Foi a bordo de um Citroen AX, a caminho do estágio curricular na Nazaré, que César Moreira debateu com outro colega muitas das ideias que deram origem à Tum’Acanénica. “Íamos dar aulas, mas não íamos a falar dessas aulas, íamos a falar da tuna”, recorda, no ano em que a tuna celebra o 30.º aniversário.
O traje de vinhateiro, o símbolo desta tuna e muitas outras decisões foram debatidas durante estas viagens e decididas nas primeiras reuniões deste grupo de estudantes que procurava aumentar a diversidade de tunas em Leiria.
Uma das decisões mais marcantes foi o nome. A primeira sugestão foi Lis Tuna, mas, na oralidade, acreditaram que rapidamente seria aproveitada para denegrir o grupo. Inspirados pelo curso de educação física, que já utilizava uma caneca ao peito, falou-se na possibilidade de misturar tuna académica com tomba a caneca, o que resultou em Tum’Acanénica. “Foi a risada pegada, não houve necessidade de ir a votação”, conta o fundador que, durante muitos anos, foi o dono da pandeireta.
O actual professor destaca o papel desta tuna na formação musical de cada aluno, uma vez que a maioria dos jovens ingressou no grupo sem saber tocar qualquer instrumento. Os mais experientes ensinaram os novatos, algo que, 30 anos depois, ainda acontece.
Sandra Talhão é a actual magister e há sete anos que pertence à Tum’Acanénica. Viu várias gerações a passar pelas salas de ensaio e lamenta que a adesão não seja tão forte como há 30 anos, quando chegaram a ter quase 50 membros. “Somos à volta de 15 ou 20 que estamos sempre. Sentimos muita dificuldade em atrair os caloiros e estudantes”, refere a responsável pela tuna da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, do Politécnico de Leiria.
Quando caracteriza o grupo, Sandra Talhão fala em “família”. “Funciona como um escape do stress ao final do dia. Mesmo os estudantes que são de longe e não têm cá família encaram a tuna como uma segunda família. É isso que somos e tentamos passar. Estamos juntos a tocar e fazer música e funcionamos como consolo quando é preciso.”
Não há descrição que explique o que se vive a cada momento, garante, mas na “Real Festa – Festival de Tunas Académicas a D. Dinis, o Trovador”, será possível testemunhar este ambiente.
A Real Festa assinala a sua 25.ª edição, onde o tradicional concurso de tunas ficará para segundo plano, uma vez que estão convidadas as tunas da família da Tum’Acanénica.
O festival começa hoje, 16 de Maio, com uma noite de serenatas na escadaria da Sé de Leiria, com a participação da Instituna – Tuna Mista do Politécnico de Leiria. No dia seguinte, a família da Tum’Acanénica reúne-se no Teatro José Lúcio da Silva, a partir das 21:30 horas: as irmãs Augustuna e a Tuna de Veteranos de La Coruña e a afilhada TomaLáTuna, da ESAD.
Este festival terá ainda a participação dos Jogralhos – Grupo de Jograis da Universidade do Minho e da Sociedade Filarmónica de São Cristóvão da Caranguejeira. “Queremos passar a mensagem de que, em 30 anos, conhecemos imensas pessoas e fizemos história com várias tunas”, aponta a responsável, que convida o público a estar presente no evento.