Os turistas estão cada vez mais exigentes e informados, procurando propostas que lhes proporcionem experiências novas, em locais pitorescos, onde a identidade dos destinos se mantenha igual a si própria. Mas será necessário planeamento, visão estratégia e trabalho de cooperação entre os vários agentes, para assegurar que esses recantos, uma vez visitados, continuem a preservar o ambiente, o carácter das suas aldeias e as suas gentes.
Será este o equilíbrio que é preciso garantir também na região de Leiria, e nos territórios de baixa densidade em particular, onde alguns projectos prometem ser novos motores de desenvolvimento. E a Estação Náutica de Pedrógão Grande, na albufeira do Cabril, que se candidata a certificação junto do Fórum Oceano – Associação da Economia do Mar, poderá ser um exemplo de sucesso.
Estas foram algumas das principais ideias lançadas no VII Fórum Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL), organizado pelo JORNAL DE LEIRIA e pela CIMRL, encontro que decorreu na passada quinta-feira, na Casa Municipal da Cultura de Pedrógão Grande, sob o mote Turismo sustentável: promover e valorizar.
Se dúvidas houvesse, a Covid-19 veio frisar que a segurança e a saúde pesam nas escolhas dos turistas. Assim que este sector começou a reagir pós confinamentos, a região Centro do País e a CMIRL deram sinais de grande retoma, e Pedro Machado, presidente do Turismo Centro de Portugal, espera que [LER_MAIS]2022 possa superar o grande ano de referência que foi 2019, quando a CIMRL registou cerca de 550 mil dormidas. Porque a pandemia não destruiu nem os recursos naturais nem os equipamentos que já existiam neste território: “toda essa diversidade continua cá”.
Em representação da Terras de Sicó, também Pedro Pimpão realçou que esta associação está empenhada em fazer do turismo um motor de desenvolvimento desta zona. Um turismo que tem de assentar em ofertas diferenciadoras, frisou Pedro Pimpão. “Fruto da sangria demográfica, temos de criar outros atractivos neste território”, defendeu. “Os destinos têm de ser genuínos. A mais-valia do nosso turismo é ter as pessoas, os seus usos e costumes”, expôs o autarca de Pombal, para quem é importante continuar a captar público português.
Apostar no mercado interno “tem de ser uma das nossas aprendizagens com a pandemia”, salientou Pedro Pimpão. Gonçalo Lopes, presidente da CIMRL, está igualmente convicto de que o turismo pode ser um dos grandes motores de desenvolvimento desta região. “Querêmo-lo especializado, para nichos de mercado, capaz de criar emprego e que respeite o ambiente”, declarou.
Pedro Machado também observou que a diversidade da região Centro, que é multicultural e multiproduto, não é um constrangimento. Trata-se de um autêntico “país dentro do País”, que tem todas as condições para ser, num primeiro momento, “a primeira região turística entre os portugueses”. É necessário continuar a afinar o foco da promoção da região, sendo que não será o turismo de massas, mas o turismo diferenciado, de nichos, que se pretende captar. Nada mais errado do que dizer que determinados locais estão condenados, pois é precisamente em zonas de interior que florescem produtos inovadores como o dark sky e aonde têm acorrido cada vez mais nómadas digitais, exemplificou Pedro Machado.
“A paisagem que mais queremos valorizar é aquela que mais queremos vender”, constatou, por seu turno, António Henriques, presidente de Câmara de Castanheira de Pera, que alertou para um dilema. Por um lado, acreditamos que a natureza é um produto muito procurado e pretendemos potenciá-la turisticamente. Por outro lado, se não a valorizarmos de forma responsável, sustentável, corremos o risco de saturar a paisagem e esgotar os seus recursos.
Foi também esse o repto deixado por António Poças, presidente da Associação Empresarial da Região de Leiria. Se um território passar a captar demasiadas pessoas deixa de ser sustentável, considerou o empresário, exemplificando com o que sucedeu aquando da criação de alguns passadiços no País. É preciso saber lidar antecipadamente com o sucesso que alguns projectos turísticos possam vir a ter, realçou.
Cooperação é palavra de ordem
“Se não consegues medir, não consegues gerir.” Foi com esta máxima que Francisco Dias, professor da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar e coordenador do observatório de turismo, nascido no Politécnico de Leiria, justificou a necessidade de cruzar inúmeros dados entre agentes públicos e privados, a fim de conhecer exactamente o comportamento de cada produto turístico e, dessa forma, saber como promovê-lo. Mas este trabalho, frisou, só pode dar frutos com a participação de todos.
António Lopes, presidente da Câmara de Pedrógão Grande, constatou também que a sua região é “rica de natureza, saberes e sabores, cultura, gente afável e acolhedora”, um produto para o qual existe mercado e que funcionará tanto melhor quanto maior for a cooperação entre vários parceiros.
Criar um instrumento de eficiência colectiva, no quadro do sector turístico, é ainda o objectivo da consultora Quaternaire Portugal, que, em articulação com a CIMRL, quer criar condições que reforcem a escala dos investimentos e aumentem o seu impacto no mercado. Pretendem estruturar a oferta turística neste território, com projectos sustentáveis, com recursos humanos mais capacitados, e isso pressupõe também trabalho de cooperação entre sector público e privado. Para já, está a ser realizado um diagnóstico, que permite conhecer todos os activos da região de Leiria, que permitirá depois elaborar uma estratégia para o turismo para a próxima década, informou Elisa Pérez Babo, em representação da consultora.
“Numa região com 100 municípios, não seria possível nem racional financiar todos os projectos individualmente”, considerou por sua vez Jorge Brandão, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, que também alertou para as virtudes de procurar instrumentos de financiamento que possam apoiar produtos de vários concelhos. As aldeias históricas, as aldeias de xisto ou as termas são bons exemplos de promoção em rede, apontou. “A capacidade de nós afirmarmos produtos tem a ver com a forma como nos organizamos”, destacou.