Nos próximos três anos, os cientistas vão andar de olhos postos nos tubarões e nas raias que habitam os mares do Arquipélago das Berlengas. Em causa está o projecto FindRayShark, à luz do qual serão desenvolvidas técnicas inovadoras para monitorizar as populações.
Sofia Henriques, investigadora do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e responsável pelo projecto, salienta que os objectivos desta pesquisa – que resulta de contributos de cientistas de Lisboa, Açores, Vairão e da Justdive, escola de mergulho de Peniche – é monitorizar as espécies sem as perturbar, ao contrário do que sucede com as práticas intrusivasde captura ou marcação. E, por outro lado, visa ainda propor medidas de conservação concretas.
Quanto às técnicas de monitorização, consistem no uso de câmaras subaquáticas remotas com isco e na recolha de ADN ambiental, isto é, vestígios de ADN que os organismos deixam no ambiente ao passar.
“A técnica irá ser primeiro testada nos Açores, e posteriormente será aplicada na Área Marinha Protegida das Berlengas, onde o conhecimento sobre estas espécies mais vulneráveis (raias e tubarões) é muito escasso e por isso não existem medidas de conservação dirigidas”, explica Sofia Henriques.
“Nas Berlengas iremos utilizar estas duas técnicas para adquirir conhecimento sobre as espécies de raias e tubarões existentes, as suas abundâncias e áreas mais críticas (como por exemplo: agregação, alimentação e crescimento de juvenis.
[LER_MAIS] Posteriormente, serão propostas medidas de conservação dirigidas a uma maior protecção destas espécies e também sugestões de boas práticas para cada tipo de actividade na área”, expõe a cientista.
Sofia Henriques refere que “existe provavelmente mais de uma centena de espécies de tubarões e raias na costa portuguesa – o número exacto é desconhecido – e muitas delas frequentam normalmente habitats semelhantes aos que encontramos nas Berlengas”.
Nota ainda que “algumas zonas das Berlengas eram conhecidas como importantes áreas de agregação para certas espécies”, mas que “se suspeita terem diminuído drasticamente devido à pesca excessiva no passado”.
Através de um método “inovador e pouco nocivo” de monotorização, “esperamos conseguir não só identificar as espécies como também os habitats mais críticos para a sua sobrevivência”.
Uma coisa é já certa para os investigadores. Mais ameaçador é o Homem para estas espécies do que o inverso. Quer por via da pesca dos indivíduos em si, quer por via da sobrepesca das espécies de que eles se alimentam, e até pela degradação de habitats importantes no seu ciclo de vida.
E uma vez que os tubarões e raias que “passam frequentemente na costa continental portuguesa, comem essencialmente peixe, moluscos e crustáceos, os humanos estão muito longe de ser uma preferência”, realça a investigadora.