Não gosta de falar na primeira pessoa, porque considera “não fazer nada de mais”, mas acaba por aceder a partilhar o seu testemunho como voluntária. Palmira Peixoto vai já a caminho dos 95 anos e é um dos elementos da Legião de Maria, uma organização internacional de leigos que este ano assinala 70 anos de actividade na Diocese de Leiria-Fátima.
“O que fazemos? Fazemos visitas a lares, centros de dia ou hospitais. Damos conforto, fazemos companhia e ouvimos. Levamos o nosso sorriso e uma palavra amiga”, conta Palmira Peixoto, que entrou para a Legião de Maria já depois dos 80 anos, após a morte do marido, com quem esteve casada durante mais de 60 anos. “Passei por uma fase complicada. Foram quatro anos difíceis em que não me apetecia sair de casa nem enfrentar as pessoas. Certo dia, convidaram-me para a Legião de Maria e o meu filho incentivou a aceitar. Foi o melhor que fiz”, recorda.
A partir daí, Palmira passou a ter um motivo extra para sair de casa e deixar o sofá, que considera “um inimigo” dos mais velhos. “Sabe, acomodamo-nos ao conforto e isso acaba por nos levar mais para baixo”, justifica a mulher, que, praticamente todos os dias tem actividades relacionadas com a Legião de Maria.
[LER_MAIS]Entre a reunião semanal do grupo de voluntários com o pároco responsável e a tarde de quarta-feira passada no Lar Nossa Senhora da Encarnação, onde, além da conversa com os utentes ajuda a dinamizar a recitação do terço, Palmira faz, à semelhança das suas companheiras, visitas ao domicílio a pessoas que vivem sozinhas.
“Levamos a nossa companhia e, se for necessário, fazemos alguns recados, como ir à farmácia ou acompanhar a uma consulta. Se percebemos que têm outro tipo de carências, encaminhamos para as outras instituições, porque não podemos dar bens materiais”, conta a voluntária, que ainda arranja tempo para se “meter no Mobilis” e ir visitar amigos e desconhecidos ao lar dos Marrazes.
“Temos a obrigação de ajudar o próximo”, afirma Palmira Peixoto, nascida na zona de Viana do Castelo, criada na Nazaré e com 52 anos de vida em Angola, onde o marido, um “leiriense de gema”, trabalhou para a Companhia Angolana de Diamantes.
O regresso a Portugal aconteceu ainda antes do 25 de Abril e foi logo aí que teve a sua primeira experiência de voluntariado na delegação de Leiria da Cruz Vermelha, onde o marido integrou a Direcção.
“Tínhamos uma ambulância, mas, nesses tempos, nem dinheiro havia para se pagar a um motorista. O transporte de doentes era assegurado por nós”, recorda Palmira, que promete continuar a esse trabalho “enquanto tiver genica”. E, genica, é coisa que, para já, não lhe falta, não obstante os 94 anos.