do técnico, especialista em treino de guarda-redes, no Médio Oriente. Entre 2016 e 2021, esteve nos Emirados Árabes Unidos, onde conquistou nove troféus, três deles de campeão nacional, um ao serviço do Al Ahli e dois pelo Al Dhafra, tendo ainda participado em ligas dos campeões da Ásia. No último ano, representou a selecção dos Emirados Árabes Unidos. “Orgulhou-me bastante, por representar a confiança e o respeito que estavam a ter pelo meu trabalho em prol da evolução do futsal no país”, confessa o técnico, de 40 anos.
João Lino começou a sua ligação ao desporto pelo futebol. Aconteceu na ilha Terceira, onde a família viveu 16 anos. Foi ainda aí que experimentou o futsal. “Foi paixão imediata”. Inicialmente, era guarda-redes, mas acabou por passar para fixo, uma posição que, segundo diz, lhe permitiu desenvolver competências ao nível da “estratégia e organização de jogo”.
De regresso ao continente, voltou para Ourém. Juntamente com um colega propôs à direcção do Juventude Ouriense a criação de uma secção de futsal, desafio que foi aceite, tendo representado o clube durante quatro anos. Entretanto, ingressou na Universidade da Beira Interior, onde se licenciou em Ciências do Desporto e foi convidado a treinar as equipas de futsal da instituição. Nessa fase, descobriu também o interesse pelo treino específico de guarda-redes, incentivado pelos professores Arménio Coelho e Bruno Travassos, visto que era uma área com poucos profissionais. O gosto “foi imediato”.
Passou depois pelo Sporting da Covilhã, pelo Fátima, este enquanto tirava o mestrado em Educação Física, e pelo CCRD Burinhosa, onde estava quando recebeu o convite para a Arábia Saudita. “O meu percurso sempre teve por base de decisão a importância de os treinadores terem um conhecimento maior das várias áreas de treino. Por isso, fui aceitando desafios alguns em detrimento do factor financeiro, mas sempre com o foco de acrescentar conhecimento, experiência e novas ideias ao meu trabalho”, diz João Lino, que espera “um dia vir a ser treinador principal”.